Meu

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— Por que você colaboraria para um evento como aquele? — Foi a primeira pergunta que saiu de minha boca no momento em que retirei a máscara, ainda dentro do carro, aproveitando-me da, até o momento, falta de uma venda em meu rosto, que sabia que logo seria posta.

— Porque é preciso para manter as aparências. — Seu tom era calmo, sempre calmo, sem vida.

— Que porra de aparência? São vidas humanas ali, Leo! Existem pessoas sendo vendidas e você está ajudando a financiar isso!

Não queria pensar de onde poderia estar vindo o dinheiro, não cabia a mim saber, ou talvez eu simplesmente não quisesse descobrir.

— Eu sei disso, droga! — Ele enfim perdeu a calma, um lampejo de reconhecimento cruzando meu rosto quando ele gritou. Essa versão eu consigo reconhecer.

Eu quero que ele grite, quero que ele perca a calma, quero que faça qualquer coisa que ainda me lembre que ele está vivo, que me diga que ele pode ser ele novamente, mesmo que isso seja uma mentira. Talvez ele esteja certo, talvez eu realmente seja viciado na ideia de ser capaz de o amar.

— Não estou fazendo isso porque quero, Henry — Ele disse por fim, quase sussurrando se encosta no estofado do banco do carro, um Aston Martin, modelo de última linha, de pintura cinza —Faço porque é preciso.

— Precisa para que? — Consigo notar a tensão em seus músculos, seus ombros se movendo a cada respiração, enquanto rudemente ele solta a gravata que usava, usando apenas uma das mãos.

— Os homens lá dentro possuem algumas informações que me são interessante, Rafael —O rapaz que interagiu conosco mais cedo —Principalmente.

Pela reação de Leo quando aquele homem estava ao nosso lado, eu nunca imaginaria que ele estaria atrás de algo que ele possui, ou ao menos estava tentando o agradar.

— Eu fodi com tudo —Foram as palavras que saíram de seus lábios após um curto momento de silêncio.

Rafael se aproximou logo depois que o leilão havia terminado, era um homem baixo, com barba por fazer e terno caro, segurando duas guias em sua mão direita, enquanto atrás dele vinham duas pessoas que usavam máscaras como as minhas. "Submissos".

—Dominic! —Ele saudou Leo alegremente, como se o conhecesse de longa data, embora a expressão dele continuasse neutra. Esse não era o caso — Que prazer enorme finalmente te conhecer. Seu nome é uma lenda no meio da comunidade.

Ele exibiu um sorriso amarelo, olhando nos olhos de Leo como se tentasse ler sua expressão. Se eu pudesse falar, o avisaria que isso é impossível agora, talvez, há sete anos, ele conseguisse.

— Rafael Casablanca — Leo se esforçou para sorrir — sua língua se enrolando nas notas finais do nome do homem, um veneno sutil escorregando por elas —, mas sinto que ele faz tanto isso que não saberia dizer se é forçado ou não se já não o conhecesse de antes. —Há que devo a honra de sua presença?

— Apenas vim cumprimentar um amigo, um novo amigo — Ele puxa um pouco as guias, fazendo os que estavam atrás dele se aproximarem —Que falta de educação a minha, nem mesmo te apresentei meus submissos. Renata e Gabriel —Ele meneia na direção deles, como se eles não fossem importantes ou não estivessem ali. Os dois não fizeram nenhum movimento, mantendo a cabeça baixa.

Leo permaneceu em silêncio, mesmo que fosse um pouco óbvio que o tal Rafael queria que ele fizesse o mesmo.

— Me surpreende que tenha vindo com um submisso, ao invés de uma submissa — Rafael sorri, um sorriso torto que estranhamente ressalta suas feições, em algo que deveria se aproximar de carismático, mas que apenas me soa...bizarro — Pelo que sua fama lhe precede, sempre esteve acompanhado da mesma submissa. Bonita, pelo que me disseram.

Onde Ella está?Onde histórias criam vida. Descubra agora