Conto 6 - Coração corrompido.

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Brendan

O Clã Veliant estava silencioso. Todos os vampiros que viviam sobre minhas ordens deveria estar dentro daquelas cavernas, proibidos de sair naquela noite. Estava chovendo. Era muito mais do que apenas uma tempestade comum. O tempo parecia ter se revoltado. E eu tinha a sensação de que aquilo estava acontecendo por todos os territórios.

—Milorde? —Um vampiro entrou na sala onde eu estava, encarando as paredes de vidro, que davam para uma varanda, observando a tempestade violenta lá fora, assim como os raios que cortavam o céu.

—Sim? —Depositei o cálice de sangue na mesinha ao lado da poltrona, sem me virar para encara-lo. Tinha a sensação que já sabia qual era a noticia.

—Nossos informantes revelaram que todas as tochas do Clã Arteryon foram apagadas. A comemoração se iniciou. —Afirmou, e eu me ocupei em balançar a cabeça positivamente, abrindo um sorriso para toda aquela paisagem. —Pelo que disseram, senhor, é um menino.

Sortudo, pensei. Sempre achei que Lorde Arteryon andava com a sorte no bolso. Que ele conseguia controla-la e molda-la para conseguir o que queria. Gostaria de ter um pouco daquela sorte. Não me envergonhava de pensar que sentia um pouco de inveja daquele macho, com sua parceira e agora um filho.

—Quando amanhecer, o baú de presentes deve ser entregue no Clã Arteryon, em nome de Lorde Arteryon, sua parceira e seu herdeiro. —Afirmei, gesticulando com a mão para que o vampiro saisse, me perguntando se aquela tempestade toda tinha alguma coisa a ver com aquele herdeiro que tinha acabado de nascer. Eu nunca tinha presenciado uma chuva tão forte assim.

—Mandando presentes para seus inimigos. —Escutei uma voz feminina murmurar da escuridão, comprimindo meus lábios contra a onda de desconforto que percorreu meu corpo, me deixando inquieto. —Ou isso tudo é pra agradar a parceira de outro macho?

—Lady Arteryon é certamente uma rainha. Poderia muito bem ser comparada com uma deusa. —Falei, pegando aquele cálice de sangue novamente, precisando beber para espantar a sensação ruim. —Isso é um consenso entre todos os vampiros. Até mesmo entre aqueles que não gostam do Clã Arteryon. Mas não estou interessado em desertar a ira de um macho vinculado. Lorde Arteryon já provou que destruiria qualquer clã que ousasse mexer com a parceira dele.

—Eu não estava me referindo a eles. —A voz dela se tornou mais próxima, até a fêmea de cabelos brancos e pele negra surgir da escuridão. Os cabelos estavam presos em longas tranças, que formavam quase uma coroa na sua cabeça, com o tipo de penteado que ela havia feito.

O puxão na minha mente me deixou rígido no lugar, como se alguém estivesse enfiando alguma coisa na minha cabeça. Forçando-a a estar ali dentro contra a vontade. O laço de parceria deveria ser algo belo e único, mas pra mim era como uma maldição, que eu simplesmente não conseguia me livrar. Era desconfortável e muitas vezes doloroso. A existência dele me deixava enojado.

—Kailler, nós já conversamos sobre isso. —Afirmei, tentando conter a frustração na minha voz, enquanto encarava aquela tempestade, não querendo olhar pra ela e ver o que ela significava.

Um fracasso. Um laço de parceria errado. Algo que não deveria existir. Eu deveria ama-la, mas em vez disso simplesmente não consigo suportar estar no mesmo lugar que ela. Aquilo causava uma dor profunda no meu coração, porque eu sequer conseguia pensar naquele laço, sem sentir o desconforto escorrendo pelo meu corpo, como veneno.

—Não conversamos, não. Você se recusa a falar comigo. Você se recusa a olhar pra mim. Tudo por culpa daquela fêmea. —A voz dela veio cheia de ódio, como se aquilo fosse uma grande ofensa. —Você se recusa a se deitar comigo e encaixar o laço, enquanto ela deve estar na cama do parceiro agora, deixando ele a tocar como você nunca mais vai fazer!

Realeza de Sangue Mortal / Vol. 3.5Onde histórias criam vida. Descubra agora