#PRATODOSVEREM 👁️
Cabeçalho de cor café com leite. Ao meio, tira retangular pontilhada por um contorno azul. Dentro dela lê-se "Capítulo 4" em roxo. Acima dela, no canto superior esquerdo, um gatinho de duas cores: bege e laranja.
A porta da secretaria foi aberta para mim e a mulher então permitiu que eu passasse antes dela para a parte de fora. Estava tão apreensiva que nem cheguei a reparar na estrutura do local, porque o dèja-vu do qual lembrei agora há pouco certamente me prendeu numa horrível lembrança. Este espaço, todo ladeado por azulejos brancos na parte de baixo e azuis na parte de cima tinha quadros de avisos aqui e ali, desenhos emoldurados de casas e prédios, desenhos a grafite, lixeiras de coleta seletiva e porta-copos descartáveis.
O lugar era bem grande, o que significava que havia como eu fazer o que pretendia. Nós duas visitamos a sala da Sandra, o refeitório, a biblioteca e a sala dos professores. E então disse que depois me mostraria o resto.
- Como eu devo te chamar?
- Ora. Detesto formalidades, então me chame pelo apelido - estendeu a mão que não estava detrás das costas - Sandrinha.
- Ok. Assim é ótimo.
- Ora. Não fique nervosa. A pior parte já passou.
- Ah, sim, que bom! - Soltei o ar.
- Só pareço carrasca em apresentações formais. Fora da minha sala, aquela postura se desfaz. Te assustei, né? - Falava e andava ao mesmo tempo.
- Eu tinha medo da rejeição. Não da senhora. Quer dizer, de você, Sandrinha. - Soltei uma risada após um tempo. - Aliás, cadê a Éden?
- Ela já deve ter retornado ao posto. Perdão pelo inconveniente, senhorita. Eu nunca vi Éden tão nervosa desde que vim parar aqui... - Negou com a cabeça. - Me conta... - Me tocou no antebraço: - Tem alguma ideia da reação dos outros professores? Algum receio?
- Sim, não vou negar. Mas como vou começar o treino, espero superar isso o mais rápido possível. - Tentei firmar minha resposta.
O que pode dar errado ainda, Amali?
Isso é apenas um teste, né? Não é uma vaga, uma vaga...
- Se sentirá segura se começarmos os testes na semana que vem? Para tentar se adaptar e decidirmos se a senhorita fica ou vai...
Não hesitei mais nem um minuto. O desespero de admitir que eu poderia perder essa única chance gritava para eu deixar de ter medo. Ele não tinha que me dominar assim. Não se eu não fosse deixar. Dessa vez, não.
Ok, é só um teste. Você quis tanto ter um emprego, Amali... O que pode perder?
O meu ânimo? - Respondi para mim mesma, em minha cabeça. Posso estar me iludindo? Sim. Mas agora, ou você recusa ou morre na praia e não segue com isso martelando no peito. Essa vontade.
Sim. Eu virei para os testes.
- Sim. Eu virei para os testes. - Minha boca e meu cérebro responderam juntos.
Afinal, era o que eu queria. Todavia seria arriscado. Arriscado demais. Como um buraco negro me engolindo. E algo me impulsionando para fora dele. De repente, eu não vi mais nada que não a mão de Sandra apertando a minha.
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Amali
Não FicçãoSendo surda oralizada, Amali tem um sonho guardado no coração: ela gostaria de ser professora do Ensino Fundamental, mas não tem sorte. Ela já concluiu a faculdade de Letras - Português e se sente totalmente preparada para ensinar, mas, em sua busca...