"Sem sentido" era essa a definição do que era a vida para Aurora. Procurava e não encontrava sua vocação e isso lhe fazia doer o coração.
"Ache sua vocação, minha filha; você precisa aprender qual o seu caminho".
Era isso que sempre dizia sua querida vó Teresa.
Mas Aurora não encontrou esse tal caminho. Médica? Temia sangue; Professora? Não tinha jeito de dialogar; Contadora? Odiava calcular; Bióloga? Temia insetos.
Em sua cama, ao acordar, assistia a um filme em sua mente; diante de seus olhos, dentro da mente, ela via uma vida miserável pela frente, temia morrer sem conseguir sustentar-se.
"Por quê!?" Pensava, "Queria nunca ter nascido!" Era seu mantra diário.
"Penso em acabar com tudo" pensava "Amo minha mãe porém".
De bruços, mais um dia, abriu seus olhos, e chorou. "Por quê?" Virou-se de barriga em direção ao teto "Saudades, vó Teresa", mais uma vez chorou.
Estática, seus cabelos castanho-escuros esparramados no travesseiro; sua camisola branca, folgada, derretia-se esparramando-se no colchão.
Olhou o relógio com moldura azul-marinho que sua vó lhe dara: 7:00 da manhã.
"Mãe!?", não houve resposta alguma, talvez sua mãe teria ido ao trabalho; saía normalmente à 7:30, por que não a respondeu então?
Passou as duas mãos no rosto e puxou toda a pele facial fazendo aparecer a mucosa abaixo dos olhos.
Suspirou. Pensou em quem seria se tivesse um pai.
Não, não possuía um pai: Abandonara-lhe antes de nascer, partira e deixara uma jovem grávida com seus pais.
"Por que, Deus?" Perguntava-se.
Permaneceu na cama por mais quinze minutos, olhou o relógio, e viu o óbvio: 7:15.
As cortinas então tremularam e ergueram-se no ar deixando entrar luz matinal junto com uma brisa gélida encrustada de cheiros floris como jasmins, rosas, lírios, e flor de mangueira.
"Pelo menos tenho as flores". Aurora amava flores, e quando estava triste, inalava alguns perfumes floris do jardim. Sua vó amava-as também; era um fluxo de gostos.
Esticou-se toda em seu leito, inspirou, explosão de dopamina.
"Perfumadas, não?"
Adrenalina derramada em seus vazos sanguíneos, de onde poderia ter vindo tal sentença?
"Mãe!?" Vácuo.
"Socorro, Deus". Disse, sentou-se na cama, trouxe suas pernas para si e abraçou-as. Mãos e pés gelados.
"Não temas, Aurora. Levante-se"
Uma voz aveludada tocou seus ouvidos.
Obedeceu-a: Levantou-se lentamente e caminhou vagarosamente com os braços abertos como quem anda equilibrando-se em uma corda."Olá?" Olhou ao redor. Ninguém.
"Espere" Mais uma vez o veludo sonoro manifestou-se.
Foi quando mais uma vez o vento entrou por entre as cortinas, e junto, vieram algumas pétalas de rosa que foram rodopiando em sua frente. Enquanto mais Aurora se amedrontava e ficava estupefata com tudo isso, mais pétalas entravam e forvam um redemoinho de milhares de pétalas, era um espetáculo fabuloso.
Como que incenso houvesse sido queimado, todo o quarto foi tomado pelo perfume das rosas.
E pouco a pouco as pétalas foram ficando mais unidas enquanto rodopiavam, e uma forma surgia: Um jovem aparecia em meio aquele tufão floril.
"Aurora!" Ele exclamou
"Si- Sim? Sou eu mesma..." Disse sem segurança, tremulando a voz.
Nem ao menos percebeu como haviam sumido ou para onde tinham ido as pétalas rosadas.
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Aurora
PertualanganSem sua queria vó, sem seu pai, se sentindo sem destino, medo do futuro, mas ocorre uma reviravolta: Aurora nunca mais será a mesma.