Night Sky [Kagehina]

04 - O álcool não induz a coisas boas!

— Ei, seu idiota! Você pode acordar?!
Houve um estrondo suave, um som de almofadas se remexendo e colidindo. O resultado dessa bagunça era que, basicamente, Hinata havia trazido Kageyama para o seu apartamento acidentalmente, por influência do álcool. Sim, por mais que não pareça, Hinata tem uma resistência muito baixa ao álcool e isso o torna vulnerável toda vez que ingere (ou não tão vulnerável assim). Ele acabou prendendo Kageyama em seus braços e não soltando mais, não se sabe de onde ele tirou essa baita força!Agora estavam ambos esparramados no sofá. O moreno relutava muito, querendo se livrar a todo instante, mas nada parecia ser funcional.
— Hinata, acorda! — Kageyama se contorcia cada vez mais, mas não parecia que se livraria disso.
Por outro lado, Hinata estava inconsciente, movendo-se com base nas verdades do seu subconsciente! Sabe aquele famoso fato que quando estamos bêbados, fazemos tudo que queremos e não temos vergonha? Essa situação se aplica muito bem por agora.
— Ei, Hina- — Uma terceira voz ecoou pelo apartamento, não houve barulho de portas abrindo ou algo do tipo, afinal, Kageyama sequer conseguiu fechar a porta. Aquele que acabara por entrar era Nishinoya, que por sinal estava com o celular esquecido de Hinata. A visão cujo teve foi um tanto embaraçosa, dois homens se abraçando tão afetuosamente (ou será que não?)
— Eu tô incomodando? Desculpa, eu posso ir embo-
— NÃO! Você pode me ajudar?! Ele não quer me soltar de jeito nenhum! Esse imbecil tem uma força do caramba. — Kageyama pareceu tão furioso que poderia eclodir a qualquer instante.
— ... Claro. — Nishinoya engoliu seco e aproximou-se de ambos, livrando Kageyama dos braços de Hinata e em troca, o dando uma almofada para se agarrar.
— Peço desculpas por isso, o Hinata não fica bem quando tá bêbado...
Kageyama sequer deu ouvidos, deu suas costas e foi rumo à saída, fechando a porta com brutalidade.
— Meu Deus Hinata, quando você acordar... você vai ter a pior decepção do mundo... quem mandou agarrar logo o Tobio?! Se você não perder o emprego, vai ser muito mal falado... — Noya coçou a cabeça com um ar de preocupação e então, apenas fechou a porta e retornou à sua própria casa.

Na manhã seguinte Hinata acordou com o canto dos pássaros, estava largado em seu sofá fedendo a álcool, o odor alcoólico havia preenchido o apartamento inteiro em apenas uma madrugada. O ruivo sentia uma dor de cabeça descomunal, talvez fosse a famosa ressaca.
- Que horas são...? - Ele se contorceu levemente no sofá, seus olhos estavam pesados e se recusavam a abrir, quase como se fosse uma luta enorme mantê-los abertos. Ficou alguns minutos processando e finalmente teve forças para se colocar de pé e procurar seu telefone, que estava sobre a mesa de centro. Catou o aparelho e se sentou no sofá, havia algumas mensagens de Nishinoya, apenas coisas como "você tá ferrado!" Ou "você ficou maluco?", ele estava falando de algo que Hinata não se lembrava, mas que o deixou preocupado.
- Do que diabos ele tá falando? Eu acabei de acordar e tá tudo normal...
Por precaução e também por preocupação, Shouyo ligou para o seu amigo e assim que ele atendeu, questionou o motivo das mensagens, apenas para ouvi-lo gritar no telefone.
- Você não se lembra de nada do que aconteceu na noite passada?!!!
- Você vai acabar me deixando surdo, sabia? E não, eu não lembro.
- Você bebeu muito e mal conseguia parar em pé, então o Kageyama se ofereceu pra te levar pra casa e aí você agarrou ele no sofá e não soltou mais! Ele estava tão furioso que eu vi fumaça sair da cabeça dele!
- E-EU FIZ O QUE?! - Ele simplesmente entrou em choque! Isso não podia ser verdade, ele arruinou toda a sua relação com seu ídolo, logo agora que tinha tudo pra ir bem! Agora Kageyama o odiava e ele tinha certeza que poderia perder o emprego por causa disso, agora sim Hinata entendeu a gravidade de toda a situação! Estava mais ferrado do que nunca...
- Você vai ter que dar um jeito de resolver essa situação! Sério, como você é idiota, você sabe que não pode com álcool e mesmo assim enche a cara.
Nishinoya estava apenas piorando a situação e Hinata não tinha muito tempo, era domingo e ele nem sequer sabia o horário! No dia seguinte teria que dar de cara com todos, na verdade, ele nem sabia se Kageyama havia espalhado isso.
O ruivo deu um suspiro e desligou a ligação, o primeiro a se fazer seria tomar um belo banho! Se lavou até que todo os resquícios do odor alcoólico saíssem de seu corpo, se tornou uma pessoa restaurada após a ducha.
Entrar no seu quarto e ver as várias figuras de Arcano faziam o pesadelo voltar à sua mente, tudo fazia com que ele lembrasse de Tobio... ele iria acabar enlouquecendo assim!
Shouyo colocou roupas secas e calçou uma pantufa, estava quase disposto a ir até a porta de Kageyama se desculpar pelo ocorrido, por mais que seu corpo não quisesse ir, sua mente estava decidida a ir! Estava trêmulo, afinal, Kageyama já não era dos melhores caras para conversar, agora imagina resolver um mal entendido! O pior que pode acontecer é Hinata ser acusado de assédio, perder o emprego e ir para a cadeia! ou ser agredido.
- Hinata, você tem que fazer isso! Você precisa resolver as coisas se quiser manter seu emprego! - Deu alguns tapinhas no próprio rosto e forçou seu passo para fora de casa, o apartamento de Tobio era literalmente do lado, então não precisou caminhar muito.
De pé na frente do apartamento dele, lá estava o ruivo, rígido como madeira! Com muito esforço sua mão se chocou contra a porta e deu dois toques.
Alguns segundos depois a porta se abriu e Tobio pôs as caras para fora, encarando seu parceiro de trabalho com desdém.
- Já não basta o escândalo que fez ontem, ainda tem coragem de vir na porta da minha casa? O que você quer?! - Ele estava realmente furioso, parecia que a qualquer instante ele poderia bater a porta e entrar para dentro.
- Eu queria me desculpar! O Nishinoya me contou o que aconteceu... sério, desculpa, eu não tava consciente, eu nem me lembro do que aconteceu! Me desculpa mesmo! - Hinata se curvou várias e várias vezes.
- Você é um irresponsável! Quantos anos você tem? Falta maturidade pra você! Se sabe que fica louco quando bebe, então por que bebe?! Eu posso muito bem contar aos outros o que aconteceu.
- NÃO! POR FAVOR NÃO! Foi sem querer, eu juro que não tinha a intenção de fazer nada com você! Eu tava bêbado, desculpa! - Hinata continuou implorando, mas tudo isso encheu a paciência de Tobio e o fez bater a porta na cara do ruivo, e assim Shouya fracassou, agora sua preocupação aumentou em cem vezes! Tudo que lhe restou foi retornar ao seu apartamento com os ombros caídos, apenas se jogou no seu sofá e ligou qualquer série na televisão, tudo para esquecer o seu problema em vez de procurar mais soluções! Resolver um conflito desses era difícil, mas quando o assunto era o Tobio, era impossível.

Shouya caiu no sono e então, no dia seguinte ele se viu indo ao serviço, pondo um uniforme limpo e passado no ferro. Sua cabeça estava cheia de preocupação, com medo do que poderia ocorrer nesse dia e nos dias seguintes, muito provavelmente receberia uma carta de demissão ou seria chutado da empresa! Estava cabisbaixo e sequer queria sair de casa. Resolveu sair meia hora mais cedo para não ter o risco de esbarrar com Kageyama na porta de casa, tomou seu café da manhã em uma cafeteria ao lado do centro da cidade e seguiu ao seu trabalho. Logo na entrada os seguranças o olharam com desdém, um olhar pecaminoso que o afetou desde a ponta do dedo do pé ao seu fio de cabelo da cabeça, sentia olhares afiados por onde quer que passava e algumas falácias desagradáveis e cochichos, era como se o ambiente ficasse silencioso quando Hinata chegasse. Então, na hora de entrar sua identidade para a balconista, ela evitou qualquer tipo de conversa com ele e apenas concluiu sua entrada o mais rápido possível. Hinata tentava muito ignorar os olhares e a fala das pessoas, mas era difícil, estavam o evitando de todas as maneiras possíveis! até mesmo olhar.
Passando pelos corredores da empresa ele ouvia algumas pessoas dizer frases como "ugh, gay nojento..." ou "assediador..." e até mesmo "aproveitador". Isso o incomodava profundamente, ele seria incapaz de fazer seu trabalho com tantas pessoas o julgando dessa maneira, ele sentia seu estômago embrulhando e sua cabeça cada vez mais pesada, sua única vontade era fugir dali o mais rápido possível.
Então Kageyama havia contado tudo e espalhado isso ... seria definitivamente o fim da sua carreira, todos o viam como um assediador gay que tentou se aproveitar do seu colega de trabalho em um momento vulnerável! Isso era horrível, ele nunca mais conseguiria emprego e poderia até mesmo ser preso se ele decidisse levar isso mais além! Ele estava perdido ...