Os olhos de Grayson escureceram no segundo que as palavras deixaram
minha boca, e eu imediatamente recuei, preocupada que ele se
transformasse em lobo novamente.
Ele me observou de perto. Quando ele viu eu me afastar dele, fechou
os olhos e respirou fundo. Quando seus olhos se abriram novamente,
estavam de volta à sua cor normal.
— Belle, — ele suspirou. — Você não sabe porque estou com você
agora, mas se eu, por algum motivo, deixá-la ir, você vai encontrar o
caminho de volta para mim de algum jeito.
Eu balancei minha cabeça, pronta para discordar e argumentar, mas
ele continuou falando.
— Você se lembra de como se sentiu quando eu estava longe de você
ontem? Como você sentiu uma dor imensa e quase desmaiou?
Estremeci com a memória, mas balancei a cabeça taciturnamente.
— Agora imagine aquela dor intensificada por dez. Você estava lá
embaixo, a um andar de distância de mim, quando isso aconteceu. Não
quero nem pensar no que aconteceria se você fosse mais longe.
— Além disso, seus instintos te diriam para voltar para mim se eu não
chegasse até você primeiro. No final, você iria. O vínculo de companheira
te forçaria a isso.
Meu coração começou a bater mais rápido.
— Eu sempre sentirei essa dor quando estiver longe de você?
Eu vi Grayson cerrar e abrir os punhos. Eu não tinha certeza se era de
raiva ou outra coisa.
— Não. Isso vai parar. Nossos corpos vão se adaptando lentamente
para ficar longe um do outro. Mas vamos sempre desejar a presença um
do outro.
Meus ombros caíram.— Então, eu nunca irei para casa? — Lágrimas encheram meus olhos.
Grayson praguejou baixinho enquanto me observava. Sua expressão
me disse tudo o que eu precisava saber. Ele não me deixaria ir.
Ele pretendia me manter perto dele para sempre. Eu chorei mais com
essa constatação.
Grayson olhou para os travesseiros entre nós.
— Ah, foda-se, — disse ele.
Ele veio em minha direção, derrubando os travesseiros em seu
caminho.
Eu levantei minha mão, parando-o.
— Não! Não, pare, por favor, eu só... eu só, eu não posso, — eu
solucei.
Grayson gemeu.
— Belle, por favor, deixe-me tocar em você. Por favor, está matando
meu lobo ver você assim. É meu trabalho como seu companheiro cuidar
de você.
Eu olhei pra ele. Eu finalmente havia atingido meu ponto de ruptura.
— Não me chame assim! Eu não sou sua... sua companheira! Não é
seu trabalho fazer coisas pra mim! — Eu gritei. Eu estava histérica. Eu
não conseguia mais me controlar.
Era tudo demais para mim.
— Belle, — ouvi Grayson rosnar. Ele se levantou, passando a mão pelo
cabelo com uma expressão de agonia no rosto.
— Eu só... foda-se! — ele gritou e deu um soco na parede.
A sala inteira tremeu; seu punho deixou para trás um buraco gigante.
Eu pulei para trás e chorei mais. Como eu me meti nessa confusão?
Eu abracei meus joelhos, deixando todas as minhas emoções fluírem.
Meu estômago embrulhou e eu senti que estava prestes a vomitar.
Tentei ignorar, mas o latejar onde Grayson me mordeu estava ficando
insuportável.
Grayson se agachou do meu lado da cama. Ele parecia mais calmo,
mas seus olhos ainda estavam negros, o que me assustou ainda mais.
É — É a sua marca, não é, baby? Eu sei que você deve estar com muita
dor. Por favor, deixe eu fazer você se sentir melhor.
Eu o observei enquanto as lágrimas continuavam correndo pelo meu
rosto.
Ele ergueu a mão lentamente e a trouxe para perto do meu rosto,
quase tocando minha bochecha.
Eu queria tanto que isso acontecesse, deixá-lo me tocar e sentir as
faíscas correndo pelo meu corpo.
Eu me inclinei um pouco na direção dele. Eu queria pular em seus
braços e segurá-lo para a vida toda.
A verdade é que eu não queria apenas que ele me tocasse porque a dor
pararia.
Eu queria tocá-lo, porque queria que aquele olhar agoniado deixasse
seu rosto.
Eu queria confortá-lo... porque gostava dele.
Eu gostava do meu sequestrador. Como isso é possível?
Eu bufei.
Não, eu não poderia deixar isso acontecer. Eu não ia sentar e desistir
porque ele me contara uma história maluca.
Esse poderia ser seu mundo, mas não era o meu. Eu não poderia
ceder a esse — vínculo de companheiro.
Corri para o outro lado da cama.
— Por favor, apenas saia, Grayson, — eu chorei. — Eu só quero ficar
sozinha. — Pequenos soluços deixaram minha boca.
Ele não se mexeu.
— Não, — ele retrucou. — Eu não vou te deixar.
Eu me sentia derrotada. Cobri meu rosto com as mãos e chorei
enquanto sussurrava: — Por favor, saia. Por favor, apenas saia. Por favor,
saia. — Eu repetia.
Eu ouvi mais palavrões saindo de sua boca e, alguns segundos depois,
ouvi passos saindo do quarto.
E foi aí que a dor realmente começou.Os dias que se seguiram foram infernais. Eu não tinha ideia de quanto
tempo fiquei naquele quarto, me contorcendo de dor graças à estúpida
marca de mordida que Grayson colocara em meu pescoço.
Passei a maior parte do tempo deitada na cama, gritando e tremendo
enquanto perdia a consciência e acordava por causa da dor.
Perdi a conta de quantas vezes fiquei doente.
Eu fiquei correndo entre o banheiro privativo e a cama toda vez que
meu estômago revirava.
Eu sabia que agora estava apenas vomitando bile.
Finalmente desisti de tentar voltar para a cama e, em vez disso, dormi
no chão do banheiro.
Eu acordava gritando, enquanto onda após onda de uma agonia
imensa e latejante percorria meu corpo.
Kyle veio ao quarto algumas vezes com comida, implorando para que
eu deixasse Grayson entrar.
Depois que ele saiu, ouvi Grayson destruindo a sala de estar do andar
de baixo, quebrando coisas e discutindo com Kyle.
Era tão alto que eu só podia imaginar como estava o lindo quarto de
hotel agora.
Isso só me fez sentir melhor sobre a minha decisão de manter
Grayson à distância.
Ele não tinha controle sobre sua raiva, e eu não o queria perto de
mim. Algumas vezes eu o sentia do lado de fora da minha porta.
Minha dor melhorava um pouquinho. Ele ficava lá por horas. Às vezes
eu ouvia seu lobo choramingando.
Isso fazia meu coração doer um pouco, mas ignorei o melhor que
pude.
Cada vez que Kyle pedia para que eu deixasse Grayson entrar, eu apenas repetia outra vez que não o queria perto de mim.
Eu superaria isso sozinha.
Grayson disse que a dor iria parar no final. Uma vez que isso
acontecesse, eu poderia finalmente sair daqui. Eu só tinha que continuar
lutando.
Por dias, a dor só piorou até eu me tornar uma bagunça imóvel no
chão.
Eu não conseguia comer. Eu não conseguia dormir. Não conseguia
fazer nada.
E o que deixava as coisas ainda piores era o fato de eu só conseguir
pensar em Grayson. Não importava o quanto eu tentava parar, minha
mente sempre se voltava para ele.
Eu não conseguia mais sentir se ele estava do lado de fora da minha
porta.
Eu não conseguia sentir nada além de dor.
Eu me perguntei se ele estava lá fora ou se ele havia se esquecido
completamente de mim e estava fazendo outra coisa para passar o
tempo. O pensamento me deixou triste.
Pensei em seu cabelo, seus olhos, seu queixo, sua boca. Pensei em seu
sorriso e em como era ter seus braços em volta de mim.
Pensei em minha irrefutável atração por ele e como ele fazia eu me
sentir segura — muito mais do que me assustava.
De alguma forma, ele me fazia sentir que não estava sozinha.
Ele foi tão gentil comigo, como se eu fosse um objeto de vidro prestes
a se quebrar. Ele me disse que sempre cuidaria de mim.
Ele não me mostrou nada além de bondade desde que o conheci, e
ainda assim eu o rejeitei.
Quero dizer, ele me sequestrou. Ele quase matou um homem.
Ele era enorme e forte e sem dúvida poderia me quebrar no meio
como um palito de dente. E, ah é, ele podia se transformar em um lobo
raivoso a qualquer momento.
Não posso esquecer isso.
Mas, apesar de tudo isso, eu ainda ansiava por estar ao lado dele e sentir sua pele contra a minha. Eu queria beijá-lo de novo — segurar sua
mão e acariciar seu cabelo.
Eu me perguntei como ele estaria se sentindo.
Deus, ele parecia tão inconsolável quando eu implorei para ele me
deixar em paz. Eu me perguntei se ele realmente se sentia assim ou se era
tudo um ato elaborado.
Ele poderia ser apenas um sequestrador fazendo jogos mentais com
sua vítima.
Mas e se eu fosse realmente sua companheira e o tivesse mandado
embora se sentindo péssimo depois que ele abriu seu coração para mim?
Meu coração se apertou.
Eu me lembrei que não sabia se ele estava dizendo a verdade sobre
toda a coisa de companheiro.
Mas eu acho que ele tinha se transformado em um lobo na frente dos
meus olhos.
Então ele com certeza não tinha mentido sobre ser um lobisomem.
O que era um pouco assustador quando eu parei para pensar, mas seu
lobo não tinha me machucado.
Então ele provavelmente não estava mentindo sobre eu ser sua
companheira.
E, no fundo, eu secretamente esperava que ele estivesse dizendo a
verdade, porque, primeiro, significaria que eu realmente estava segura
com meu sequestrador. Quer dizer, o cara disse que éramos almas
gêmeas. De jeito nenhum ele realmente me machucaria.
Segundo, isso explicaria por que eu estava tão visivelmente atraída
por ele, mesmo sem conhecê-lo, e forneceria uma explicação simples
para todas as fantasias embaraçosas que passavam pela minha cabeça
desde que o conheci.
E, terceiro, quer dizer... Você viu o cara?
Ele era incrivelmente lindo. E gentil, charmoso e protetor, e a
primeira pessoa a me fazer sentir alguma coisa além de tristeza em muito
tempo.
Oh Deus. Por que eu o fiz sair de novo?Por que eu estava afastando a primeira coisa boa que me aconteceu
depois que meu pai morreu?
Eu me senti movendo antes mesmo de entender o que estava
fazendo.
Eu praticamente corri para a porta e a abri.
Eu era uma mulher com uma missão.
Eu não sabia onde Grayson estava, mas decidi que não iria parar de
procurar até que o encontrasse.
Quando eu saí para o corredor, porém, meus olhos imediatamente se
conectaram com os dele. Eu respirei fundo.
Ele estava sentado contra a parede no final do longo corredor, os
joelhos dobrados.
Ele parecia exausto.
Sua barba havia crescido e estava com olheiras enormes. Meu coração
se partiu ao vê-lo.
Seus olhos se arregalaram quando ele me viu, e ele se levantou
lentamente, como se tivesse com medo de me assustar.
Hesitante, dei um passo em direção a ele e depois outro, e então
estava praticamente correndo em sua direção.
Ele me encontrou no meio do caminho e eu lancei meus braços ao
redor de seu pescoço.
E de repente tudo estava bem.
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Sequestrada por um Alfa - Annie Whipple
LobisomemBelle nem sabe que lobisomens existem. Em um avião para Paris, ela encontra o Alfa Grayson, que afirma que ela lhe pertence. O possessivo Alfa marca Belle e a leva para sua suíte, onde ela tenta desesperadamente lutar contra a paixão que cresce dent...