Capítulo 01 | Entrevista de emprego.

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"THAT MAN IS REAL?"

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"THAT MAN IS REAL?"

     

O corredor estendia-se como um gigante adormecido, suas paredes desgastadas pelo tempo contavam histórias de um passado esquecido. O prédio, embora robusto, exibia a patina da idade com marcas de mofo que se espalhavam como veias pelas superfícies de concreto, e teias de aranha adornavam os cantos esquecidos, tecendo um véu fino sob a pequena mesa de madeira no salão principal. A luz fraca que se infiltrava pelas janelas empoeiradas mal tocava o chão de ladrilhos rachados, criando um jogo de sombras que dançavam com a brisa que se aventurava por entre as frestas.

Você nunca havia visitado essa parte da cidade, um labirinto de ruas que pareciam todos iguais. Mas a promessa de um salário que resolveria muitos dos seus problemas foi o suficiente para te levar até lá. Com um suspiro de determinação, você cruzou o limiar daquele mundo desconhecido.

— O trabalho é simples — começou o síndico, uma figura que parecia tão parte do prédio quanto as paredes ao seu redor. — Vigie os moradores, confira os IDs, assegure-se de que as aparências coincidam. Estamos enfrentando um problema peculiar com clones.

— Clones? — você repetiu, a curiosidade tingindo sua voz enquanto inclinava a cabeça, um gesto quase reflexo diante do inusitado da situação.

— Sim, anomalias, como preferimos chamar — ele continuou, a paciência tecendo cada palavra. — São cópias idênticas dos moradores, mas com sutis discrepâncias. Eles replicam o número do ID, os maneirismos, até mesmo a voz. Mas há falhas, detalhes que não conseguem imitar. Fique atenta.

— Parece fácil. — você respondeu, embora uma ponta de incerteza borbulhasse em seu interior.

— E é, desde que você seja esperta. Há um, em particular, que surge à noite. É o mais astuto, o mais difícil de discernir. O porteiro anterior teve seus desafios com ele.

Essas palavras despertaram um alerta em você, uma faísca de cautela. A última coisa que desejava era ser pega de surpresa, ou pior, em perigo.

Percebendo a mudança em seu olhar, o síndico colocou a mão sobre seu ombro direito com uma gentileza surpreendente.

— Não se preocupe — ele assegurou, sua voz um bálsamo calmante. — O vidro da cabine é à prova de qualquer emergência, inquebrável. Nada passará por ele para lhe causar mal.

Você permitiu que a tensão em seus ombros se dissipasse, inspirando profundamente antes de assentir com convicção.

A sala de controle era um cubículo apertado, com paredes revestidas de painéis cinzentos e monitores que piscavam com uma miríade de informações. O ar estava saturado com o cheiro de plástico e eletricidade, e o zumbido suave dos computadores formava uma sinfonia tecnológica. O homem ao seu lado, cujo cabelo cinzento quanto o prédio em si, apontou para o console central, onde uma série de botões aguardava seus comandos.

— Este aqui — disse ele, pressionando levemente o botão verde adornado com um cadeado aberto — é o que você usará para liberar a passagem dos moradores. Certifique-se de que tudo esteja em ordem antes de permitir a entrada.

Seu dedo deslizou para o botão vermelho adjacente, sua superfície lisa contrastando com a textura áspera de seu dedo.

— E este é para fechar o portão. Recomendo que o faça assim que o morador autorizado tiver passado. Isso evitará problemas futuros.

Você acenou, absorvendo cada detalhe, cada instrução.

— Aqui está o registro de todos os moradores — continuou ele, apontando para uma ficha meticulosamente organizada. — Contém o número do apartamento, telefone e outros dados essenciais. Em caso de dúvida, ligue para o apartamento. Se um morador com o mesmo nome atender, pressione este botão.

Ele indicou um botão vermelho brilhante, um pouco mais afastado dos outros.

— E o que esse botão faz? — você perguntou, a curiosidade tingindo sua voz.

— Ele ativa o fechamento do vidro de proteção. Após pressioná-lo, ligue imediatamente para o número de emergência. Eles são uma equipe especializada que removerá a anomalia sem demora.

O homem falava com uma seriedade que impregnava o ar, tornando o peso de cada palavra palpável. Você assentiu, sentindo a responsabilidade de suas funções se acomodar em seus ombros. A sala de controle, com seus botões e alertas, tornou-se seu novo domínio, um lugar onde a vigilância e a prontidão seriam suas constantes companheiras.

— Entendi, e quando eu começo? — a pergunta escapou, tingida de uma nova resolução.

— Amanhã. Prepararei toda a documentação necessária. Em breve, você estará pronta para começar.

Com um aceno gentil, você se despediu, sentindo-se, de alguma forma, exatamente onde precisava estar. Um dia seria suficiente para ponderar e se familiarizar com os segredos daquele prédio antigo e suas sombras sussurrantes.

A luz do entardecer banhava o prédio em tons dourados, criando um contraste com a sensação de abandono que o lugar emanava. Você caminhava para fora, o peso do dia ainda nos ombros, quando seu celular vibrou, um sinal familiar de conexão em meio ao isolamento daquele lugar. Era sua melhor amiga, e sua voz trouxe um conforto imediato, uma ponte para a normalidade.

Vocês trocavam risadas e atualizações quando um encontro súbito interrompeu o momento. Um homem alto, com uma aura de mistério, esbarrou em você. Seus olhos, pesados de cansaço, carregavam histórias não contadas.

— Perdão — ele murmurou, sua voz baixa e profunda ecoando como uma melodia noturna, tingida por um sotaque canadense que falava de terras distantes.

Você o examinou, notando a beleza inesperada que residia em suas feições cansadas. O chapéu branco que adornava sua cabeça trazia a inscrição "Milkman", um título que parecia deslocado naquele contexto urbano. Seu uniforme, embora estranho, parecia uma extensão de sua personalidade, uma peça do quebra-cabeça que era aquele homem.

Ele possuía uma presença imponente, com ombros largos que carregavam o peso do mundo, um nariz arrebitado que apontava para sonhos mais altos, e cabelos castanhos meticulosamente penteados para trás, revelando uma veia proeminente que pulsava com a vida que corria por ele.

— Me perdoe, eu estava distraída — você disse, sua voz se misturando com a dele em um dueto de desculpas.

— Se importa? — Sua mão gesticulou suavemente em direção à porta de uma cafeteira que você frequentou apenas uma vez. Um convite silencioso para que você desse passagem.

Com um riso nervoso, você se moveu, abrindo caminho para ele. Seu perfume, uma mistura de lavanda e algo mais selvagem, preencheu o ar, deixando claro que, apesar das aparências, ele se preocupava com os detalhes.

— Até mais.— você não sabe por que se despediu dele, mas você se despediu, mas ele já estava se afastando, seu chapéu branco acenando um adeus enquanto ele desaparecia na multidão, deixando para trás um rastro de intriga e a fragrância de um enigma bem cuidado.

Você permaneceu imóvel, uma estátua entre o fluxo constante da multidão, enquanto a imagem daquele homem enigmático se gravava em sua mente. Ele era um quadro de contrastes: a beleza cansada de seus traços, a monotonia de sua expressão, um espírito que parecia carregar o peso de mundos não vistos.

Mas a realidade logo a chamou de volta, a agitação da calçada a lembrando de que a vida continua, implacável e indiferente aos momentos de revelação. Com um balanço de cabeça, você deu o primeiro passo, quebrando o encanto e se juntando novamente ao ritmo da cidade. O caminho de volta para casa parecia diferente agora, tingido pela breve interação que deixou uma marca sutil em seu dia.

 
PRÓXIMO CAPÍTULO:
02 | Meu primeiro e
último dia, eu espero.

Scarlate | Milkman x Leitora ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora