Final.

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As ruas alegres, as conversas altas, as risadas de pura alegria, os pequenos bares abertos, lotados de gente conhecidas, a decoração de sempre...tudo era a mesma coisa. Estava tudo no mesmo lugar em que Ryuta se lembra, como se a morte de Takemichi sequer tivesse acontecido.

As pessoas tão conhecidas passavam por ela e a ignoravam, como se não a conhecessem. Eles não podem nem mesmo reconhecer aquela que um dia foi a princesa disso tudo, tão miseráveis quanto aqueles que morreram por sua espada.

Passar pelas barreiras do reino sem ser notada foi mais fácil do que imaginava, após a cerimônia de Theo, a força das barreiras abaixaram e os poucos ancestrais que não retiraram sua proteção deixaram ela passar sem problema algum, o que apenas a levou a crer que de certa forma, os antigos estão esperando uma vingança da parte de seu herdeiro, e que não deixariam a barreira cair até poderem ver isso.

O pouco tempo que passou nas ruas, serviu para que ela descobrisse que mesmo sendo respeito por todos, Theo quase nunca aparecia em público, o que significava que ela teria que ir além e invadir o castelo para pegar o anel de Kana.

De qualquer forma, ela teria que invadir o castelo, levando em conta que ainda havia o buquê de Daisuke e as cinzas que restaram das espadas gêmeas, mas por agora, a melhor coisa seria ir para a gruta e pegar a água.

Cada passo, ela ia se afastando do vilareijo e se aproximando da floresta tão conhecida. Seu coração acelerava e suas mãos suavam mais do que nunca, as mémorias daquele dia viam em sua mente como um tsunami e seu corpo estava recusando a dar mais passos. 

Aquela gruta tinha muitas lembranças dolorosas, mas as que mais faziam seu peito apertar era as felizes. O rosto orgulhoso de Ken quando ela abriu os olhos pela primeira vez, quando ele chorou de felicidade por ela ter vida própria, todas as palavras de carinho, as posiçoẽs de luta que Manjiro lhe ensinavam, apesar dela sequer ter um mês de vida, quando conheceu Takemichi, os dias que passaram juntos, as risadas, as brigas com Ayane, tudo isso era tão refrescante em sua mente que fechando os olhos, ela pode se ver vivendo tudo isso novamente.

Mas quando abriu seus olhos novamente, a floresta escura lhe abraçava e a única companhia que tinha era os pequenos pássaros que cantavam felizes.  Tudo isso não passava de lembranças, tudo se foi, e mais do que nunca, ela precisava acordar para a realidade.

Suspirando fundo e apertando suas mãos, ela correu em direção a gruta, fechando seus olhos e tentando manter seu corpo firme cada vez que seu coração fraquejava e sua mente lhe implorava para ir embora desse lugar.

Seja forte, seja a guerreira que nasceu para ser. Faça isso e logo está tudo bem.

O cheiro de água preencheram seus sentidos e ela finalmente abriu os olhos. Em sua frente estava aquela mesma gruta, com a mesma água, as predas ainda estavam nos mesmos lugares, e respirando bem, ela ainda podia sentir o cheiro de sangue seco, o sangue de Takemichi.

Aparentemente, nunca mais vinheram nessa gruta depois de tudo o que aconteceu.

Suas mãos tremiam e o pequeno frasco de vidro parecia que ia cair a qualquer momento, estática, sem olhar para os lados, Ryuta entrou na gruta e foi até a água cristalina. Sua respiração estava acelerada e as lágrimas presas já estavam saindo de seus olhos, por mais que tentasse, doía. 

Estar nesse lugar, sentindo aquele cheiro de sangue, fazia ela se lembrar muito bem do passado.

O corpo leve, gelado e já rigido de Takemichi sendo arrastado naquele chão com apenas uma mão por ela, pois em seu outro braço, estava seu pequeno irmão, que inutilmente, ela tentava acalmar.

Sua barriga apertava e se revirava pelo cheiro de corpo em decomposição, os pequenos vermes do corpo subiam por seu braço e as vezes caiam em seu corpo desnudo, os pequenos ramos e raizes atrapalhavam sua caminhada e faziam sua pele sangrar. 

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