8- Estalo do estrago

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   Depois de dois ou três dias a rotina de Merina se mantém sempre a mesma, ser acordada, sonhar para não desistir e comer para não morrer. Apesar de a mesma ter acreditado e quase prometido a si mesma que acharia uma forma de escapar, nem sequer conseguiu descobrir algo sobre aquele lugar. Eram todos muito sigilosos e seguiam um padrão de não se comunicarem com ela, menos o homem de terno marrom que aparentemente tinha uma permissão para conversar sem se preocupar. Falando sobre ele, era estranho a forma como sua raiva pela Merina era grande, ela tentava supor se ele ainda estava usando alguma metodologia de manipulação ou se estava realmente com tanta raiva dela. E por mais que ela odiasse concluir isto, Merina após seguir neste lugar mudou a forma de como pensara de atos passados, tudo que aquele homem dizia para ela fazia sentido, não o fato de ser totalmente a vilã e causadora de tudo, mas só culpada por ter deixado a sua raiva a consumir por inteiro e matar diversas pessoas. Prometeu a si mesma que nunca mais permitiria que a emoção controlasse novamente o seu poder, e a partir de então se permaneceu até mais apreensiva, mesmo sob tortura constante. Na verdade já estava se habituando com os tormentos diários, criava cada vez mais resistência tanto às drogas que injetam nela como na dor insuportável de ser eletrocutada.

   Com essa nova forma de pensar e viver, Merina conseguiu sentir uma leve diferença na forma de como usar seu poder. Em uma noite qualquer, onde o local permanecia em um silêncio perturbante e lá estava ela sozinha sem ninguém, tentou escapar mesmo que quase não enxergasse nada na escuridão. Ela tentou usar seus poderes para mover ou quebrar qualquer coisa, e foi assim que acabou queimando a câmera sem querer. No dia seguinte ela acordou com uma grande quantidade de pessoas perto de uma parede, vendo e conversando sobre como aquela câmera recebeu um fim trágico. Mas ao invés de deixar seus olhos abertos, ela os deixou fechados para que ninguém percebesse que ela estava consciente, acabou ouvindo então que eles já estavam suspeitando que ela tinha acesso aos poderes e que a ideia mais perspicaz seria mudar ela para outra sala. Agora, recentemente, umas pessoas usando roupas militares da cor preta entraram armados e com cautela na sala, Merina se assusta com os movimentos robustos e da forma grosseira de como eles abriram a porta, estava se acostumando com o silêncio constante daquele lugar. Dois permaneciam na porta mirando com um rifle de assalto na cabeça dela, enquanto os outros dois seguiram e começaram a desprender os equipamentos metálicos que prendiam ela na parede. Quando finalmente estava liberta, ela sentiu uma dor aguda percorrendo pelo seu corpo, parecia que suas pernas não se  mexiam e suas costelas se partiam ao meio discretamente, seus pulsos e calcanhares onde estavam antes as "algemas" , agora parecia em carne viva, mantendo uma aparência vermelha e inchada.

— Para onde estão me levando? Vão me soltar?

   Eles não responderam e a puxaram pelo braço com força até seguirem para fora da sala. Por mais que ela tentasse controlar o nervosismo estava com medo do que iriam fazer com ela agora. Tinha medo de morrer ali sem ninguém. Eles a levaram pelo corredor e Merina observou todos os detalhes possíveis. Haviam muitas janelas, revelavam diversas salas ou com equipamentos muito tecnológicos ou com pessoas trabalhando em máquinas de pesquisa científica, em equipamentos medicinais ou tecnologias de capacidades intercomunicáveis. Aquele lugar era enorme, as salas se repetiam e a alta quantidade de pessoas se movimentavam pelo corredor vasto e retilíneo. Nenhum deles a olhava nos olhos. Depois de virar e andar em seis ou cinco corredores ela chega em uma sala enorme, parecia um hall de entrada e lá havia uma grande estátua que se estabelecia logo à frente de uma escadaria enorme que quase chegava ao teto circular. Ali já não era tão movimentado quanto os corredores anteriores. As grades grudadas nos degraus eram de um metal preto e ouro puro, a estátua e tudo daquele lugar era de mármore branco. Logo ao redor havia duas portas e dois corredores, a primeira porta ficava em baixo e a outra lá em cima no encontro das escadas, o primeiro corredor ela acabava de sair e os guardas levavam ela para o próximo corredor logo a frente. Ela pensou em tentar fugir e se rebater, mas estava tão sem força que mesmo se ela quisesse iria ser derrotada e humilhada. Pensou em apelar para o uso dos poderes e quando se concentrou acabou fazendo uma pessoa cair de cara no chão. Se não estivesse nessa situação, iria cair nas gargalhadas ali mesmo. Neste segundo corredor, havia quase a mesma coisa que os outros, a diferença é que este tinha uma área medicinal com médicos e os pacientes deitados nas macas. após virarem umas 12 vezes, eles descem em uma escadaria bem no final e colocam Merina em uma das prisões parecidas com aquelas solitárias, eles jogam ela lá dentro e mesmo com vários gritos e batidas na porta não fazem nada por ela. Depois de desistir, fita o perímetro com desdém, reparando somente em um vidro bem resistente que estava atrás dela, onde deveria estar uma parede de concreto.  Havia outras pessoas ali, todas pareciam inseguras e com medo como se aquele lugar ou alguém atormentassem elas em anos. Merina observa câmeras do lado de fora nos acostamentos da parede, agora sabia que não teria tanta liberdade para fazer o que bem entender dentro daquele cativeiro.

    Após acordar de seu cochilo e se espernear nos lençóis sem cores, Merina se levanta e toca o grande vidro surpresa pela grande espessura. Um homem de cabelos grandes e barba para fazer a fita, seu olhar era vazio e sem brilho, como se tudo que aparentava ser por fora era ainda pior na parte de dentro. Ele inclina a cabeça e logo após se vira de costa para ela, se sentando com as pernas cruzadas como se estivesse dormindo ou meditando naquela mesma posição. Ao observar as outras celas escuras ela percebe o mesmo padrão nas pessoas de lá; se sentavam e pareciam meditar em um mesmo padrão.

    Depois de tentar concluir algo sobre essas estranhas ações ela desiste e tenta não ligar para os eventos estranhos acontecendo no recinto, entretanto ficar um tempo no tédio a deixou inquieta, não havia movimento, não havia mudanças, era sempre o mesmo silêncio perturbador, era sempre a mesma chata rotina. Parecia que eles não respiravam, não dava para ouvir nem sequer o barulho dos passos deles se movimentando. Merina se deita na cama e olha para o teto, aquele lugar estava deixando ela louca, talvez tenha sido até melhor ter ficado presa na outra sala antes dessa mesmo com a dor física que recebia diariamente, lá nada parecia tão chato, tinha os médicos, cientistas e é claro as grandes maquinas. Logo depois de muito tempo ela fica presa em seus pensamentos, como quando entramos em estado de hipnose, mais conhecido como "mundo da lua". Imaginava como seria depois de sair daquele inferno, até tentava pensar no que comeria depois de muito comer sopa de legumes fria. Mas após ouvir um estalo ela se recorda de estar consciente, se espanta e fica assustada. Os outros saíram da posição conjunta, dessa vez faziam barulho, mesmo que fosse mínimo. Tinham sentido talvez a mesma sensação que ela? Tinham escutado o barulho repentino? Com sua agitação ela procura o paradeiro do som, e sem sucesso não consegue ver ninguém suspeito além de claro os outros prisioneiros.

   Seria então imaginação da cabeça sem sanidade deles? Não, era algo maior, como um tipo de imaginação conjunta e involuntária de todos os prisioneiros, tipo uma mente colmeia. Só poderia ser algo ou alguém fazendo isso. Apesar de todas as perguntas, somente uma ela conseguia saber responder: estava começando a ficar que nem os outros, paranoica, silenciosa e perturbada.

  Sabia que seria melhor estar morta do que inconsciente de suas ações como as pessoas habituadas ali. Se fosse para ser controlada antes ela queria lutar, e não se deixar desistir sem honra e dignidade. Ela se levanta motivada novamente, como podia estar começando a se adaptar? A raiva crescente dentro dela era mais pelo fato de estar desistindo de escapar do que das pessoas que estavam fazendo coisas desumanas contra a mesma. Ela passa a mão pelos seus cabelos cacheados o colocando atrás da orelha e se senta no chão gelado e duro, e se o que procurava estava bem na cara dela? E se ela fosse a única forma de escapar e talvez salvar sua mãe daquele lugar?
Fechado seus olhos ela se concentra, e em segundos se vê perdida na súbita escuridão vazia e infinita, ela sente uma energia percorrendo seu corpo, começava pela cabeça, descia aos pés e saiam pelas mãos. Seus olhos não podiam mais ser abertos, estava em um outro plano, em sua cabeça talvez? Na imensidão ela se vê caminhando na primeira visão, seus pés ao chegarem no chão criava ondas, deixando uma sensação de literalmente caminhar sobre as águas.

— Olá? Tem alguém aqui?!

Ninguém responde. Mas após andar sem rumo algo interrompe este ciclo, sente seu corpo se desconectar, sua mente se esvair e uma perda de conexão com sigo mesma. Tudo começa a tremer, parecia que um terremoto estava preste a dominar e instaurar o caos, depois vem o barulho de pedras caindo que saem do além, deixando o medo e a certeza de que tudo iria desabar em cima dela. Merina ficou nervosa, mesmo que seu corpo tivesse ido seu coração palpitava e ela sentia isto. Tentou correr, tentou perfurar o chão com suas mãos, tentou sair desse plano mas nada funcionava. Ela após desistir se ajoelha no chão perdida e difundida de diversas emoções ruins, tampando o ouvido para se livrar do barulho ela sente frustrada por ter inventado de se meter em algo tão desconhecido, mesmo que involuntariamente. Logo é possível ouvir seus gritos, se comprimindo diante de ecos e seguindo até o além. Então tudo para de tremer, o barulho para, as dores param. Sua consciência parece estar se desligando. E no final, só o silêncio, somente o silêncio prevalece com seu "corpo"  largado no chão líquido.

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