𝙲𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘-9

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                           ONDA

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Ao longe, as ondas batiam impiedosamente na costa, misturadas com o rugido de um vento tempestuoso. Acima, podiam ouvir os gritos abafados de algumas gaivotas corajosas o suficiente para desafiar o terrível inverno da costa britânica. Harry não conseguia se lembrar de alguma vez ter ido à praia por vontade própria, muito menos fora do contexto de guerra e da sensação constante de que a morte esperava por ele ou por seus entes queridos. Foi bom, ele pensou.

Ele e Draco tinham acabado de aparatar perto da praia, da qual Draco tinha lembranças vagas e distantes. Passava pouco das duas da tarde, não porque não tivessem planejado passar o dia inteiro juntos, mas porque Harry suspeitava de uma visita improvisada de um Weasley ou de outro amigo. E Harry estava certo, pois Ron e Hermione se convidaram durante o intervalo do almoço sem mencionar explicitamente o Dia dos Namorados, embora Harry não fosse ingênuo.

"Eles pensam em você como filho deles," Draco disse quase zombeteiramente quando Harry se juntou a ele na oficina depois do almoço.

"Não, sou apenas o melhor amigo deles, viúvo, deprimido e suicida."

Draco não respondeu à piada, talvez porque não fosse uma. Ele simplesmente pegou o casaco e disse a Ricardo que tiraria a tarde de folga, e Ricardo concordou sem sequer perguntar para onde estavam indo, provando mais uma vez o quão pura era sua alma.

Harry fechou os olhos lacrimejantes para o vento e respirou fundo algumas vezes. Ele sentiu o cheiro salgado do mar e das algas, o ar puro e sem o menor vestígio de poluição, enquanto o vento despenteava seus longos cachos que ele não cortava há muito tempo.

"Não há ninguém aqui," Draco disse, parecendo um pouco surpreso e preocupado.

Harry virou a cabeça na tentativa de ouvir Draco melhor, mas tudo o que ouviu foi seu amigo caindo na gargalhada.

"Potter, seu cabelo..."

"O que?"

"Nada."

Sua risada desapareceu e ele deu alguns passos enquanto Harry se inclinava para frente para tirar os sapatos. Ele estava tirando o primeiro quando Draco falou novamente.

"A praia está fechada; há uma placa logo ali."

Harry passou para o segundo sapato.

"Harry, você está me ouvindo? A praia está fechada. Aparentemente, os ventos e as ondas estão muito fortes e há chance de tempestade."

Com o segundo sapato tirado e as meias enroladas por dentro, Harry arregaçou a barra da calça e finalmente se endireitou, soltando um longo suspiro.

"E?" ele finalmente disse, provocando uma reação cética em Draco.

"E? E a praia está fechada. Deve ser por um bom motivo."

Um leve sorriso cruzou o rosto de Harry.

"Se isso ajuda você a quebrar as regras, lembre-se de que esta placa foi escrita por um trouxa."

Harry não esperou pela reação de Draco antes de pular o muro baixo de concreto que levava à praia. Seus pés descalços encontraram a areia, os dedos dos pés afundando imediatamente em sua textura fria e úmida. Não era a areia fina e macia que ele ingenuamente esperava; era quebradiço e áspero, e ele quase conseguia sentir cada grão sob a pele sensível das solas dos pés.

Foi perfeito.

Ao começar a caminhar em direção ao mar, contando apenas com o som das ondas para guiá-lo, a areia rastejava por seu tornozelo, empurrada pelo vento, fazendo cócegas e ardendo em todos os poros de suas pernas. Os passos firmes de Draco, acompanhados por seus rosnados irritados, seguiam Harry de perto, mas Harry andava rápido e, a cada passo, seu ritmo acelerava como se o mar estivesse chamando por ele.

𝙾 𝚖𝚎𝚗𝚒𝚗𝚘 𝚍𝚊 𝚕𝚘𝚓𝚊 𝚍𝚎 𝚙𝚒𝚊𝚗𝚘 - 𝑫𝑹𝑨𝑹𝑹𝒀Onde histórias criam vida. Descubra agora