𝙾 𝚖𝚎𝚗𝚒𝚗𝚘 𝚍𝚊 𝚕𝚘𝚓𝚊 𝚍𝚎 𝚙𝚒𝚊𝚗𝚘 - 𝑫𝑹𝑨𝑹𝑹𝒀

𝚌𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘-2

                        RICARDO

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A loja de pianos assombrou a mente de Harry durante todo o fim de semana. Isso girou em sua cabeça até se tornar uma obsessão, transformando suas noites em longas sessões de debate, acordado no escritório de Ron, onde uma cama extra foi preparada para ele. Havia a melodia, o forte sentimento de nostalgia ao ouvi-la depois de quase vinte anos, e depois havia o cheiro de madeira envelhecida – madeira que já existia muito antes de Harry nascer, testemunha de épocas e inúmeras mãos de diferentes tamanhos, idades, e sensibilidades. Madeira empoeirada, envernizada e trabalhada. Ele sentiu tanta vida quando entrou nesta oficina, mas um tipo de vida diferente: uma vida tranquila, uma vida que levava o seu tempo, que valorizava o silêncio e a paciência.

Tempo, paciência: todas as coisas que moldaram o maior arrependimento de Harry. Eles não tiveram tempo suficiente e o pouco que tiveram não foi usado com gratidão suficiente. Talvez isso tenha sido o que mais o magoou na morte de Ginny: a falta de despedidas, o fato de que da última vez que ele olhou para ela antes de ela sair de casa, ele não tinha olhado de verdade – ele não tinha tido tempo para isso. Ele simplesmente disse: "Até mais", pensando que iria admirar a beleza dela na próxima vez, porque nunca houve um dia em que ele pensou que Ginny não voltaria para casa.

' 𝑀𝑎𝑖𝑠 𝑡𝑎𝑟𝑑𝑒 ', ele nunca odiou uma palavra como odiava essa agora. Cada aspecto de seu relacionamento com ela se tornou algo que ele lamentava não ter dedicado tempo para valorizar o suficiente.

Harry se enrolou com mais força no cobertor e rolou de lado, de frente para a janela. A manhã estava nascendo lentamente; ele percebeu pela suave sensação de calor em seu rosto. Os pássaros cantavam lá fora; às vezes ele se perguntava sobre o que eles conversavam e o quanto tinham a dizer todas as manhãs. Houve uma vida cheia de excitação absoluta durante a noite? Ou eles estavam apenas expressando seu amor por estarem vivos mais um dia?

Ele adorava o som do canto deles; ele percebeu que amava o som da natureza em geral e não aprendeu a apreciá-lo o suficiente até que se tornou seu único refúgio seguro na escuridão de seu quarto. Havia um galho de maçã do lado de fora da janela; Ron contou a ele um dia, quando Harry mencionou que os pássaros o acordavam de manhã.

"Eu poderia cortá-lo se você quiser", Ron acrescentou, pensando que isso incomodava Harry.

Mas isso não aconteceu. Ele quase desejou que Ron e Hermione também tivessem uma macieira do lado de fora da janela do quarto; ele queria dizer a eles que acordar com o chilrear dos pássaros era uma das melhores sensações do mundo. Mas ele ficou quieto, pensando que provavelmente não entenderiam por que ele acreditava nisso.

Harry permaneceu encolhido nesta posição por vários minutos. Ron já havia descido e Hermione estava no quarto de Rose. Ele podia ouvir a menina chorando e a mãe tentando confortá-la. Harry ouviu em silêncio, tentando não pensar em James, embora não conseguisse pensar em mais ninguém sempre que ouvia a voz de uma criança. Então tentou se concentrar em outra coisa: os pássaros na macieira, o cheiro do café, a loja, o piano... a voz. A voz de Alden. A semelhança com a voz de Malfoy não havia saído de sua mente, apesar de suas tentativas de descartar a possibilidade. Não poderia ser ele; era impossível.

𝐹𝑜𝑖 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜?

A mera ideia de Malfoy trabalhando em uma loja trouxa parecia grotesca. Talvez não tenha sido ele; as vozes poderiam ser semelhantes entre bilhões de humanos. A última vez que ele ouviu a voz de Draco Malfoy foi no julgamento de sua família, quatro anos atrás, no qual Harry reservou um tempo para testemunhar. Também foi a última vez que Harry o viu. Ele se lembrava vividamente da expressão no rosto de Malfoy quando encontrou os olhos de Harry no último dia daquela semana agitada. Harry pensou por um breve momento que queria lhe dizer algo, talvez um "obrigado", mas o menino fechou a boca e saiu com os pais, a mão apertando a da mãe com força.