02. Aulas

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Acordo com dificuldade, pela madeira dura da carteira. O sinal toca e ouço todo o tumulto pela intervalo, sinto um toque em minhas costas, me cutucando aos poucos. Sei que é Dylan.

— Hmn~ — Resmunguei, enquanto arrumava minha coluna e olho para o garoto ruivo.

— Intervalo, gatinho — Disse ele, enquanto pega minha bolsa à procura do meu lanche.

Ele sempre cuidou de mim, como se fosse meu irmão mais velho, ou até mesmo, um pai provisório. Confesso que não era uma má ideia ter um "daddy", mas acho que não combina comigo. Pertencer apenas uma pessoa não me atraí nem um pouco.
O homem oferece a mão para me ajudar a levantar, aceito com facilidade e me levanto. Apenas bato em minha roupa para que tirasse qualquer sujeira ou pó. Ele oferece a sacola do meu lanche para que eu carregue.
Dou um sorriso de canto, e aproximo o meu rosto do dele, ele apenas coloca a mão na frente, o-evitando. Dylan não gostava que eu demonstrasse isso na escola, pois a maioria sabia do meu trabalho e não queria ser visto como um cliente. Confesso que me magoava saber dessa informação, mas acabou que me acostumei e só faço pois, sei que o provoca.

— Vamos logo, bobão — Falei, pegando a sacola e caminhando para fora da sala.

Ele me seguiu, ficando ao meu lado enquanto andávamos pela universidade.

— Como estão suas notas? — Perguntou ele.

— Uma merda, vou ter que transar com o professor novamente — Respondo, com uma cara meio chateada.

Ouço a respiração funda de Dylan do meu lado, sei que ele ficou irritado.

— Você precisa estudar, porra — Falou, olho para sua mão que estava na forma de um punho cerrado, ele tinha unhas grandes, provavelmente estava machucando.

Pego sua mão, e começo a depositar um pouco de carinho com uma das minhas mãos, o fazendo relaxar.

— Desculpa — Falou baixo.

— Tudo bem — Respondi, com um sorriso gentil. Eu também não gostava da minha vida, ele sabia disso. Mas eu não tenho tempo para estudar, na verdade, até tenho, mas minha cabeça não funciona mais assim.

[...]

Nós caminhamos até um lugar vazio da universidade, mais conhecido por um campo onde muitos usam para fumar, transar, qualquer tipo de coisa proibida no local.
Ele retirou do bolso dois cigarros e um esqueiro, me ofereceu, e pela primeira vez, neguei.

— Estou com fome — Falei, enquanto abria a sacola.

— Vai querer depois? — Perguntou.

— Sim, por favor — Respondi, logo retirando apenas uma bolacha barata que encontrei no mercado.

Dylan apenas encarou a pouca quantidade de comida e desviou o olhar.
Dessa vez, acabei não conseguindo juntar dinheiro o suficiente para fazer compras decentes. Então, Dylan vai para a minha casa levar algo que eu possa comer de janta.

— Por quê não tenta falar com seus pais? — Susurrou em um tom que eu consiga ouvir.

Sinto sua mão encostar na minha coxa, ele sabia que aquele assunto me destruía por dentro.

— Eles não vão me aceitar. Já sabem como eu trabalho — Falei, enquanto minhas pernas começavam a tremer, junto com minhas mãos.

A angústia de não conseguir chorar, não consigo derramar nenhuma lágrima. Não mais. Não depois de tudo.
Eu apenas deito minha cabeça no ombro do ruivo e fecho meus olhos.

— Certo, vai ficar tudo bem — Falou ele, enquanto soltava a fumaça do cigarro.

Abro a boca para que ele coloque o cigarro, ele faz e ascende para mim.

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