𝟚𝟙- 𝔽𝕦𝕟𝕖𝕣𝕒𝕝

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"Podes chorar!"

João Pov

- Porque não me deixaste ficar lá?- pergunto à Maria quando chegamos ao meu quarto

- Eu convenci-a a vir, mas não é para ela falar contigo- diz

- Quê? Porquê?- pergunto indignado

- Porque ela não quer ver a tua cara à frente, tens de entender o lado dela- diz

- Eu entendo o lado dela, eu sei que fui um estúpido do caralho, eu tenho de me desculpar outra vez.- digo- Ela está mesmo ali embaixo, tenho de falar com ela!- acabo

- João, dá-lhe mais tempo- diz

- Eu estou a tentar. Mas eu não consigo ficar longe daquela miúda! Eu não sei o que se passa comigo!- digo sentado na cama com as mãos na cabeça

- Eu sei muito bem o que se passa contigo, João, isso é amor- diz- Tu amas a Magui!

- O problema é que ela não me ama! Ela nem me quer ver à frente!- digo

- Ela ama-te João, só tens de lhe dar um bocado de espaço, só por agora- diz

- Eu não consigo, Maria, eu tenho de falar com ela- digo a levantar-me

- Ela não quer falar contigo, João- diz

- Mas eu quero falar com ela, se ela não me ouvir escrevo um bilhete- digo

- Vai atrás dela, então- diz e eu desço as escadas a correr

Ela estava com o meu pai na sala a ver um jogo de futebol qualquer, é o que eles fazem para se distraírem.

- Posso falar contigo?- pergunto à Magui

Ela olha para trás, já estava com saudades daquele olhar.

- Ok- ela diz e levanta-se

Nós vamos até ao jardim da casa e sentamo-nos num banco que lá tinha, era o sítio que eu ficava com a minha mãe quando alguma coisa estava mal.
Agora não estou com a minha mãe, mas estou com uma pessoa muito importante como a minha mãe é!

- Diz- ela diz assim que se senta

- Eu não fiz aquilo por mal,
eu não estava em mim,
eu não devia ter descontado tudo em ti,
eu fui muito idiota,
eu só quero que tu me perdoes,
eu não estou a aguentar isto sem ti,
eu preciso de ti
eu só me quero desculpar,
eu sei que já é tarde, mas,
eu estou a dar em doido sem ti!- acabo

- Neves- diz, quando ela diz "Neves" nunca é bom sinal- Eu quero mesmo perdoar-te, e acredita, eu também sinto muito a tua falta, eu vou estar aqui para ti, independente do que aconteça e especialmente agora, mas é melhor voltarmos a ser só amigos- diz

"Voltarmos a ser só amigos!"

A única miúda que eu já amei na vida está à dizer-me para sermos só amigos, eu fudi tudo!
Tudo que nós tínhamos foi-se!

- E eu sei que nós éramos "ficantes" e éramos amigos, devia ter-te contado mais sobre o meu passado- diz- Eu sei quase tudo sobre ti e tu não sabes nada sobre mim- acaba

- A culpa não é tua, mesmo que nada do que eu disse se tenha passado, eu não devia ter gritado contigo, eu fui muito estúpido- digo

- Acho que os dois erramos então- diz

- O meu erro nem se compara o teu, e já é a segunda vez que erro contigo- digo a olhar para baixo- Entendo se já não quiseres a minha amizade, é na boa, eu entendo

- Não, sem a tua amizade eu não ia sobreviver- diz- Talvez eu tenha criado uma pequena dependência por ti, João- diz e os dois rimos um pouco

Eu ia dizer alguma coisa, mas a Maria chamou-me para irmos para o funeral.

- Merda- digo ao fim da Maria falar

- Vai correr tudo bem, João, eu vou estar contigo- diz

Como é que ela me consegue perdoar!?

Ela deu-me um abraço, e que abraço! Era o melhor abraço do mundo, depois do da minha mãe!
Tinha de ser o abraço dela, eu estou tão cadinho por ela!

Fomos para o carro com o meu pai e a Maria.

Quando chegamos à capela, estavam lá todos os meus familiares, também alguns amigos como o António, a Mariana, o Afonso, o Diego, o Rúben, o Edgar, o Hugo, o Tiago, o Neres e o Rafa.
Eu gosto tanto dos meus amigos, são eles que me fazem esquecer os problemas.

- Então puto?- pergunta o Rafa a abraçar-me

- Já estive pior- digo e dou um pequeno sorriso

A minha única missão para hoje era não chorar.

Todos os meus amigos me cumprimentam com um abraço.

Na capela só podiam entrar eu, o meu pai, os meus avós e a Maria. Mas a Magui vai comigo.

Acho que não estou pronto para olhar para a minha mãe num corpo desanimado.

- Tás bem?- pergunta a Magui a perceber o meu nervosismo enquanto caminhavamos para a capela

- Acho que não- digo a tentar não chorar

- Tem calma- diz e dá-me a mão- Eu estou aqui!

As palavras e o seu gesto tranquilizou-me. Não se como ela tem tanta facilidade em acalmar as pessoas.

Entramos na capela e espreitamos para o caixão, os 6 juntos.

Ouço a minha irmã e a minha avó chorarem enquanto se afastam do caixão.
Eu estava tão assustado com isto tudo!

Aquilo não era nada fácil...

A Magui olha para mim e abraça-me, assim era difícil não chorar.

- Podes chorar- diz no meu ouvido

- Eu não quero chorar- digo no seu ouvido

- Chora, João, deita tudo cá para fora- diz

Falhei na minha única missão para este dia e comecei a chorar muito

Ela puxa-me ainda no abraço para umas cadeiras que tinham dentro da capela, onde estava a minha avó e a Maria.

- Tem calma Joãozinho- diz a minha avó e põe a mão nas minhas costas

Eu e a Magui continuavamos abraçados, o que seria de mim sem ela.

Como é que ela passou por isto com 12 anos? Eu nem com 90 ia conseguir suportar esta dor!

Olho para o caixão e vejo o meu avô e o meu pai também a chorarem abraçados.

Isto é tão triste! Estava um clima tão pesado naquela capela, estava toda a gente a chorar. Eu odeio tanto isto tudo!

Vizinha- João NevesOnde histórias criam vida. Descubra agora