Meus pais estão mortos!
Naquele dia fazia um frio mais intenso do que os outros, ou talvez fosse apenas o mal-estar de Ayo. A casa era tão grande e tão cheia e vazia, as vezes nas noites daquela primeira semana ela acordava sentindo que estava perdida e demorava para entender que estava em seu lar, que aquelas paredes e lençóis finos eram dela, que aquilo tudo era seu e que ela não estava invadindo a casa de ninguém, entretanto, a alma sentia-se perturbada. Quando se levantava suando por conta de seus pesadelos tocava a cama buscando Akin e percebia que não tinha tido pesadelo algum e que o homem estava mesmo morto, que a pele um dia quente e escura estava agora fria e pálida, enterrada sob a terra fértil do lugar em que os dois nasceram.
Então ela chorava como um filhote faminto em busca da mãe, chorava porque ela mesma era um filhote faminto chorando pela sua mãe, pensava no pai e quando caminhava por todos os mortos sua mente se tornava pesada, ela tentava se esquecer com o chá, com as aulas, com as plantas, pensava em redecorar tudo para se sentir menos deslocada. Nada.
Sabia que Leandro escrevia constantemente sobre seu comportamento, ela sabia porque quando a resposta chegava ela encarava o selo da família do alfa naqueles papéis e sentia-se sendo perseguida, o governante tinha as vistas sempre nela e escrevia tudo, se chorava ele escrevia, se ria-se de uma piada ele escrevia, se bufava sobre algo ele escrevia. Sua alternativa era ficar só em seu quarto, mas então Eleni vinha, perfumava tudo ao redor e insistia que fizessem pequenas caminhadas para esquentarem o corpo, ela dizia, deveria se vestir com as melhores roupas e as idas às lojas eram constantes. Ayo se sentia uma menina, os comerciantes olhavam para ela com todo tipo de olhar, para os mais gentis ela sorria, para os que a desprezavam ela devolvia o mesmo desprezo, no final das compras elas deixavam para trás um tipo de recibo que valia bem como ouro. Aparentemente o alfa dava aqueles papéis e trocava por coisas.
Os vendedores ficavam curiosos quando notavam o símbolo de realeza que a ômega usava, todos sabiam que aquele era um broche de concubina, olhavam-na mais e mudavam a maneira de se agir, alguns porém, não disfarçavam o choque de ver aquela mulher como concubina, "por que uma mulher como essa?" Ela escutava as risadas e sussurros, odiando tudo e querendo ir para a sua casinha-não-lar imediatamente. Eleni insistia para que ficassem porque ela precisava de mais e mais roupas, sempre. Mas a serva não conseguia ver a dor nos olhos escuros, estava muito ocupada pensando na própria vontade de fazer sua senhora parecer a mais bonita, a mais sagaz e diversas outras coisas.
A professora era tanta coisa, parecia uma mãe, depois uma amiga e por fim uma inimiga, tinha um ar de superioridade do qual a aprendiz não tinha certeza se poderia reproduzir. Se nervosa errava, se errava levava broncas, às vezes pequenos tapas e Ayo perdia a paciência, quando acontecia ela queria morder a mulher com as presas afiadas até rasgar a carne. Nunca tinham batido na pele da aluna, nem seus pais, nem marido ou quem quer que fosse porque ela mordia forte em troca, queria dilacerar a pele, mas não o faria. sentava-se melhor, ouvia mais, falava com mais dicção e estava aprendendo a utilizar da sua pouca expressividade para carregar um ar de mistério. Passava muito tempo estudando os livros de Alexia, tinham tantos, alguns até estrangeiros, um tinha imagens de nudez e posições sexuais, Ayo tentou a jogar esse fora, mas foi pega e reprimida.
Sua rotina era mais difícil do que em sua antiga casa, pelo menos lá fazia o que queria e ninguém a impedia mesmo se tentasse, até aquele dia em que o beta fez aquilo com ela e sua vida virou de cabeça para baixo. Ou talvez tenha sido quando o alfa colocou os olhos no corpo magrelo.
- No que minha senhora pensa? - Sua atenção voltou-se para Eleni que estava perto de si.
A ômega bordava.
- No quanto eu espero que o inverno acabe logo para eu plantar tudo que quero. - Suspira longo.
- Podemos comprar flores para decorar a vossa casa.
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O Alfa Alexander - ABO
RomanceNa matilha de Ayo todos a acusavam de bruxaria, aqueles que eram muito próximos dela morreram e por isso o título que a acompanhava. Quando o futuro alfa de sua matilha a escolhe como concubina ela precisa ir para a capital e se adaptar a uma vida q...