Quarto Capítulo: O Alfa Alexander

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Presente chinês e bebês que não virão

A viagem para a capital iria tomar alguns dias, o suficiente para Ayo se frustrar ainda mais por estar passando por tudo aquilo, estava mal-humorada como nunca. Devolverá o vestido rosa para a casa do beta e tentou ao máximo ignorá-lo, mas ele em sua audácia decidiu comemorar que uma ômega de sua vila havia sido escolhida como possível alfa, "hipócrita" ela pensava. Sabia que o ruivo era um homem excêntrico, contudo agora questionava sua sanidade, parecia orquestrar tudo para provocar a jovem que não era conhecida pela paciência, era uma loba raivosa e solitária, ou pelo menos era o que ela desejava depois da morte de Akin.

Pegava-se tendo memórias constantes dos anos em que cuidou dele, a sogra que lhe ofereceu o divorcio tantas vezes ouvindo diversos nãos em resposta. Akin era seu amor e enquanto podia falar era o sol dos dias de sua esposa, conversavam sobre todas as coisas que podiam, e apoiavam um ao outro, o rapaz tinha planos e sonhos. Ela nunca contou sobre a proposta para o fim da união, tinha medo de lhe quebrar o espírito, era esperançosa pela cura e rezava por ele, tanto. Plantava o que ele gostava de comer quando podia e havia aprendido muito sobre plantas com o sogro que de forma relutante a ensinou, esse não pensava que mulheres pudessem cuidar de outras coisas senão das crianças e da casa, mas o caso da nora era especial. Ela tinha aqueles olhos grandes que pareciam julgar-lhe a alma caso não fizesse aquilo que lhe pedia, e claro, cuidava do filho quando poderia apenas devolvê-lo à família.

E agora ela estava só, havia organizado a casa e chorado pelos dias de preparação para a despedida, mal suportando a ideia de abandonar o lar de seus pais, isso quase a matara, queria criar os filhotes que nunca teria bem ali, educá-los a maneira imigrante, ensiná-los a língua de seus antepassados e as cantigas dos deuses.

- Dàda mora na capital com o marido. - Foi tirada de seus pensamentos com a voz de sua sogra tentando animá-la.

As duas faziam costuras, consertavam roupas com furos e organizavam o enxoval para a nova moradia da ômega.

- Faz tempo que não a vejo. Desde que se casou ela pouco veio para Oṣupa. Menos ainda ver o irmão. - A última parte saiu sussurrada.

- Ela está empolgada para te ver, enviei uma carta através de Charles e ela me respondeu tão contente... Ela não pôde vir para o funeral porque está grávida e o marido não quer ela longe. Quando chegar a sua vez irá entender.

- Emi kii yoo ni awọn ọmọde!

- Não fale algo como isso jamais! Você terá muitos filhos Ayo!

- Como, se o pai deles está morto?!

- Sua mãe estaria tão brava se te visse falando assim.

- Mas ela também já me deixou. - Não tinha a intenção de chorar na frente da mais velha, mas sabia que aquele assunto não levaria a outro lugar.

- Você é tão bonita e tão... Tão orgulhosa. É mesmo filha de seu pai.

- Papai não deixaria Alexander me levar embora e nem Charles me acusar de bruxa. Só passo por isso porque sou uma ômega vivendo no meio dos lobos-maus. Eu deveria ter ido junto com Akin.

- Awọn ọrun ti o dara! Essa sua boca tem estado tão árida, minha Ayo nunca foi assim.

- Essa é a nova Ayo.

- Não existe nova Ayo ou velha Ayo. Você é e sempre será a mesma loba. A mesma que corria atrás de coelhos quando apenas os meninos podiam fazê-lo, a mesma que voltava para casa toda suja de terra de sair brigando por algo que considerava justo. Você só cresceu um pouco mais.

- Acho que eu morri mesmo.

- Ẹniti o wa laaye ko kú, Ayo. Isso é, quem escreve sua felicidade é você.

O Alfa Alexander - ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora