Mhor, o reino do norte

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O coração de Irina já estava estabilizado, isso era sinal que o veneno finalmente tinha passado. Resquícios da dor ainda incomodavam, e com dificuldade ela se ergueu. Os olhos tom Ocre da rainha continuavam a encarar Kali, estava em dúvida se aquele tinha sido um plano genial ou simplesmente insano, enquanto alongava o corpo tentava recapitular tudo o que havia acontecido naqueles últimos minutos.

Durante a viagem que fizeram até o meio da montanha, Kali tinha colocado estrato de Feamus em um pequeno recipiente circular, entrara em sua cabeça para que Irina quebrasse o frasco e logo em seguida, sofresse as consequências de tal ato, contudo o plano não consistia em feri-la e sim tornar a demonstração de mortalidade da rainha uma distração para que ele conseguisse o extrato realmente potente que encontrava sob a guarda de Malia mesmo que para derrubar as três fosse preciso derrubar a si mesmo, desse modo Irina poderia prosseguir até o topo ao encontro da deusa. De fato, quando sistematizadas, todo o plano dele tinha sentido, porém o que mais preocupava Irina era o sacrifício de Kali, altruísmo não é sua característica marcante, a maioria dos imortais não se sacrifica por ninguém. Irina sabia exatamente o que Kali pediria em troca de toda a ajuda oferecida, estava mais preocupada do que nunca em saber o que ele faria com o que foi prometido já que estava disposto a sacrificar-se tanto. Irina tocou sua nuca e sentiu sua mente fervilhar com as memorias do dia em que conheceu o imortal.

***

No último verão:

O reino de Mhor celebrava a decima terceira lua do ano, representando assim o fim do primeiro ciclo do reinado da rainha, uma grande comemoração estava planejada para esse dia, um dos mais importantes para um monarca. Os deuses tinham permitido prosperidade ao reino além de saúde e benevolência à sabia rainha. A decima terceira lua marcava a vida de um monarca para sempre, pois nesse dia por tradição receberiam o símbolo de sua fidelidade ao norte. Governar sempre tinha sido símbolo de tradição em todos os quatros reinos, e em Mhor o reino do norte as tradições são seguidas. A cerimonia de coroação ocorre na primeira lua do reinado, mais só doze luas depois o pacto do governante é concretizado. Nesse dia a rainha seria Mhor e Mhor seria a rainha.

A celebração consistia em uma cerimonia fechada, apenas os anciões participariam cuidando de todo o ritual. O monarca deve receber os símbolos de sua terra, para que assim eles sejam um só.
O dia estava quase no fim, a rainha debruçada sob o parapeito da torre leste via o sol se por, em algumas horas seu reinado não teria fim enquanto continuasse a respirar, a cerimonia marcava a perpetuidade de todos os reis e rainhas, quando a lua estivesse bem em cima do castelo sua alma seria dividia com o reino mais que nunca, seriam um só. Um ano inteiro tinha se passado, o caminho até o trono não tinha sido uma trilha fácil a ser percorrida, tinha dúvidas se algum dia o caminho seria fácil.

Ela respirava fundo enquanto observava tudo de sua janela, o sol já estava se pondo, os últimos feixes aqueciam o seu corpo de forma calorosa. Irina estava determinada, seu olhar fixo em toda Mhor via o quanto aquela cidade merecia um bom monarca uma ponta a outra precisava ser protegida, e nessa decima terceira lua ela concretizaria esse desejo. Sempre prometeu fazer tudo o possível para proteger seu lar, mas como todo bom sábio, temia que um dia esse senso de proteção partisse para o ataque do mesmo jeito que ocorreu em Arthriz, o reino do sul.

Arthriz, estava logo acima de Mhor e era o único reino banhado pelo mar, o rei do sul vinha de uma longa linhagem de reis e Minos quando jovem, logo após a morte de seu pai, demonstrou ser mais capaz de proteger Arthriz do que qualquer outro, de inicio buscava proteger a todo custo o sul, com o tempo o desejo por poder tornou-se mais forte do que qualquer coisa. Sempre quis possuir algo maior, em alguns anos começou a ultrapassar os limites do reino, atacando ate então o pacifico reino do leste, após conquista-lo, queria e desejava mais, o leste era muito pequeno para a fome de poder que iniciará um processo corrosivo em sua alma, passando assim a desejar o norte. O norte estava até então intocado, protegido por uma densa barreira de árvores que dificultavam invasões, funcionando como o escudo de Mhor, reino pacifico que agora acabará de receber um monarca digno de poder sem linhagem de "sangue". Tudo isso era uma piada para Minos, pois árvores poderiam ser queimadas e uma rainha que não tem linhagem não é merecedora do trono, aquele reino ao norte tão rico e prospero tentava-o como uma sereia tenta um marinheiro, Minos pretendia não apenas dominar os quatro reinos, ele tomaria a rainha bastarda como sua.

Victor sempre tivera a sorte de chegar nos devaneios mais profundos da rainha.
- Irina você esta pronta para ? - Victor encarava a silhueta da rainha de maneira peculiar e lembrará de como as coisas mudaram em um ano, as curvas da rainha representava uma dessas mudanças.
Virando-se calmamente de modo usual.
- Estou pronta.
- A rainha parece um pouco nervosa, ou estou errado?
Antes de responder, Irina passou alguns segundos em silencio. Esse dia era um dos mais importantes de sua vida, a cerimonia representava um dos maiores passos para todos, seria uma mentira deslavada dizer que não estava. Acenando com a cabeça Irina afirmou que Victor estava certo.
- Muito bem, isso é completamente compreensivo.
Victor foi em sua direção, debruçando-se sob o parapeito.
- Você esta bem, tem alguma preocupação?
- Não nenhuma e você? - Um sorriso forçado aparecerá nos lábios dele, ele era um terrível mentiroso, essa dentre outras era uma das qualidades que Irina gostava tanto no amigo.
- Victor o que perturba você?
- Toda essa paz me perturba.
Irina parecia curiosa com o comentário, com certeza sabia exatamente do que se tratava. Todo esse ultimo ano tinha sido extremamente calmo, e as noticias da guerra que assolava os reinos do leste e sul chegavam a todo momento. Mhor, sempre pacifica temia a guerra como qualquer povo sensato.
- Entendo - Irina parecia hesitar - Depois de hoje irei tomar providencias.
- Que tipo de providencias?
- Victor, se a guerra chegar a Mhor, estaremos preparados.
Antes que Victor prosseguisse a conversa, uma voz grave soou.
- Majestade, esta na hora - Melanie uma das servas esta a pouco metro dos dois, o rosto magro estava mesclado com excitação e nervosismo.

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