Vi ele de bigode

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Eu e joaninha fomos para um vagão onde ele havia matado um homem chamado lobo, por algum motivo que eu não tô nem me esforçando para entender. A questão é que já devíamos estar fora desse trem com a maleta, mas ainda estamos aqui

– Esperem até a próxima parada pra sair – Sandra falou

Nós andávamos para fora do vagão até outro com passageiros

– Não acredito que você matou aquele cara – Falei para o joaninha

– Ele é que tentou me matar e acabou morrendo por acidente

– Você matar ele foi acidente?

– Foi

Suspirei. Uma hora esse homem diz ser paz e amor e outra hora tá matando gente por "acidente"

Eu andava na frente dele, até atravessarmos uma porta automática e eu ver alguém que eu realmente não esperava - e muito menos queria - ver agora

– Merda – Falei

– Merda o que- Ai, merda – Joaninha falou ao ver o homem trajado de azul há alguns metros de nós

Muita merda, muita merda mesmo. Essa pode ser a missão mais importante da minha vida e esse cara tá nessa porra de trem japonês junto comigo, incrível

Não que fosse surpreendente meu ex estar aqui, digo, ele é um assassino tão profissional quanto eu, mas mesmo assim eu não estava pronta para vê-lo agora

– Conhece ele? – Perguntei ao joaninha

– É, conheço. Quase fui morto por ele uma vez, e você?

– Ele é alguém do meu passado, alguém que eu não queria ver hoje

– Ah, ele é o... – Sandra não completou a frase, sabia exatamente quem ele era e quem ele era para mim

Dei meia volta e já estava no vagão anterior, andando de um lado para o outro pensando em como não ser vista mesmo estando tão próxima dele

– Ele tá vindo bem na nossa direção, e eu acho que vi o outro na plataforma... – Joaninha alertou

– O outro?

– É, o irmão gêmeo dele, mas acho que eles não são gêmeos

– Todo mundo sabe que são gêmeos – Sandra disse do nada – Bom, agora já sabemos quem é o dono da mala

Ele já estava bem próximo, por impulso agarrei o joaninha e o puxei para uma cabine vazia. Desnecessariamente desconfortável

– Não é disso que eu tô falando, mas eu acho que devemos ter uma conversa bem séria sobre as pessoas com quem nos relacionamos – Joaninha disse à Sandra sussurrando

Estávamos na cabine apertados, meu ex estava bem ali, ao nosso lado prestes a atender o telefone

– Tem noção do quão perto o seu rosto está do meu? Não é muito reconfortante

– Fica quieto – Falei para o homem que estava perigosamente perto demais de mim

– Alô? – Ele atendeu ao telefonema

Suspirei fundo ao ouvir sua voz novamente. Estava igual, infelizmente estava igual

Ele falava com alguém firmemente, talvez fosse seu chefe. Tentando encontrar uma posição menos constrangedora naquele espaço pequeno, me mexi milimetricamente e já vi um negócio com peso caindo, felizmente joaninha segurou antes que caísse no chão e fizesse um barulho alto

Ele encerrou a chamada, suspirou e se olhou no espelho. Ele estava de bigode... Sabia que eu odiava bigodes

O momento tão inesperado havia chegado. Ele olhou em nossa direção, estávamos bem ao seu lado, era impossível não reparar

– Puta merda! Que susto, porra... – Ele disse com a mão no coração, tentando enxergar bem o que via naquela cabine

– Merda, merda, merda... – Falei baixo já vendo a merda que isso ia dar

– É que é grosseria falar no telefone no trem... no Japão... – Joaninha provavelmente deve ter acabado de inventar a desculpa mais imprestável da sua vida

Suspirei decepcionada fechando os olhos

– Espera um pouco... – O cara à nossa frente se aproximou puxando a cortina da cabine, logo vi a expressão de choque em seu rosto – VOCÊ?!

Trem bala - Tangerina (ATJ)Onde histórias criam vida. Descubra agora