Ao cair da noite o hotel ganha ainda mais vida com as dançarinas e viajantes com tantas histórias que seriam necessários anos para que seu repertório findasse. Havia pessoas de todo tipo e todo lugar e gente de lugar nenhum, andantes tão misteriosos quanto noite de lua cheia.
A noite estava cada vez mais animada e à medida que as horas passam, novas histórias surgem, assim como novos relacionamentos que não durarão mais de uma noite -alguns duram vidas, mas tudo depende da menina-.
A noite acaba com duas meninas entrando no meu quarto achando que eu estava embriagado. Uma cheia de amor e a outra cheia de coragem. Enquanto a loira de olhos castanhos apelidado de Mary Angel estava à espreita de uma oportunidade, Camila pedia atenção. Decido me dedicar apenas à Camila e peço que Mary Angel se retire.
Quando amanhece, decido ir me olhar e eis que me surpreendo quando percebo que não tenho reflexos. Meu reflexo simplesmente desapareceu, junto de minha sombra. Ao descer para o salão, pergunto ao barman se ele já viu algo parecido e ele me informa que os espíritos haviam tomado ambos e se eu quisesse recuperá-los deveria retornar ao Vale das Almas Solitárias.
Tomado de raiva, determinanação, imprudência e mais coragem que costumava ter, fui atrás do que é meu. Comovidos com minha história e cientes dos perigos do Vale, meus companheiros de copo vestem-me como um verdadeiro guerreiro.
Eu, que costumava andar com uma blusa social branca, jaqueta de couro, calça preta e botas, me vi com uma reluzente e dourada armadura, escudo de aço forjado na Montanha da Perdição e a lendária Espada Magnatis. Eu nunca tinha visto nem pêgo em nada parecido antes, mas topei o desafio. Saio do hotel e vejo que Camila, um dos casos de amor que duraria para a vida toda, me espera sobre um cavalo branco. Ele era um raça pura branco como a neve, da cabeça ao rabo e rápido como raio que desce e seu nome é Darius.
Depois de me despedir sigo viagem determinado. Meu primeiro obstáculo é ao retornar ao monte que dá acesso ao Vale. Terei de deixar Darius e prosseguir sozinho. Despeço-me do cavalo e vejo a preocupação em seu olhar, a mesma preocupação que vi em Camila quando tive certeza de que com ela seria diferente. Lembro do que me falaram no salão e me apresso.
Empunho escudo e espada e sigo pela pequena caverna de acesso sentindo um frio incomum. Depois de cerca de cinco passos começo a ouvir as vozes que, à medida de avanço, parecem ganhar força, como se os espíritos estivessem se juntando. Como dito por um senhor muito simpático, ainda no salão, sou atraído para minh'alma e encontrá-la não é problema. Problema é o que encontro junto a ela: um ser feito de sombras mais alto que qualquer homem já visto. Ele aparentava ter a força de dez homens e eu ainda estava em desvantagem numérica, mas não foi problema, porque assim que entrei na caverna vieram um a um os três seres que pareciam ser lacaios.
O primeiro lacaio desferiu um ataque tão displicente que eu simplesmente dei um passo e o decaptei. Já o segundo, investiu com força e velocidade, mas até mesmo eu consegui defender os ataques e o decaptei de mesma forma, com um ataque em diagonal, rasgando completamente seu pescoço.
O terceiro veio de maneira diferente: me estudou bastante antes de desferir o primeiro ataque. Estávamos nos estudando enquanto andávamos em circulo quando ele finalmente atacou. Foi tão rápido que por pouco sua estocada não arranca meu olho esquerdo e fura parte da minha cabeça. Com o susto, acabo por me desequilibrar, dando o mais uma chance de me atacar, bem como ele faz. Num ataque veloz, deu uma estocada mirando meu pescoço, mas consegui levantar o escudo a tempo, fazendo com que a espada subisse. Aproveitando o impulso bati o escudo no que deveria ser o rosto e ele cambaleou. Foi o suficiente para que eu pudesse dar três ataques diagonais. Um da esquerda pra direita que cortou-lhe fora o braço. O outro da direita pra esqueda que abriu-lhe a armadura negra e o último - da esquerda pra direita- formou um "X" em seu peito. Para terminar o trabalho o decaptei tão friamente que ao terminar, me assustei, porque eu segurei sua cabeça, deixei sua garganta à mostra e cortei fora. Ao terminar, levantei sua cabeça e a joguei para seu mestre.
O monstro feito de sombras desferiu uma risada tão gélida quanto ferro no pico de uma montanha. A risada me fez temer por um momento, mas ao ver meu reflexo e minha sombra ganho coragem novamente. Meu reflexo estava como quando eu havia passado ali pela primeira vez: era magro, tinha 1,81 de altura e tinha cabelos negros. Seus olhos eram castanhos escuro e pareciam estar perdidos, assim como eu estava na maior parte do tempo. Estava vestido com uma camisa social quase que justa, mostrando que mesmo magro possuía músculos bem definidos, calça marrom e botas pretas. Lembrar como eu estava e como estou me fez refletir o quanto cresci no decorrer desta jornada e perceber o quanto cresci, o que me deu ainda mais forças para continuar. Não é porque este monstro é quase duas vezes o meu tamanho e tão forte que posso sentir emanar poder dele que eu devo sentir medo.
Ele começa a se aproximar aos poucos, sempre aumentando a velocidade, como que se adaptando a um novo corpo. A cada passo a velocidade era maior e força da pisada também, então quando ele estava na metade da caverna a mesma começa a tremer. Ergo minhas armas e fico no que eu imagino ser uma posição de defesa enquanto ele se aproxima e a cerca de dois passos, brande espada e para com a guarda baixa. Pouco a pouco ele começa a desferir o golpe, mas a ação foi tão lenta que consegui aplicar um golpe horizontal que cortou sua barriga da esquerda para a direita e logo após rolar para uma nova posição de defesa. O golpe pareceu inútil, pois o monstro continou abaixando a lâmina em direção ao nada. Pois mais que jorrasse um líquido negro que eu imaginei ser sangue, ele nada parecia sentir, e aquilo me incomodou, porque tenho certeza de que irei sentir muito caso ele acerte qualquer golpe em mim. Quando sua lâmina está na altura do que deveria ser minha barriga o monstro para, se vira para mim e corre na minha direção, já não tão travado quanto antes, mas não tão rápido e começa a atacar como uma máquina.
Dos cinco golpes proferidos, dois acertam o escudo, um atingiu o nada, outro o chão e o último golpe acertou meu braço. O corte não foi profundo, mas a dor foi tanta que não consegui mais erguer o escudo. Após me atingir ele parou novamente. Foi quando eu atravessei seu seu corpo com minha espada e comecei a rasgá-lo até a nuca, quando ele pareceu perceber e começou a jorrar mais do líquido preto. Ele começou a cair, o que facilitou o término do trabalho. Após dividí-lo da barriga à cabeça eu o decapito. Meu reflexo e minha sombra vêm ao meu encontro e saímos da caverna. As vozes não uivam com tanta força agora... Darius está à minha espera e se inclina ao ver que não consigo subir sozinho. Meu braço ainda está imóvel de tanta dor.
Chegando no hotel, Camila está pronta para me socorrer, como se soubesse que eu precisaria de um antídoto. Ao seu lado está uma jovem desconhecida.
-Olá, ela diz. E retribuo a saudação com um aceno de cabeça. Seu nome é Elizabeth e ela tem boas habilidades de cura. Em cerca de cinco minutos meu braço está bom novamente. Após acabar o serviço a jovem vai embora.
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Contos da Cidade Sombria
ФэнтезиPequenos contos e crônicas dos habitantes de uma cidade até então triste e sem vida.