Contos da Cidade Sombria

O aprendiz misterioso

Elizabeth:
Eu estava andando por um bosque nos arredores da cidade, quando uma pequena jovem olhou para mim e acenou. Retribuí o aceno e continuei meu caminho para as Montanhas Sagradas. Na terceira metade do caminho eis que a encontro novamente e acontece o mesmo procedimento. E a vejo novamente na última metade do caminho, quando ela vem até mim e elogia minha vestimenta. Eu agradeço e continuo meu caminho até perceber que tal menina me seguia de longe. Parei, olhei para trás e disse "Se quer vir comigo é melhor andar do meu lado". E ela veio correndo alegremente e fomos andando até o final do caminho, onde três trilhas se erguiam em diferentes direções.
-Muito bem. Você vai seguir a trilha da direita, que leva ao Monte do Sábio, ok?- Digo olhando para ela.
Ela acena a cabeça em sinal de afirmação.
-Tome aqui: estes são itens que você talvez precise. Dentro desta mochila há comida, água, roupas limpas e fósforos. Queria poder ir com você, mas tenho assuntos muito pessoais para resolver. Boa sorte!
Assim que termino de me despedir ela sobe a trilha quase que escondida entre uma floresta de pinheiros altos e fortes. Sinto algo de errado nesta menina, mas não vejo problema em protejê-la. Sigo pela direita, cuja trilha me leva à Montanha da Carne, onde os prazeres humanos se fazem presentes a todo instante. O caminho do meio leva à Montanha da Perdição e o que acontece lá, ninguém sabe.
O caminho é tranquilo. Por todo o caminho pude contemplar a floresta que a cada passo ficava mais longe, já que a trilha se erguia pela montanha. O ar ficava rarefeito, mas nada que eu já não estivesse acostumada. Chegando lá, a menina me espera com uma maçã na mão e me pergunto como será possível, porque eu a teria sentido e também porque as trilhas são em direções opostas.
-Como você chegou até aqui?
-Você precisa, eu apareço. - ela responde com a cabeça baixa e rosto corado. Tenho um mal pressentimento sobre esta menina. Agora mais que nunca.
-Certo, venha. Como você se chama? - pergunto
-Sou Mellanie Elancor, às suas ordens!
-Elizabeth Trish, às suas...
Começo a andar e ela me segue de perto, como que analisando todos os meus passos. Entro na feira abissal, a maior feira da Cidade e procuro por um bancário entre as inúmeras mesas que continham de tudo: desde corpos -vivos e mortos-, até chifres de Mamute. Todo tipo de mercadoria se encontrava ali. Eu estava à procura de um mercador chamado Edgar Tramposo, que vendia essências para feitiçaria. Ao encontrá-lo ele olha para a menina e logo depois para mim com cara pensativa. Num cumprimento mais caloroso que o normal, ele diz ao pé do meu ouvido esquerdo: "Tire-a daqui, cheira a problemas!". E são precisos dois olhares frios para o tranquilizar. Após pegar essência de Camélia e pó de samambaia saio do mercado.
Vou para uma caverna e acendo uma fogueira. Preparo os ingredientes e a poção fica pronta em cerca de cinco minutos. Bebo-a e durmo. Pela manhã, Mellanie não está mais na caverna, mas fora dela com um enorme e pesado tigre nas costas. Ela entra sorridente e diz "nosso café". O dia fica mais estranho à medida que as horas vão passado. Assim que acabamos o café da manhã ela surge muito à frente do caminho de repente e isto é mais poder que eu poderia imaginar. O ponto alto do dia é quando encontramos um ser da floresta e temos de lutar. Ela o elimina com apenas uma das mãos, somente conjurando uma chama no interior do monstro. Após esta cena, continuamos nosso caminho de volta à Cidade. Não queria adimitir, mas este caso está me intrigando por demais, chego a ficar com raiva. Esta menina tem muito potencial e muito mistério. Nem corpo tem para emanar tanto poder: é uma menina de no máximo onze anos e magricela. Carrega o selo do dragão, sinalizando sua realeza em seu clã. Era uma xamã, a mais nova que eu já havia visto em toda a vida.