Bom dia, Verônica

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São Paulo, 2023

POV Anita

-Delegada, saiu o edital de contratação do novo escrivão, ou melhor, escrivã- Lima me informa, pela manhã.

Lima é o meu funcionário mais fiel. Claro que isso é apenas porque ele tem uma paixonite estúpida por mim, mas que se foda. Ele é um idiota útil. Nosso último escrivão se demitiu há pouco tempo, os fofoqueiros dos corredores dizem que ele desenvolveu burnout ou qualquer merda desse tipo que inventam pra não fazer o trabalho deles direito.

-Finalmente, essa espelunca já não funciona direito com a equipe completa, imagina com desfalque... Quem sabe com outra mulher na equipe o trabalho ande pra algum lugar, já que esse monte de marmanjo só quer saber de conversar o dia inteiro. Cadê a ficha da escrivã?- pergunto, entediada.

-Está na sala do delegado, ele quer que você vá recebê-la com ele.

Me dirijo à sala do delegado titular, Carvana. Sim, o mesmo Carvana que estava lá quando entrei nesse mundo. Quando o conheci, achei que era uma pessoa importante, mas Carvana é apenas um bundão que faz tudo o que mandam. Felizmente ele se aposentará em um ano, e eu sou obviamente a favorita para ocupar o lugar de delegada titular da DHPP.
Chego na sala do delegado e tenho tempo apenas de ler o nome da nova escrivã até que ela bata na porta. Verônica Torres. Carvana vai até a porta de sua sala e a cumprimenta com um abraço.

-Verô, quero que conheça a delegada Anita.

-Muito prazer, delegada. Sou a sua nova escrivã.

-Prazer... "Verô"?- digo em tom de pergunta.

-Bem, posso dizer que eu e Verônica nos conhecemos de outros carnavais.- diz Carvana, divertido- Seu finado pai, também delegado, foi um grande amigo e Verônica é minha afilhada.

Torres, claro. Verônica era filha de Júlio Torres. O crápula pra quem Carmen havia me vendido há 13 anos atrás. Só de lembrar da cara dele tenho ódio e, de maneira inconsciente ou não, transfiro esse sentimento para sua filha materializada na minha frente.

-Seu pai foi investigador e delegado, né? E o que deu errado na sua carreira, escrivã?- pergunto- Brincadeirinha, é um trabalho digno como qualquer outro!- completo com um sorriso cínico após ver a cara de repreensão de Carvana.

Verônica era uma mulher bonita, realmente bonita. Tinha pernas torneadas, cintura fina e seios médios, aliados à uma bunda empinada de dar inveja. Seu cabelo estava com um corte na altura do ombro, era ondulado e escuro. Olhar marcado e olhos castanhos, boca bem desenhada. Não usava maquiagem, apenas lápis de olho e um piercing no nariz que a deixavam extremamente atraente. Verônica se limita a responder meu comentário ácido com um sorrisinho falso e desafiador e sinto que terei problemas com ela.

-Bem Verô, está dispensada. Nelson, nosso TI, irá te explicar o trabalho. Teremos um interrogatório às 10:00hs, quero você lá.

-Sim senhor, obrigada.

-Tenha um bom dia, Verônica.- digo, com desinteresse.

-Anita, Verônica é novata ainda, gostaria que tivesse um pouco de paciência com ela. Sabemos o quanto você pode ser implicante.- reviro os olhos ao ouvir o sermão do meu superior.- eu insisti para que o Delegado Geral enviasse Verônica pra cá para que eu possa ficar de olho nela!

-Não fale comigo como se eu fosse uma adolescente... Só quero essa mulher longe do meu caminho. Adestre bem a sua cria!

Saio da sala impaciente e peço para que Lima puxe a ficha da tal Verônica Torres. Porque Carvana queria fica de olho na enteadinha?
Casada, dois filhos. Há dez anos seu pai, Júlio Torres atirou na esposa e se matou em seguida. Fico em choque com essa informação e decido investigar mais à fundo. Ao que parece, o homem cometeu suicídio após ser acusado de corrupção pela polícia e estava investigando as acusações sobre o Orfanato Cosme e Damião. Essa é a versão oficial, mas posso ter uma ideia do que aconteceu de verdade...




Angels Like You- VERONITAOnde histórias criam vida. Descubra agora