𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐔𝐌
𝖾 𝗌𝖾 𝗍𝗎𝖽𝗈 𝖺𝖼𝖺𝖻𝖺𝗌𝗌𝖾 𝖺𝗆𝖺𝗇𝗁𝖺̃
Meus pais economizam dinheiro a minha vida inteira pra apenas duas coisas: minha faculdade e meu casamento. Hoje sou formada em Artes e trabalho na Galeria de Artes de Incheon dos meus pais, e ainda solteira. Heeseung é um amigo antigo da família; conseguiu se aproximar dos meus pais sendo tão versátil em tantos serviços: jardineiro, motorista e funcionário da mesma galeria que eu trabalho. Nossa proximidade foi culpa minha, confesso. Nos conhecemos no período da faculdade e namoramos por alguns meses até perceber que nenhum de nós queríamos ficar presos um ao outro, mas por ser meu primeiro namorado, meus pais o amaram mais do que eu amei. Hoje ele é um amigo da família, e meu amigo, ao menos quando eu preciso dele.
— Não tá com frio? — ele questionou, me passando a garrafa térmica com chá de camomila
— Você deveria estar com mais frio do que eu. — disse aquecendo minhas mãos na garrafa, mesmo que minhas mãos já estivessem de luvas, e ele, simplesmente não achava isso necessário
Nesse inverno, confesso que observar o Rio Han é uma das minhas coisas favoritas. Prefiro o frio do que o calor, já Hee prefere calor ao frio.
Sempre digo que ele é minha última opção pra qualquer oportunidade de andar pela cidade em qualquer passeio, mas sempre acabo convidando sem pensar muito no assunto. Poderia muito bem ter convidado minha colega de quarto, Nayeon, mas ela dificilmente sai de casa.— Sempre que você fica doente, demora pra melhorar — ele disse, colocando o próprio cachecol ao redor do meu pescoço — E sempre sobra pra mim.
Esbocei um sorriso irônico.
Essa relação entre o Heeseung e eu, é um tanto estranha. É como se nós dois tivéssemos aceitado o fato de ignorar completamente qualquer relacionamento passado que já houve entre nós dois, seja por me trair com minha melhor amiga da faculdade, ou por eu ter mentido para ele, justo no dia em que ele me pediria em casamento, mas tive medo.
A gente sabe oque aconteceu, só preferimos não comentar. Seja por timidez ou simplesmente humilhação.
O Heeseung ganha um salário baixo por cada mínima coisa que ela ajude nossa família, e isso inclui ser meu acompanhante nas horas que eu decidir que preciso de acompanhante. Ele pode até não gostar de estar comigo, mas está sendo pago pra isso.Me levar pra casa também faz parte do trabalho. Apesar das condições, o Hee economizou a vida toda por um jeep renegade, e mesmo que seja usado, o Heeseung trata ele como um filho.
Ele me acompanhou até a porta do meu apartamento, com os olhos cansados como de quem já havia me aguentado o suficiente por um dia inteiro. Era até engraçado, e meio sádico, vê-lo assim.
— Obrigada por me fazer companhia hoje. — disse enquanto desenrolava o cachecol do meu pescoço — Mesmo nesse frio.
— Me pagando, eu te acompanho até a lua. — ele riu, se abaixando para que eu pudesse colocar o cachecol de volta no pescoço dele — Mas é sério, não fica doente.
— Não vou ficar, a Nayeon pode cuidar de mim.
E citando o diabo, conseguia ouvir através da porta claramente um copo se quebrando na cozinha. Sendo assim, mordi meu lábio na espectativa que ele não tenha escutado, mas ele claramente escutou.
— Bem — ele disse quase como um suspiro — Te mando mensagem depois pra saber como você tá.
— Sem problemas. E fala pros meus pais se passarem o pagamento depois. — ele assentiu em resposta
Eu estendi meus braços em sua direção, com um sorriso irônico no rosto, pedindo um abraço, mas ele apenas enfiou as mãos nos bolsos, estalou a língua no seu da boca e deu meia volta.
Ótimo papo amigão!Cada um seguiu seu caminho, e o meu, eram cacos de vidro espalhados pelo chão, mas que ao menos, a Nayeon já estava limpando.
Pode até ser estranho, ser de uma família rica e ter de sustentar um apê com uma das minhas melhores amigas. Mas a realidade é que o dinheiro que eu tenho agora é inteiramente do meu trabalho, que nem ao menos tem um salário decente, mesmo que seja a empresa dos meus pais, o privilégio do nepotismo não reinou sobre mim.Peguei uma caneca de leite quente, colocando sob a mesinha e me jogando na cama de braços abertos enquanto murmurava de cara para o travesseiro. Só de pensar em acordar na manhã seguinte para mais um dia de trabalho me dava dor física.
A Nayeon estava na cama ao lado, já de pijama, com o tablet apoiado nas pernas e com os olhos vidrados na tela.— Você demorou. — ela disse sem desviar a atenção
— Queria arejar a cabeça hoje — afirmei, virando minha cabeça para sua direção — Não quero trabalhar amanhã.
— Ninguém quer, amiga.
A Nayeon também trabalhava comigo, no mesmo departamento. Como vizinhas de escritório, ficamos bem próximas em pouco tempo.
Ela desligou o tablet por um instante, se levantando da cama e pegando um envelope em cima do móvel.— Chegou uma carta pra você, dos seus pais. — ela alertou, enquanto analisava o envelope — Carta é uma coisa tão antiga.
— Não é uma carta — disse, fazendo um esforço pra me levantar — É um extrato bancário. Meus pais me mandam todo mês pra contabilizar o total que eles estão guardando até meu casamento.
A Nayeon assentiu, e tirou o papel do envelope, e quanto mais seus olhos desciam pelo papel, mais seus olhos se arregalavam.
— 8 milhões? — ela alternava entre olhar para mim e para o papel — Seus pais estão guardando 8 milhões?
— Eles querem que eu tenha uma vida estável e um casamento memorável. — peguei o papel das mãos dela — Eles planejam isso a um bom tempo.
— E você vai receber tudo isso quando se casar?
Eu a olhei, e assenti. Amassando a carta e a enfiando dentro da minha bolsa, logo voltando a me sentar na cama.
— É um investimento pro meu futuro, quando eu me casar.
— E se você não precisar se casar? — ela se sentou ao meu lado, com os olhos bem abertos como se esperasse uma resposta minha
Franzi o cenho, e escutei o plano atentamente, e sinceramente, a ideia de me casar com meu ex-namorado de faculdade, pela primeira vez, não me pareceu uma ideia tão ruim quanto parecia minutos atrás.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝗗𝗼𝗻'𝘁 𝗪𝗮𝗻𝗻𝗮 𝗕𝗿𝗲𝗮𝗸 𝗨𝗽 𝗔𝗴𝗮𝗶𝗻 - 𝘩𝘦𝘦𝘴𝘦𝘶𝘯𝘨
FanfictionAlgumas coisas são grandes demais para serem vistas. Algumas emoções enormes demais para serem sentidas. Um pedido de casamento deveria ser um final feliz. Mas pra mim, é o começo de uma batalha por dinheiro. Não quero te magoar, mas e...