- Me torno um fugitivo conhecido- leu Léo.
- Um capítulo que você não se ferre é pedir muito?- perguntou Jason
- Ahn, sim- disse Percy.
Eu adoraria contar que tive alguma revelação profunda enquanto caía, que aprendi a aceitar minha própria
mortalidade, que ri em face da morte etc.
A verdade? Meu único pensamento foi: Aaaaarggghhhh!
O rio vinha em minha direção na velocidade de um caminhão. O vento arrancou o fôlego dos meus pulmões. Torres, arranha-céus e pontes giravam entrando e saindo do meu campo de visão.- Isso não deve ter sido muito confortável- disse Silena.
- E não foi, só recuperem meus sentidos quando caí na água- disse Percy.
E então...
Cata-puuum!
Um turbilhão de bolhas. Afundei nas trevas, certo de que acabaria engolindo por trinta metros de lama e perdido para sempre.
Mas meu impacto com a água não doeu. Eu estava agora descendo lentamente, com bolhas passando por entre meus dedos. Fui parar no fundo do rio, em silencio. Um peixe-gato do tamanho do meu padrasto se afastou com uma guinada para a escuridão. Nuvens de lodo e lixo nojento - garrafas de cerveja, sapatos velhos, sacos plásticos - giravam ao meu redor.- Uma palavrinha com os Deuses do Rio seria bom- disse Artemis fazendo careta.
- Vou ver se consigo conversar com eles depois que terminarmos a leitura- disse Poseidon.
Àquela altura me dei conta de algumas coisas. Primeiro: eu não tinha sido achatado como uma panqueca.
Não havia sido assado como churrasco. Não sentia nem mesmo o veneno da Quimera fervendo em minhas veias. Eu estava vivo, o que era bom.
Segundo: eu não estava molhado. Quer dizer, conseguia sentir a friagem da água. Podia ver onde o fogo em minhas roupas tinha sido apagado. Mas, quando toquei minha camisa, parecia perfeitamente seca.
Olhei para o lixo que passava flutuando e agarrei um velho isqueiro.
Sem chance, pensei.
Risquei o isqueiro. Uma faísca saltou. Uma chama pequenina apareceu, bem ali, no fundo do Mississipi.
Agarrei uma embalagem ensopada de hambúrguer na corrente e o papel secou imediatamente. Queimei-o sem problemas. Assim que o soltei, as chamas bruxelearam e se apagaram.- Legal- disse Travis.
- Seria mais legal se não essa coisa não estivesse no rio- disse Apolo.
A embalagem voltou a se transformar em um trapo viscoso. Esquisito.
Mas a idéia mais estranha me ocorreu por último: eu estava respirando. Estava embaixo d'água e respirava normalmente.- Você se acostuma com o tempo- disse Poseidon.
Fiquei de pé, afundado até as coxas na lama. Sentia as pernas tremulas. As mãos tremiam. Eu devia estar morto. O fato de não estar parecia... bem, um milagre. Imaginei uma voz de mulher, uma voz que parecia um pouco com a da minha mãe: Percy, como é que se diz?
- Ahn... muito obrigado. - Embaixo d'água, minha voz soava como em gravações, idêntica à de um garoto muito mais velho. - Muito obrigado... pai.- Educação em primeiro lugar- disse Rachel.
Nenhuma resposta. Apenas o fluir escuro do lixo rio abaixo, o enorme peixe-gato que passava deslizando, o brilho do sol poente na superfície da água muito acima, deixando tudo da cor de doce de leite.
Por que Poseidon me salvara? Quanto mais eu pensava nisso, mais envergonhado me sentia. Então, eu tivera sorte algumas vezes. Contra algo como a Quimera, eu não tinha a menor chance. Aquela pobre gente no Arco provavelmente virara torrada.
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Lendo Percy Jackson e o Ladrão de Raios
Novela JuvenilA história vai se passar logo após a batalha no labirinto O Luke não é o traidor é outro personagem que eu criei. Todos os créditos vão para Rick Riordan.