Almas Amálgamas - Parte VII

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Todo seu corpo doía violentamente

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Todo seu corpo doía violentamente. Sangue fresco e seco se espalhava pelos ferimentos e suas pernas mal se moviam após terem sido espancadas com as réguas de madeira. Pulsos e tornozelos estavam em carne viva das cordas e o frio congelante do inverno penetrava suas roupas finas de prisioneira. No canto, Susu chorava desesperada, incapaz de salvar sua senhora do destino macabro que a esperava.

Os guardas a arrastavam com expressões de desagrado, ela mal conseguia distinguir o pátio de pedra coberto de neve ou os rostos indignados dos criados. Com um empurrão, seu corpo pendeu na beirada do poço e despencou até o fundo lamacento. Dormência cobriu suas pernas e uma dor pungente cobriu sua coluna e cabeça. As lágrimas vieram sem que pudesse evitar.

A chuva fina caía lá dentro pinicando sua pele. Lembrou-se da noite em que sua madrasta tentou matá-la e deformou seu rosto. Ah, como desejou que a morte viesse naquele momento, mas ela lhe deu as costas tal qual seus algozes. Agora, quando ela mais queria viver, a ingrata vinha lhe buscar. Rostos indefinidos assomaram-se acima do poço, cobrindo a visão do céu e a chuva. Gritos os fizeram dispersar-se.

Dor. Uma agonia lancinante e desesperadora a cobria tal como o manto de frio abraçando seu corpo. O hálito gélido do fim. Não havia lua no céu cinzento, mas ela conseguia visualizá-la mesmo assim, pálida e majestosa no firmamento infinito. Sorriu, apesar de não sentir qualquer conforto. Saudade de um lar desconhecido alcançou seu coração, desejava que o gelo a devorasse e transformasse em uma estátua, insensível e dormente como suas pernas naquele instante.

Seu único consolo era pensar nele, mas não era capaz de desejar seu retorno. Para que? Aquilo só lhe traria tormento. Queria vê-lo de novo, abraçá-lo, sentir seu calor e o cheiro de primavera e incenso que sempre o acompanhava... Não. Aquilo era se torturar. Seria melhor imaginá-lo longe demais, pensar que a havia esquecido, abandonado. Talvez assim tivesse coragem de abraçar seu destino, de deixá-lo para trás.

O frio produzia espasmos em todo o seu corpo. Há quanto tempo estava ali? Horas? Dias? Semanas? Perdeu por completo a noção do tempo. Não conseguia se mexer, a luz se apagava lentamente como as batidas do seu coração. Sentia tanto sono... as lágrimas eram a única fonte de calor na sua pele gelada. Ouviu vozes, chamados, mas estavam muito distantes.

Tarde demais.

Luna não sabia mais como chorar. Desde aquele evento envolvendo a morte de Lei, ela nunca mais havia chorado e prometera a si mesma jamais fazê-lo outra vez, pois seria como dar ao seu destino uma vitória sobre ela. Chorar era inútil. Não apagaria a trilha sombria da sua estrela e não salvaria as pessoas que ela queria proteger. Com o passar do tempo, por mais dor que sentisse, mesmo se sua alma fosse dilacerada em milhões de pedaços, suportaria e engoliria qualquer lágrima que surgisse. Havia sido assim sua vida praticamente inteira.

Por isso, mesmo se sentindo cheia de lágrimas na pele daquela jovem mulher que havia conhecido os terrores da crueldade humana, não conseguia chorar. Inconsciente da lágrima solitária percorrendo seu corpo desacordado. Foi a primeira vez que sentiu como se o corpo e a mente fossem entidades diferentes, não mais habitando o mesmo invólucro. Foi tomada pela desesperadora sensação de que tudo nela estava morrendo, cada parte se separando enquanto estava consciente dos pedaços se apagando sem conseguir se mover para evitar. Uma força a puxava para longe tão depressa quanto a vida daquela mulher, que se esvaía.

三生三世 生死劫 [Amor Eterno - Calamidade de Vida e Morte]Onde histórias criam vida. Descubra agora