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Novos conflitos

[...]

As primeiras aulas de uma manhã passaram depressa e o intervalo pareceu desinteressante. Neo estudava ali a mais tempo que Khaotung e a todo momento ele falava coisas como: "aquela é bem bonita pra você", ou "ele é interessante", mas Neo não fazia ideia de que ele não estava nem um pouco interessado em ninguém agora. Ele poderia simplesmente aproveitar a escola sem se relacionar com ninguém? Nenhum dos olhares o interessa, apenas um. Distraído em pensamentos e encostado na meia parede que tem ao lado do filtro de água, Khao observa Neo que está parado a sua frente enquanto mexe no celular e toma água. Ele repete o movimento e faz o mesmo, tomando o restante de água que sobrou no copo. Não é como se ele precisasse de um segurança a cada lugar que fosse ou de copos diferentes, ele era humano como todos os outros.

— Tem um grupo de garotas vindo na nossa direção com papeizinhos e fotos suas. — ele sussurra e o menor sente um arrepio na espinha.

— Da tempo sair daqui? — pergunta de volta — Me puxa pra qualquer outro lugar...

— Atenda a elas só dessa vez. — ele o faz virar de vez e eu dar de cara com 5 garotas.

— Hum... olá. — diz, sem jeito.

— Pode assinar nossos papeis e fotos? — uma delas pergunta e ele sorri, agradecido.

— Pode autografar minha blusa?

— Você está solteiro? — ok, já eram muitas perguntas e isso o deixava desconfortável — Pode me passar seu ig? — 

— Já chega! — diz Neo entrando em sua frente — Ele vai fazer tudo isso, porém, mais tarde. Deixem-o em paz por enquanto...

Elas saem resmungando qualquer coisa e ele agradece eternamente por Neo ter interferido. Ele sabia que seu amigo evitava perguntas, entrevistas, muitas pessoas em cima de si... Isso não o deixava mais confortável ou fazia com que ele se sentisse mais que eles. Isso o deixava... pressionado.

— Obrigado... — suspira aliviado e ele olha as horas no celular. Já está no fim do intervalo e Khao o vê encarar algo atrás de si.

— Não me agradece ainda...

Naquela hora do dia as pessoas já voltavam para concluir as duas últimas aulas do dia, mas quando Khao pensou em fazer o mesmo e virou-se para sair, First o agarrou pelo terno do uniforme e o arrastou para outro lugar.

— Olá pra você também, First! — a voz de Neo é risonha enquanto Khao é arrastado para qualquer lugar. Ele não reluta e nem tenta se soltar. Não dá para me safar de tudo, certo? É apenas o primeiro dia... mas ele temia não se adaptar bem a aquelas mudanças de humor.

- Argh! - reclama ao sentir suas costas baterem com força no armário do corredor. O olhar dele é furioso e parece ferver de uma raiva que Khaotung desconhecia.

- Qual é o seu problema? - ele pergunta, sério, então Khao deixa seu sorriso presunçoso escapar - Do que tá rindo?! Você acabou de chegar e acha que pode fazer tudo que tem vontade? Começando por isso - ele puxa o fone de seu pescoço e isso machuca um pouco, mas ele não parece se importar -, você não está em casa, então pare de agir como se estivesse.

- Você gosta de fazer os outros sentirem dor, não é? Será que também gosta que façam isso com você?

First era tímido, ainda que desafiador, mas as palavras de Khaotung fizeram suas bochechas corarem. Khaotung  havia sentido algo diferente com a pessoa que estava repreendendo-o sabe-se lá por qual razão. Seus olhos escondiam alguma coisa, escondiam bem que havia sentido alguma coisa diferente de tudo que já havia sentido antes.

- Por que rasgou seu uniforme?

- Por que me deu vontasde. E é meu uniforme.

Mais uma vez ele o segura pela gola da camisa e o puxa para perto. Khao era muito paciente, mas pedia que não testassem isso, e First estava fazendo o contrário. Já que estava perto o suficiente do presidente do grêmio, Khaotung chegou ainda mais perto. O erro do mais alto era achar que todos os novos alunos ficariam intimidados pelo seu jeito mandão e responsável, mas estava errado. Sua forma de lidar com tudo era diferente do jeito rebelde de Khao.

- Não pense que pode fazer o que quiser aqui, você não pode.

- É assim que você lida com todos os alunos que não seguem suas regras? Que belo presidente estudantil.

- Você não tem o direito de me dizer o que fazer e como agir. Apenas faça a sua parte. — diz e solta a blusa, empurrando-o novamente.

- Qual é a sua?! - pergunta, de novo sentindo o arder em suas costas. - Problemas demais lá fora e tá arrumando um jeito de descontar nos outros?!

- Khao! — como sempre, Khao percebe que falou demais e há algumas palavras que causam efeitos impossíveis de reverter.

- Torça pra não me encontrar de mau humor. Embora eu goste de pessoas rígidas, você não pode fazer o que quiser. Ser rico ou sabe-se lá o que não te faz melhor que ninguém.

O sentimento de ter falado demais estava tomando conta de seu peito. As vezes, nem todo mundo está num dia bom, e ele queria pensar por esse lado, mas a voz em sua cabeça dizia algo tipo: "e você? E se você não estivesse em um dia bom? O que daria a ele o direito de te tratar como tratou?" Khao estava machucado, no pulso em especial, pois machucou durante uma sessão de fotos e First havia acabado de piorar a situação.

— O que foi isso que acabou de acontecer? - perguntou Neo, o encarando.

— Se tivesse chegado um pouquinho mais cedo você teria visto a forma como ele me empurrou contra o armário. Você só pega a parte que eu sou o vilão. — responde secamente enquanto massageia o pulso.

— Não quis dizer isso, só quis saber o que aconteceu. - da de ombros - E o que foi isso no seu pulso? Ainda da semana passada? — concorda.

— Ele machucou de novo... Meu fone! Neo, meu fone! 

— Ele provavelmente entregou para o diretor.

— Eu o encontro de volta na sala...

— Ele não vai voltar. First tem muitas coisas pra resolver, mas ele só tem 19 anos...