Estou a caminho do trabalho, que fica a cerca de doze minutos de casa. Utilizo o ônibus para a primeira metade do trajeto, já que o tráfego de carros não costuma ser tão intenso, garantindo que nunca me atrase. Para a segunda metade, continuo a pé, com meus saltos de cinco centímetros desgastados. Costumo andar rápido, por tanto consigo ouvir as batidas da madeira no chão. Meu sobretudo bege esconde a roupa que visto, enquanto meu cabelo preso em um alto rabo de cavalo, garante que nenhum fio saia do lugar. É assim que sou vista no trabalho, e é assim que me pedem para me vestir, com elegância.
Falta apenas uma curta distância até o museu quando a sensação de que alguém está me observando invade meus sentidos. Com passos largos, inicio uma corrida entre eu e o desconhecido, sabendo que se eu não olhar para trás, nunca saberei quem é. Também consigo ouvir os passos pesados da outra pessoa. Imediatamente, aumento o ritmo até a entrada do museu, o que me garante, logo em seguida, uma falta de ar avassaladora.
"Por Merlin...não é fácil correr de salto!".
Meus colegas de trabalho começam a me notar, curvada e com a mão esquerda sobre o peito, lutando para respirar como se o ar estivesse prestes a desaparecer do planeta. Permaneço nessa posição até que o Sr. Alfred começa a se aproximar de mim, visivelmente preocupado. O Sr. Alfred é o gerente do museu, sempre nos recebe de manhã com seu bom humor característico. Apesar de sua riqueza, ele sempre foi muito gentil e humilde com todas as pessoas ao redor. Posso facilmente dizer que ele me lembra muito Dumbledore, mesmo que ele não saiba disso. É uma honra para ele ser comparado a alguém tão ilustre e amado.
— Minha jovem, tem algum problema? —o senhor pergunta, apoiando sua mão rugosa em meu ombro.
— Ah...Claro que não Senhor...eu achei que me atrasaria, então apressei os passos! —respondi forçando um sorriso para esconder o medo que senti a poucos segundos. Não consigo descrever o quão acelerado meu coração está, zarpando pela boca.
— Quanta preocupação, minha jovem...veja! —o senhor aponta para o grande relógio preto e dourado no meio do pilar do museu. — Exatamente dois minutos para as oito horas...não há atraso algum!
Sinto-me um pouco sem graça, movendo-me desconfortavelmente, sem mais o que dizer para encobrir o ocorrido
Recuperei minha postura natural e informei ao Alfred que começaria meu trabalho. Ele assentiu com um generoso 'bom dia', um sorriso largo adornando seu rosto. Sua expressão me fez perceber que nada poderia estragar seu dia e, mesmo se algo ocorresse, ele resolveria de forma tranquila e eficiente.
No entardecer, durante minha rotina diária de monitoramento do museu, deparei-me com uma silhueta familiar. Um homem alto, cabelos loiros reluzentes refletindo os raios solares que incidiam sobre o vidro, trajando um impecável terno negro. De costas para mim, ele contemplava uma das obras, precisamente "O Beijo", de Gustav Klimt. Sim, era meu dever saber o nome das obras para informar qualquer visitante que viesse apreciá-las.
À medida que me aproximava, a certeza se solidificava. Seu cabelo não passaria despercebido por mim nem que fosse decretado por lei. Seu perfil confirmou o que eu já sabia com convicção. Um calor intenso começou a surgir dentro de mim, alimentado pela raiva que se espalhava pelas minhas veias como uma correnteza turbulenta.
Produzo um leve som com a boca para chamar sua atenção.
— O que faz aqui, Malfoy? —elevo minha voz em um sussurro controlado, evitando alarmar os visitantes no museu.
— Que foi, Granger? —responde em tom de deboche, virando-se para encarar-me enquanto mantém sua atitude desdenhosa. — Não é porque meu passado foi sombrio que não posso apreciar arte!
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A Ascensão de um Bruxo
FanficNessa realidade alternativa de minha autoria, se passa após a morte de Harry Potter e as consequências e sequelas que este fatídico acontecimento causou na vida de Hermione. Onde era destinada a passar sua linha do tempo com Rony Weasley, acabou se...