EVA B.
O pequeno vilarejo de Santa Rita estava agitado com a chegada do forasteiro e filho do padre.
Seu nome já ecoava por todos os cantos.
Enquanto eu estava prestes a sair do ateliê "Costurando Sonhos" para buscar o vestido de minha irmã, Margot, percebi que a senhora mais fofoqueira do povoado, Dona Lurdes, estava envolvida em uma de suas típicas fofocas.
Curiosa, fingi amarrar os cadarços para ouvir o que ela tinha a dizer.
—Pois é, menina. O garoto é todo pintado. Cheio de tatuagens! — comentou a coscuvilheira, com um tom de desprezo.
—Fiquei sabendo que ele estava lá pelo coreto, aceso que só ele.— Uma segunda voz futricou com dona Lurdes.
—Fumando? Misericórdia, senhor! Será que Padre Miguel sabe de uma coisa dessas, Jesus?
Intrigada, segui meu caminho para casa. Por onde passava, ouvia sobre esse rapaz. No interior, todos pareciam saber tudo num estalar de dedos.
Distraída com o cheiro de grama molhada e o aroma das flores da floricultura de Seu Luiz Fiore, pai de meus melhores amigos Vivi e Vlad, fui tomada por pensamentos sobre esse misterioso rapaz.
A curiosidade me impulsionava a procurar por um homem "todo pintado" de tatuagens e "aceso que só ele" pelas rua do vilarejo, mas só encontrei uns idosos (que nem pulmão direito deveriam ter mais) exalando fumaça.
Agora, mais do que nunca, eu estava ansiosa para desvendar quem era esse tal filho do padre.
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Após esse turbilhão de fofocas, ao chegar em casa, passei horas e horas dedicando-me a me concentrar nos estudos para o ENEM.
Afinal, era importante me preparar para o exame que se aproximava.
Passei o olho em alguns blocos, como:
•Ciências Humanas ✔️
•Linguagens e Códigos ✔️
•Ciências da Natureza ✔️
•Matemática...
Exatas... meu calcanhar de Aquiles. Apesar de me esforçar e buscar compreender esses conteúdos, por vezes sentia que precisava de mais tempo e prática para dominá-los completamente.
No entanto, não desisti e nem vou. Irei fazer o que for preciso para superar esse obstáculo.
Sei da importância de todas essas matérias para ter um bom sucesso no exame.
E eu PRECISO ter um bom sucesso.
Não vai ser de um segundo para o outro e na facilidade que irei me tornar juíza. Na verdade, ser juíza não era a minha primeira opção. Sempre acalentei o sonho de tornar-me atriz. Desde a infância, a arte da interpretação me cativava, alimentando em meu íntimo o anseio por brilhar nos palcos e telas.
Contudo, à medida que o tempo avançava, a realidade impunha suas limitações e as vicissitudes inerentes ao caminho que se delineava.
Consciente das restrições e das escassas oportunidades no campo artístico, especialmente no contexto em que me encontrava, defrontei-me com um dilema:
-Persistir na busca do meu sonho e arriscar não alcançar o desejado sucesso, ou optar por uma via mais segura e estável visando assegurar meu porvir.
O peso de corresponder às expectativas familiares também influenciou sobremaneira minha decisão. Almejava conquistar o reconhecimento e a admiração daqueles a quem tanto estimava, enxergando na carreira jurídica uma possibilidade de atingir tal desiderato. —Assim, redirecionei minhas energias para adentrar no campo do direito, almejando tornar-me juíza no porvir.
Apesar de resignar-me ao meu sonho original, mantive-me determinada a dedicar-me integralmente à nova trajetória, almejando realização profissional e o apreço daqueles que me cercavam. No entanto, o fardo interno de ter abdicado do meu anseio artístico continuava a pesar sobre mim.
Imersa em reflexões sobre a vida, o porvir e os desafios, fui surpreendida pela entrada de Margot, que me fez sobressaltar.
Em suas mãos, delicadamente segurava uma bandeja rosa adornada com duas xícaras de chocolate quente e um pires repleto de biscoitos caseiros.
Naquele instante, antevi o desenrolar do que estava por vir...
MOMENTO FOFOCA DAS BARBOSAS!
Era notável a constância desse nosso hábito imutável. Minha irmã sempre surgia com a mesma expressão serena, trazendo consigo os habituais aperitivos, pronta para compartilharmos as últimas novidades.
— Qual a novidade da vez, Dona Lurdes?— Eu amava implicar com Margot nesses momentos, a chamando pelo nome da mais fofoqueira senhora da vila.
Fazendo uma careta e deixando a bandeja em cima da cama. Minha irmã seleciona o melhor biscoito do pires e antes de colocá-lo na boca solta o tema da conversa:.
—Filho do padre.— diz enquanto devora rapidamente o biscoito à medida que estuda os meus cadernos de exatas— Putz, esses gráficos aqui caem muito no ENEM, viu?— declara com a boca cheia.
— Você já o viu?— perguntei aconchegando-me na cama, fechando os cadernos e ignorando completamente os gráficos e exatas naquele momento.
—Não.
—Fiquei sabendo que tem um monte de tatuagens e estava fumando próximo ao coreto.
Minha irmã me encara com olhos atônitos, pensando que ela iria começar a julgar o rapaz, Margot comenta;
— Depois eu que sou a Dona Lurdes né, Eva?—indagou entre risos.
Ela não fazia ideia de que foi através da própria senhora que obtive todas essas informações. —Ao recordar do ateliê, (lugar onde Dona Lurdes trabalhava) entreguei-lhe um pacote azul, contendo o vestido já devidamente ajustado.
Margot pousa a embalagem em seu colo, segura a xícara e toma um gole, saboreando o chocolate, soltando um suave suspiro de prazer. Eu imito suas ações enquanto ela me encara.
Cansada da quietude e da sensação de curiosidade me cobrindo com um manto
—Você não tem nenhuma informação sobre ele?— Pergunto, quebrando o silêncio que pairava entre nós.
— Tenho! — Margot me encara novamente, desta vez, tentando avaliar o quão curiosa estou sobre o assunto. — Ele tem dezessete anos, vai estudar na sua escola e parece que já está envolvido com Yasmin, a filha do marceneiro.
Bem, eu sei que muita gente na vila tem uma opinião formada sobre Yasmin.
Ela é da minha sala, mas a verdade é que nunca trocamos muitas palavras.
Yasmin sempre pareceu distante e fechada, e eu entendo que as pessoas tenham suas impressões sobre ela.
Acho que, de certa forma, todos nós somos influenciados pelas fofocas e pelos comentários dos outros. Mas, no fundo, acredito que cada pessoa tem sua história e suas razões para ser como é.
Talvez um dia a gente consiga se entender melhor, quem sabe.
—E nome? Você sabe o nome dele?
—Matteo Pimentel.
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O FILHO DO PADRE
FanficUma jovem com sua própria bagagem emocional, se vê intrigada pela figura enigmática de um forasteiro. Conforme os dois se aproximam, uma conexão profunda surge, desencadeando, talvez, um suspense romântico repleto de emoções intensas e segredos. Enq...