𝗦𝗢𝗟𝗗, toji fushiguro.

᯾. 𝗦𝗜𝗫.

POINT OF VIEW
' melie katsuki

Ao ouvir o som irritante que me fez despertar do meu sono, eu tateio minha mão pela cama à procura do meu celular. Assim que eu sinto o celular debaixo do travesseiro, levo até a frente do meu rosto e vejo um número desconhecido me ligando.

Confusa, me sento na cama devagar pois Toji estava com o braço na minha cintura. Caramba, ainda são quatro da manhã. Por que tem alguém me ligando nessas horas?

Atendo o celular e espero alguém dizer alguma coisa.

― Filha? ― a voz da outra linha perguntou.

Eu arregalei os olhos surpresa.

― Pai? ― perguntei, me levantando da cama e caminhando até o banheiro. ― O que? como você achou o meu número?

― Nossa, querida. Eu realmente quase morri para descobrir seu número! ― meu pai disse, "aliviado". ― como você está, querida?

"Como você está?" Não, é impossível isso.

Eu solto uma risada sarcástica e travo o maxilar tentando não xingá-lo.

― Como eu estou? ― perguntei retoricamente. ― como você acha que eu estou, pai?

― Ah, para com isso, Melie! Eu sei que ele não está te tratando mal. ― repreendeu, claramente bravo.

― E como você sabe? ― respirei fundo, tentando me controlar. ― você destruiu a minha vida. Sim. Você destruiu tudo o que eu construi, tudo o que eu lutei para ganhar, pai.

― Chega, garota. ― meu pai interrompeu, ríspido. ― Destruí? Se você não tivesse nascido, a sua mãe ainda estaria aqui comigo!

― Então a culpa agora é minha? ― ri sem humor, elevando um pouco a voz.

― sim, ela é! Seja útil, Melie. Eu tenho um plano.

― Plano? Chega. Eu não vou ser uma filha idiota que vai fazer tudo o que você quer. Esquece.

― Me escute, filha...

― Não! Quer saber? Pelo menos aqui eu não preciso chegar em casa e arrumar a bagunça que meu pai bêbado faz depois de um longo dia trabalhando pra sustentar a casa sozinha! ― eu berrei, deixando lágrimas cair do meu rosto.

― Eu fiz tudo por você. Eu sou o seu pai!

― Fez? O que merda você fez?! Você é um bêbado, desempregado, pilantra, vagabundo e um péssimo pai! Você VENDEU a sua filha! E agora me diz que fez "tudo" por mim? Não. Fode.

― Cadê o respeito, garota?

― Respeito? Me fala uma coisa, seu dinheiro acabou? Você gastou tudo isso com bebidas e prostitutas? Ah, que orgulhosa a mamãe deve estar de você, pai.

― Melie. ― sussurrou, sua voz emitia ódio.

― Não me procure mais. Nunca mais. Você morreu pra mim e eu espero que eu tenha morrido pra você!

Eu desliguei a ligação e bloqueei o número.

Eu senti minha garganta rasgar e meu corpo ficar fraco. Era tristeza e raiva. Eu conheço esses sentimentos tão bem porque foram os únicos que me familiarizei durante anos.

Chorar por conta do meu pai me faz sentir um desgosto tão grande. Eu achei que isso nunca aconteceria. Nunca mais.

Minhas mãos tremiam descontroladamente e pude sentir um aperto no peito, um sentimento de solidão. Eu estou sozinha. Sempre estive.

Nunca teve alguém que realmente me apoiasse em momentos assim, sempre fui eu por eu. E pra que isso tudo serve? Será que eu deveria sentir tanta tristeza ao ponto de sentir vontade de morrer?