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- Vamos entrar? - Antecipando uma resposta afirmativa a sua pergunta seca, ela
se virou na direção da casa.
- Daqui a pouco. - Segurou seu braço para detê-la, mas ela libertou-o
imediatamente, com um puxão. - Isso é algo que
não pode fazer, quando estivermos lá dentro,
Alanna - Rolt advertiu-a zombeteiro. - Devemos dar a impressão de estarmos
loucamente apaixonados. Não é isso que quer que seus pais pensem?
- Ainda não estamos lá dentro - replicou friamente e caminhou de novo para a
casa.
Desta vez ele não a deteve, seguindo-a um passo atrás. Quando ele
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estendeu o braço em torno dela, para a maçaneta da porta, Alanna parou,
esperando que a abrisse. Em vez disso, viu-se de repente presa
entre Rolt e a porta. com
um movimento brusco, jogou a cabeça para tras. Para lembrar a ele, com
desprezo, que ainda não estavam dentro
da casa. Mas as palavras nunca tiveram uma chance de
deixar seus lábios.
com o movimento gracioso e fatal de uma águia, sua boca fechou-
se sobre a dela. Por um momento, Alanna ficou paralisada pela enorme surpresa.
Quando ia fugir de seu beijo cruel, Rolt já a tinha soltado. Ela estava tão
zangada
consigo mesma por ter sido pega desprevenida e com ele, por tirar vantagem
disso -, que nem podia falar.
Rolt abriu a porta.
- Podemos entrar agora. - Ele sorriu arrogantemente para ela acrescentou: -
Agora seus olhos estão brilhando e suas faces estão coradas, o que lhe vai muito
bem.
Não podíamos encontrar seus pais como se você tivesse concordado em se casar
com um carrasco.
- É muito pior. vou me casar com você.
O riso levemente zombeteiro de Rolt aumentou ainda mais o seu rubor, enquanto
o seguia para dentro de casa. Saber que ele -estava certo não diminuía sua raiva.
Precisava
representar na frente dos pais, pois não queria que suspeitassem que tinha outro
motivo, que não o amor, para se casar com Rolt.
Quando entraram na sala de visitas, seu pai dobrou o jornal e levantou-se para
recebê-los, colocando os óculos no bolso da camisa.
- Alo, Rolt. Elinore disse que achava que era o seu carro que tinha chegado com o
de Alanna - Dorian disse, com um sorriso de boas-vindas. -
O que o traz aqui esta noite? Negócios ou prazer?
Quando ele espalmou a mão em suas costas, Alanna não pôde evitar um
sobressalto. Seu olhar, brilhante de ressentimento, voou para o rosto dele,
dizendo-lhe que suportaria
seu toque, embora não gostasse daquilo. A inacreditável ternura que brilhava nos
olhos que a observavam com tanta suavidade fez com que seu coração desse um
pulo.
Ela simplesmente não podia desviar o olhar.
Cuidado, uma voz avisou: não se deixe levar pelo encanto dele. Lembre-se de por
que concordou em se casar com ele. Quando acabar com Rolt, tenha certeza de
que
não vai acabar com você também.
com esforço afastou o olhar de Rolt. Seus olhos cor de violeta tinham um brilho
acanhado quando encontraram os de seu pai, que
apressavam curiosidade e surpresa.
Rapidamente olhou para a mãe,
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que estava sentada no sofá. Elinore Powell os observava como que à espera de
algo.
- Esta noite sua filha consentiu em ser minha esposa - Rolt anunciou calmamente.
Depois, desviou o olhar do rosto de
Alanna, para o de Dorian. - com a sua permissão,
naturalmente.
A última frase era só um gesto educado. Alanna sabia que Rolt não se importava
com o fato de seus pais consentirem ou não com o casamento deles. E sabia
também que se casaria com ele, com ou sem a permissão dos pais.
A notícia deixou Dorian Powell atónito por um momento. Mas não Elinore, que se
levantou do sofá sorrindo abertamente e correu para abraçar Alanna.
- Estou tão feliz por você, querida - exclamou, com a voz trémula de emoção.
Lágrimas de felicidade brilhavam em seus olhos.
- Não me enganou nem por um minuto. Eu sempre soube de tudo.
- Sim, mamãe - Alanna concordou, seus olhos dirigindo-se involuntariamente para
os de Rolt, semicerrados e interrogativos.
- Sempre soube de tudo, sra. Powell? - Ele sorriu, inclinando a cabeça para um
lado, curiosamente, mas Alanna percebeu que seus olhos estavam agudamente
atentos.
- Sempre. - Elinore deu um passo para trás, segurando as mãos de Alanna e
sorrindo feliz, olhando de um para o outro. - Chame isso de instinto materno ou
intuição
feminina, mas eu sabia, o tempo todo, que Alanna estava apaixonada por você.
- Devia ter me dito. - Dorian Powell riu, um pouco confuso ainda, com a
inesperada reviravolta nos acontecimentos. - Afinal, sou o pai dela.
- Você me acusaria de ser tola e sentimental, se eu tivesse lhe contado - Elinore
declarou. - É que Alanna me faz lembrar tanto de mim mesma! Lembra como
fiquei
furiosa, quando começou a me cortejar? O que, no entanto, não durou muito.
A luz que dançava nos olhos de Rolt deixou Alanna furiosa. Tinha que ficar em
silêncio por causa dos pais, mas seu olhar lhe disse que o desprezava de todo
coração
e para sempre.
- Lembro, sim. - Seu pai riu. - Para uma coisinha tão pequena, você tinha um mau
génio tamanho gigante, e senti a força dele
muitas vezes. Alanna é como a mãe, em muitas coisas.
Rolt deslizou a mão até a cintura dela e puxou-a contra o lado
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do seu corpo. Os dedos dela curvaram-se sobre os dele, tentando
disfarçadamente deslocá-los.
- Papai, desse modo vai fazer com que Rolt pense que vai se casar com uma rabugenta!
- E não vou? - Rolt riu perto de sua orelha.
Alanna adoraria arrancar os olhos dele naquele momento. Ele estava se
divertindo tremendamente com a situação e às custas dela.
- É claro que não - o pai disse, sorrindo amorosamente para ela. - Na verdade,
Rolt, pensei que se fosse dar Alanna em casamento para alguém, num futuro
próximo,
seria para Kurt. Isso me deixou completamente surpreso. Mas, acredite, eu não
poderia ficar mais feliz com a escolha dela.
- Obrigado, Dorian. Eu também não poderia ficar mais feliz.
- Rolt brindou-a de novo com um daqueles olhares cheios de adoração, que
escondiam sua zombaria.
- E Kurt? - Elinore murmurou de repente, cheia de remorso.
- Pobre Kurt! Ele gostava tanto de você, Alanna!
- É, mamãe, eu sei. - A dor em sua voz era genuína.
- Espero que não esteja muito amargurado. Ele sabe, não é?
- Elinore franziu a testa.
Alanna não pôde responder a pergunta. Falar em Kurt a deixava muito zangada.
Fechou a boca com força, para impedir que as palavras vingativas, que estava
prestes
a dizer, saíssem. Rolt tinha destruído a felicidade de Kurt e a dela, para
conseguir o que queria.
- Estivemos com ele esta noite - Rolt respondeu, sem explicar as circunstâncias.
- Foi difícil para todos nós, mas sei que no fim tudo vai dar certo.
- É sim - Elinore concordou. - Seria simplesmente terrível se Alanna tivesse se
casado com Kurt, e depois descobrisse que realmente amava você. Kurt pode
estar magoado
agora, mas vai superar tudo.
- É - o pai concordou. - Um pouco de mágoa, agora, é melhor que muita mágoa
depois. - Sensível como sempre, ele percebeu que aquele assunto deixava Alanna
pouco
à vontade, sem saber a verdadeira razão. - Mas não há necessidade de discutir
isso. Por que não nos sentamos? Elinore, talvez você pudesse dar uma olhada para ver
se ainda tem café e um pouco daquele bolo delicioso que Ruth fez. E dê as boas
novas a Ruth, também.
- Claro que sim - Elinore Powell concordou com entusiasmo.
- Até que enfim Alanna nos dará nossos futuros netos.
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- Na hora certa, minha querida. - Dorian Powell riu. - Na hora certa.
Filhos. O rosto de Alanna ficou muito corado ao pensar na enorme intimidade que
isso exigia. Seus sentidos responderam rapidamente ao toque da mão firme e
máscula
em sua cintura, e ela afastou-se depressa, na direção do sofá. Precisava dar um
fim àqueles desejos sensuais. Era imperativo que nunca se abandonasse a eles
com
Rolt,
Mal tinha acabado de se sentar no sofá, quando Rolt sentou-se ao seu lado. Ele
não estava muito perto, mas colocou o braço no encosto, deixando a mão
descansar de
leve no ombro dela. Uma liberdade pequena, mas ela lhe lançou um olhar cheio de
ressentimento, mesmo assim.
Dorian yoltou-se para eles quando sua mãe deixou a sala.
- Elinore tem uma vontade enorme de ter netos - disse afetuosamente, como que
pedindo desculpas. - Ela sempre quis uma casa cheia de crianças, mas
infelizmente não
pôde tê-las. Achamos que ter você era uma bênção, Alanna. Portanto, não se
preocupe em desapontar sua mãe, se você e Rolt decidirem esperar um pouco
antes de começar
uma família.
- Na verdade, papai, Rolt e eu ainda não conversamos a esse respeito - disse
nervosamente. - Não sei se ele gosta de crianças.
- Gosto, sim - ele respondeu, sorrindo indolentemente. Especialmente garotinhas
de cabelos cor de âmbar e lindos olhos azuis-violeta.
Alanna desejava desesperadamente que a conversa mudasse de asunto. E que ele
tirasse a mão de seu ombro. A carícia distraída de seus dedos fazia com que se sentisse
fraca e vulnerável, principalmente junto com aquele tipo de conversa, e ela se
forçou à ignorá-la. Sua repulsa por ele era enorme! Odiava-o!
A governanta alta e magra entrou na sala, o rosto anguloso iluminado pela
alegria. Alanna quase chorou de alegria. No meio dos abraços, parabéns e
explicações, o
assunto sobre filhos se perdeu.
- É como casar um dos meus próprios filhos - Ruth declarou.
- Conheço Alanna desde que ela era um bebé. - Elinore entrou na sala com uma
bandeja de café e bolinhos e Ruth correu para tirá-ia dela. - Eu lhe disse para
não
fazer isso, Elly. É muito pesada para você.
- Bobagem - a mãe negou. - De qualquer modo, já estou aqui mesmo. Volte para lá
e sente-se.
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Ruth voltou, mas insistindo que ia servir. Elinore já ia encher a primeira xícara,
quando ela pegou o bule.
- Pense um pouco, Elly, em tudo que há para ser feito. - Ela eu uma olhada para
Alanna. - Quando vai ser o casamento? Já pensaram em uma data?
Alanna estava a ponto de dizer que não tinham tido tempo, mas Rolt não lhe deu
a chance de falar. Logo - respondeu. - Alanna quer ser uma noiva de junho. Ela
não
queria
nada daquilo! Ela se voltou para olhar para ele, zangada, e negar sua declaração.
Mas os dedos dele se enterraram em seu ombro, num aviso.
- Junho! - Elinore Powell exclamou. - Mas faltam menos de dez dias para acabar
este mês! Temos que comprar seu vestido e os das damas de honra. E os convites
têm
que ser impressos! E ainda temos que arrumar a igreja e as flores. Ruth pode
fazer o bolo, mas. . .
- Nós preferimos um casamento simples, sra. Powell - Rolt disse delicadamente.
Alanna concordava plenamente. Um casamento grandioso, com muitos convidados
e uma recepção longa, parecia uma coisa hipócrita. Os votos de casamento já seriam farsa
suficiente.
- Desculpe, mamãe. - Ela sabia quanto sua mãe gostaria de fazer um casamento
na igreja, grandioso e bonito, para sua filha única.
- Nós realmente preferimos uma cerimónia simples, só com a família presente.
Se Alanna tivesse duvidado de Rolt, quando ele lhe falou das finanças abaladas
de seu pai, as dúvidas teriam acabado ali. O alívio em seu rosto, quando ela
acabou
de falar, era visível. Ele nunca seria capaz de arcar com as despesas de um
casamento como sua mãe queria.
- Se é isso que querem... - a mãe suspirou, concordando com relutância.
- Nos dias de hoje, você deveria estar contente por eles estarem se casando, e
não ficar se preocupando com o tipo de casamento.
- Ruth fungou.
- E a lua-de-mel? - Elinore ignorou o comentário da amiga.
- Um longo fim de semana é tudo que posso arrumar - Rolt declarou. - Vamos ter
que adiar até o inverno.
Não tinha importância, Alanna pensou. A lua-de-mel estaria acabada
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antes mesmo de começar. Era um alívio saber que não seria obrigada a passar um
longo tempo exclusivamente na companhia dele.
O assunto casamento dominou a conversa na próxima hora. A participação de
Alanna foi pequena; deixou que sua mãe e Ruth
fizessem os planos.
- Flores! Temos que decidir sobre as flores também! Que tipo de flores gostaria
de ter no seu buque de noiva, Alanna? - Rutj, perguntou, pegando o bule para
tornar
a encher as xícaras, mas ele estava vazio. - Acabou o café. vou fazer mais um
pouco.
- Por favor, não por mim - Rolt falou, retirando o braço do encosto do sofá. - Já
está na hora de eu ir embora.
- Mas ainda é cedo - Elinore protestou.
- Preciso ir - ele insistiu, ficando em pé.
Rolt disse até logo a cada um separadamente e saiu da sala. Alanna continuou
sentada, até que sentiu os olhares de seus pais e percebeu que eles achavam que
devia
acompanhá-lo até a porta, para que pudessem se despedir a sós. com os dentes
cerrados, levantou-se rapidamente.
- vou com você até a porta, Rolt - chamou-o.
Ele parou na porta que dava para o hall e esperou que ela se juntasse a ele.
- Não é preciso - disse-lhe, colocando a mão no lado de seu rosto. - Considerando
tudo, esta foi uma noite agitada. Vá deitar, eu a vejo amanhã.
Ela agarrou o punho dele com a mão. Sabia que ele pretendia beijá-la e não havia
nada que pudesse fazer para detê-lo, com seus pais e Ruth olhando. Era isso
mesmo
que Rolt tinha planejado; o brilho nos olhos dele lhe dizia isso.
Sua boca fechou-se amorosamente sobre a dela, que manteve os lábios frios,
sem corresponder. Mostraria a ele que não era por ter sido uma massa mole em
suas mãos
uma vez que seria sempre assim. Na verdade, estava decidida a não deixar isso
acontecer nunca mais.
Quando Rolt levantou a cabeça, os olhos dela brilharam triunfantes. Que tal
beijar um cubo de gelo?, seu olhar provocava. A boca máscula torceu-se,
divertida.
- Você é capaz de fazer melhor do que isso - murmurou de modo que só ela
ouvisse. - Mas vou esperar por outra ocasião para lhe provar isso.
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- Vai esperar muito tempo - sussurrou, sorrindo por causa dos pais.
Rolt acariciou sua boca com o polegar, por um segundo. Depois a soltou.
- Boa noite, querida. Durma bem.
As palavras carinhosas continham uma provocação deliberada. Ela
nunca seria sua querida e sabia que não conseguiria dormir.
- Boa noite, Rolt.
Esta foi a primeira de uma série de noites que Alanna teve que suportar. Seus
pais esperavam que ela ficasse com ele, e ela não tinha outro recurso, a não ser
vê-lo. Embora tivesse que se prevenir constantemente contra seu toque, ou contra um braço sobre seus ombros, ou mesmo um beijo ocasional, Rolt não fez
nenhuma tentativa
de fazer amor com ela.
De certo modo, Alanna achou isso estranho. Mas raciocinou que ele devia estar
tentando conquistá-la aos poucos, levando-a a confiar nele, para depois tirar
vantagens
disso. Mas quanto ao que lhe dizia respeito, Rolt havia provado que não era digno
de confiança.
Geralmente, Alanna não tinha muito tempo para pensar no que estava fazendo.
Tinha que comprar um pequeno enxoval e um vestido de casamento simples.
Insistiu num
enxoval pequeno, porque sabia que seu pai não podia pagar nada mais caro, e
também porque não se importava.
O dia de seu casamento amanheceu chovendo: camadas e camadas
de água escorriam pela vidraça de seu quarto. Era apropriado, pensou,
enquanto sua mãe a ajudava a colocar o vestido. De acordo com a
superstição, um casamento seria infeliz, se chovesse nesse dia. Alanna
considerou isso um sinal verde para prosseguir com seus planos.
Quando se dirigia de carro, com seus pais, para a igreja, um raio
de sol surgiu entre as nuvens escuras. Ela mordeu os lábios com
força, contendo-se para não gritar que ele fosse embora. Nunca seria
feliz casada com Rolt, o sol brilhasse ou não no dia de seu casamento.
Quando saiu da igreja de braços dados com seu marido, o céu
estava clareando. Tudo parecia recém-lavado e brilhante como cristal,
com o ar refrescante e limpo. Alanna não notou o verde vivo das
plantas, a caminho da casa de seus pais para a pequena recepção.
Suportou estoicamente as congratulações sem fim. Não podia aceitar
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nenhuma delas honestamente, por isso só sorria e acenava com a cabeça. Se
algum dos convidados notou como estava quieta, atribuiu seu silêncio ao
nervosismo de noiva.
Ela continuou sorrindo até que estava virtualmente rangendo os dentes, para
manter a pose

disputa de irmãos Onde histórias criam vida. Descubra agora