Rolt estava de pé em frente ao fogão, de costas para ela, alto e de ombros
largos, com quadris estreitos e musculoso. Alanna sentiu a pele se arrepiando
quando relembrou
a sensação de ser esmagada contra seu corpo rijo. Trémula, desejou não estar
tão cônscia dele. Queria fugir dali, e teria feito isso se Rolt não tivesse
escolhido
aquele momento para olhar por cima do ombro.
- Como gosta de seus ovos? - Seu rosto não expressava absolutamente nada.
- Bem moles. - Alanna tentou ser tão controlada quanto ele.
Rolt quebrou dois ovos e deixou-os cair sobre a manteiga fervente da frigideira,
jogando fora as cascas.
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- O café da manhã está quase pronto. Há suco de laranja na geladeira. Os copos
já estão na mesa.
Alanna pegou a jarra de suco e colocou-a sobre a mesinha da cozinha, que já
estava posta para duas pessoas. Ela tinha esperado uma guerra fria entre ambos
ou que,
pelo menos, Rolt a brindasse com olhares irritantes e frases caçoístas. Mas não
isso.
Ele estava quase amigável; distante, sim, mas amigável.
O fim de semana da lua-de-mel se passou naquela mesma atmosfera vagamente
amigável. Eles nadaram, andaram de barco, ficaram preguiçosamente ao sol e
caminharam pelos
bosques. Os convites de Rolt eram sempre acompanhados por um irónico "Pode
vir comigo ou ficar aqui, de acordo com sua vontade". Eles não riam ou falavam
muito.
Eram dois estranhos fazendo coisas juntos, simplesmente porque não tinham
outra companhia.
No entanto, Alanna pegou-se identificando os dias pelas vezes em que Rolt a
tocara. Quando foram andar de barco, ele a tinha erguido do cais para o barco, e
na volta
havia feito o mesmo, ao contrário. Ajudou-a a subir a escada, quando foram
nadar. Caminhando pelos bosques, ele havia segurado sua mão ocasionalmente para que se
firmasse ao andar por terreno acidentado. As vezes em que ele tinha passado
loção de bronzear em seus ombros e costas eram as mais difíceis de esquecer.
Esse contato
nunca foi muito longo, mas Alanna estava sempre perturbadoramente cônscia do
toque dele.
Ela sabia que, em qualquer uma dessas vezes, se desse a mais leve indicação,
aquele contato impessoal teria se transformado numa carícia. Essa certeza
estava sempre
presente, cada vez que estavam juntos.
Na segunda-feira de manhã, foi acordada por uma batida na porta. Piscando,
cheia de sono, ela se sentou, agarrada às cobertas.
- Que é? - perguntou com voz cheia de sono.
A porta se abriu e Alanna viu Rolt parado do lado de fora. Estava
impecavelmente vestido, com um terno bege, e o pensamento de como ele ficava
bem com o símbolo
da civilização passou pela cabeça dela. Os olhos cor de índigo examinaram os
cabelos despenteados pelo sono e a vulnerabilidade de sua expressão.
- Estou de saída para o escritório. - Rolt lhe disse, completamente impassível. -
Estarei em casa lá pelas onze e meia, para
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o almoço. Todos esperam que, nas primeiras semanas, eu venha alçar com você
sempre que possível. - Claro - concordou com a cabeça.
- Vejo-a depois, então - disse rapidamente e saiu. Logo depois, ela ouviu o
barulho do carro indo embora.
Ele veio almoçar em casa três vezes, naquela semana. Alanna foi à cidade duas
vezes visitar os pais, mencionando o nome de Rolt com tanta frequência quanto
achava
que uma recém-casada faria. O segundo fim de semana foi quase que uma
repetição do primeiro, com a exceção de que, sábado, à noite, foram convidados
para jantar
com um companheiro de negócios e amigo de Rolt. Não foi difícil fingir ser uma
esposa apaixonada, especialmente quando Rolt fazia tão bem o papel complementar.
Alanna estava passando bronzeador nas pernas e pensando, e chegou à conclusão
de que admitir que poderia se apaixonar por Rolt tinha tornado isso mais
provável.
Ela lutava contra essa possibilidade, lembrando-se constantemente de como o
caráter dele era desprezível.
Mas era difícil continuar a alimentar os velhos ódios
quando ele não fornecia lenha para a fogueira. Se Rolt a tivesse forçado a
suportar suas atenções, se a tivesse possuído à força, teria novos motivos para
odiá-lo.
Mas, do jeito que as coisas estavam. . . Ela suspirou e colocou mais bronzeador
na palma da mão. De qualquer modo, estava ficando impossível viver sob o mesmo
teto
com um homem tão viril quanto Rolt e continuar imune. Não era natural que um
homem e uma mulher vivessem juntos, mas separados. Esta relação falsamente
platónica
não podia durar. Alanna tinha visto a expressão dos olhos dele algumas vezes,
quando a observava: ele ainda a desejava. Isto não havia mudado.
No começo, sua meta tinha sido tornar a vida de Rolt miserável. Agora, estava
concentrando todas suas forças para o feitiço não virar contra o feiticeiro. E,
cada
dia que passava, ela se sentia mais frustrada e desamparada.
Contemplando a verde paisagem de Minnesota, tentou fazer seus pensamentos
se perderem na bela vista que se tinha do pátio. Passou o bronzeador nos ombros
e fez força
para alcançar as costas, esticando o braço.
- Eu faço isso.
Alanna deu um pulo ao ouvir a voz de Rolt. com olhos arregalados,
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viu-o parado ao lado da porta de correr que levava à sala de jantar. Tinha tirado
o paletó e o segurava no ombro, pendurado em um dedo.
Ela olhou rapidamente para o relógio de pulso que estava na mesa ao lado de sua
espreguiçadeira.- Só o esperava para daqui a uma hora - murmurou, pouco à vontade. - Você disse
uma hora, não foi?
Ele abriu a porta e passou para o pátio.
- Acabei mais cedo do que esperava - disse, encolhendo os ombros, e jogou o
paletó sobre as costas de uma cadeira, continuando seu caminho em direção a
ela.
Alanna colocou o frasco de bronzeador no chão, desconcertada pela chegada
precoce dele.
- Ainda não comecei a fazer o almoço. Eu... - Começou a se levantar, mas a mão
dele em seu ombro empurrou-a de novo para baixo.
- Não tem importância. Não estou com tanta vontade assim. . . de almoçar. - Ele
fez uma pausa infinitesimal antes da última palavra, e o coração de Alanna falhou
umas batidas.
Ela abaixou as pálpebras, numa aceitação silenciosa da fome de seus sentidos
pelo toque dele. A espreguiçadeira gemeu em protesto uma vez, quando o peso
dele se
acomodou na almofada atrás dela. Ela sentiu o bronzeador gelado em sua pele
ser espalhado por suas costas, depois.
Rolt não ignorou nem mesmo um centímetro das costas dela. Suas mãos seguiram
a curva da espinha de Alanna até quase o final, esfregando a pele sensível, com
resultados
perturbadores. Seus dedos se moveram sobre a cintura e o tórax, chegando
atormentadoramente perto do início de seus seios, continuando depois até sua
nuca.
Dentro dela, um fogo se acendeu e começou a crescer. Ela sabia que ele
explodiria em chamas a qualquer momento e moveu os ombros em um sinal de
protesto, instintivo
e involuntário.
- Assim está ótimo - disse, com a voz levemente alterada. Rolt não parou.
- O bronzeador faz mais efeito quando é bem espalhado. - O tom rouco de sua
voz era quase tão sedutor quanto suas mãos.
- Não! - Alanna tentou esconder sua respiração alterada e escorregou para a
frente, na almofada, para escapar das mãos dele.
Conseguiu se livrar de uma, mas a outra curvou-se em torno de
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ombro, virando-a para encará-lo. Achou difícil encontrar o olhar dele, por isso
olhou fixamente para a frente aberta da camisa de Rolt, uma visão igualmente
evocativa.
A mão dele deslizou para a parte lateral de seu pescoço, levantando seu queixo
com o polegar.
Seus olhos ardiam com a mesma chama que queimava dentro dela.
Ainda é não, não é? - Rolt perguntou, com seriedade. -É - Alanna sussurrou.
Ela sabia que a veia de seu pescoço martelava contra os dedos dele, mas não
podia fazer seu coração bater mais devagar. Seus lábios
entreabriram-se um pouco, inconscientemente
convidativos. O olhar de Rolt desviou-se para eles. Por um segundo cheio de
tensão
desejou que ele ignorasse sua resposta. Mas Rolt a soltou e ficou em pé, com a
máscara de bronze do controle cobrindo suas feições. - Acho que é melhor você
preparar o almoço, para que eu possa
voltar para o escritório - disse, com suavidade.
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disputa de irmãos
Roman d'amour"Você pode me odiar quanto quiser", disse Rolt, cínico."Mas vai ser minha, em todos os sentidos!" A surpresa deixou Alanna ofegante. Rolt sabia perfeitamente que ela estava apaixonada por Kurt, que ia se casar com ele. Como se atrevia, então, a disp...