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Finalmente, Rolt sugeriu que fossem embora. Alanna concordou com
um movimento rápido de cabeça, seus músculos rígidos relaxando por um breve
momento no braço que em quase nenhum momento tinha deixado sua cintura. Ao
abraçar os
pais, teve um pressentimento ruim sobre o que estava fazendo, e por que, mas
afastou o pensamento.
No meio de uma chuva de arroz, deixou a casa com Rolt. Seu carro estava parado
na entrada de carros, só que não era mais todo preto. Havia espirais e listas,
além
de frases como "Recém-Casados" e "Dele e Dela" pintadas em branco nas
laterais do carro, formando uma decoração bem-humorada. Mas Alanna não
achou graça. Aquilo
só servia para realçar ainda mais que tinha se casado com Rolt por vingança e
não por amor.
- Pode relaxar agora, Alanna. Acabou - Rolt disse secamente, depois de dar
marcha-à-ré e colocar o carro na estrada.
- É. - Pelo menos, a necessidade de continuar fingindo tinha acabado. com um
suspiro, se recostou no banco. - Quanto tempo vamos levar para chegar à sua
casa?
- São mais ou menos vinte minutos, daqui até "nossa" casa ele respondeu, com
ênfase calma.
O silêncio durante o caminho foi da vontade de ambos. Nunca tinha havido
nenhuma sugestão de que passariam a noite de núpcias em qualquer outro lugar,
que não a
casa de Rolt. Se ele tivesse sugerido passarem o fim de semana em um hotel,
Alanna teria recusado. Um quarto de hotel era dominado pela cama; em uma
casa, havia
outros cómodos.
Ela nunca tinha ido à casa dele, nem mesmo a vira. Seu pai havia levado a maior
parte de suas coisas, aquelas que não podiam ser colocadas nas malas que
estavam
agora no porta-malas do carro, para a casa de Rolt, no dia anterior. Alanna só
sabia para que lado ela ficava e que era no campo, perto de um lago.
Pinheiros enormes sombreavam o caminho que levava à casa. Cresciam tão perto
da estrada, que era quase como andar em um túnel. A casa ficava em uma
clareira logo
abaixo do topo de uma colina.

Tinha sido construída com cedro tosco, rústico e desigual, e confundia-se
naturalmente com a floresta em torno.
Atraente, Alanna admitiu, apesar de pertencer a Rolt. O carro parou e ele deu a
volta para abrir a porta dela.
- Minhas malas - lembrou a ele, quando Rolt se encaminhou para os degraus de
madeira que levavam à porta da frente.
- Eu as trarei para dentro mais tarde. - Destrancou a porta e esperou que ela se
juntasse a ele, no pórtico largo e rústico. Alanna teria passado reto, mas Rolt
a segurou. - Há um velho costume, a respeito de carregar uma noiva para passar
por uma porta.
Seu primeiro impulso foi dizer não, mas engoliu-o e deixou que os braços fortes
dele a aninhassem em seu peito. O contato com o corpo musculoso fez com que
seu pulso
se acelerasse por um momento, mas ela conseguiu manter sua pose gelada. Rolt
abriu a porta com o pé
e carregou-a para dentro de casa.
- O costume já foi respeitado. Pode me colocar no chão agora
- Alanna disse, com uma calma enregelante.
O rosto de Rolt estava muito perto do dela e seu olhar era firme e indecifrável.
Ela podia examinar cada detalhe das ruguinhas causadas pelo sol, no canto de
seus
olhos, e das rugas mais profundas, que havia em torno de sua boca. Por vários e
longos segundos, ele a segurou. Uma tensão estranha vibrou ao longo dos nervos
alterados
de Alanna.
Lentamente, ele relaxou o braço sob os joelhos dela, deixando suas pernas
deslizarem para o chão. Mas apertou o outro braço, achatando seus seios contra
a parede de granito do peito dele. Ela continuou rígida, sem lutar nem se submeter. Rolt
levantou seu queixo.
- Bem-vinda ao lar, sra. Matthews.
Sua boca desceu sobre a dela com uma insistência paciente. Sua posse era cheia
de paixão controlada. Alanna afastou da mente a força dos braços dele e
concentrou
seus pensamentos em Kurt, o homem com quem deveria ter se casado, o homem
com quem queria ter se casado. Isso ajudou-a a ignorar a pressão persuasiva do
beijo.
A linha de sua mandíbula estava rígida quando ele levantou a cabeça.
- Você não vai tornar as coisas fáceis, vai? - Apesar da frieza em sua voz, seus
olhos pareciam pedaços de safira, de um azul intenso.
- Nunca foi minha intenção tornar nada fácil para você replicou.
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Ele a puniu apertando o braço em torno dela, por um segundo soltando-a depois.
Alanna se afastou dele cautelosamente, cônscia que seus joelhos estavam
ligeiramente
trémulos; mas ela tinha conseguido repelir o beijo dele. Estava decidida a fazer
com que essa fosse a primeira de muitas vezes.
Ignorando Rolt, olhou para a sala. As paredes eram recobertas por cedro tosco,
interrompidas por enormes janelas e por uma lareira de pedra cor de areia. O
carpete
bege era luxuosamente grosso e espesso, num estilo rústico, que combinava com
o resto da casa. Em frente da lareira havia um sofá comprido, de veludo marrom,
ladeado
por banquetas forradas de xadrez creme e marrom. A iluminação indireta ficava
escondida nas vigas de madeira do teto.
Um corredor bem largo, que saía do hall, permitiu que enxergasse a sala de
jantar, com janelas em toda a extensão de uma parede. Pelos vidros podia-se ver
as tábuas
do pátio de madeira. Rolt, que estava em pé atrás dela, um pouco distante, fez
um movimento e Alanna voltou-se, como se tivesse se esquecido de sua presença,
o que era impossível. O olhar dele a convidava a fazer algum comentário a respeito da
casa.
- É muito bonita - disse, de maneira indiferente.
- vou lhe mostrar tudo.
Sem esperar para ver se ela queria, Rolt passou por Alanna e entrou no enorme
hall. Encolhendo os ombros com uma falta de interesse que não era verdadeira,
Alanna
o seguiu. com um gesto ele indicou uma porta que saía do hall e que ela não havia
notado.
- O escritório, onde às vezes eu trabalho à noite - disse e entrou na sala de
jantar.
Alanna olhou-o rapidamente, e teve a sensação de que estava em uma caverna
quente e escura, cheia de livros e mobiliada com móveis de couro escuro, sobre o
carpete
bege.
- A sala de jantar e, ali fora, o pátio para se tomar sol. - Na decoração do pátio
ensolarado, tinham sido usados com liberdade os tons de ocre e dourado, e de lá
tinha-se uma visão do lago de tirar a respiração. - A cozinha é por ali. - Indicou
com a mão uma porta em forma de arco, por onde se viam armários de madeira.
Alanna
olhou pela porta, para a cozinha aparelhada com o que havia de mais moderno,
embora com um toque decididamente rústico. Quando Rolt voltou para o hall, e
subiu a
escada em caracol que levava ao andar de cima, ela o seguiu.
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Lá em cima, outro hall imenso circundava a escada protegida por uma grade de
madeira polida, que combinava com a que cobria as paredes. Três portas saíam
do hall,
duas dando para a frente da casa e a outra para o lago.
- Os quartos - Rolt declarou.
- É óbvio - disse, encolhendo os ombros com secura.
- Os dois daquele lado são os de hóspedes, e este é o quarto principal. - Ele abriu
a porta deste último, como ela esperava que fizesse.
Uma cama tamanho gigante dominava o quarto espaçoso, coberta por uma colcha
de brilhante veludo marrom. Havia janelas de vidro dos dois lados da cama, que
iam do
chão ao teto. Dali podia-se ter de novo uma visão panorâmica do lago, rodeado
por árvores, que brilhava como um espelho polido, a distância.
- Muito bonito - Alanna comentou, com marcada indiferença.
- Há um closet atrás daquela porta. - Rolt fez um gesto para o lado esquerdo. -
O banheiro fica do lado direito. Pode dar uma olhada, enquanto trago suas malas
para
cima.
Alanna olhou para as portas que ele tinha indicado, mas não foi até lá. Nem fez
qualquer comentário sobre as malas, não se movendo, enquanto Rolt não chegou
ao pé
da escada. Então foi para o hall e, dando a volta nas escadas, dirigiu-se aos
outros quartos. Ambos eram pequenos, pelo menos quando comparados com o
quarto principal,
e muito bem mobiliados. Quando ouviu Rolt chegando, voltou rapidamente para o
quarto principal. Ele colocou as duas malas dela ao pé da cama e endireitou-se,
lançando-lhe
um olhar longo e sem expressão, como que sondando com que tipo de humor ela
estava.
De um modo distante, ela se voltou, ficando de frente para a janela, não
querendo lhe dar a chance de adivinhar seus pensamentos.
- Se me desculpar. . . - havia zombaria e cinismo misturados na voz dele - vou
trocar de roupa.
- Por algo mais confortável? - ela perguntou acidamente.
- Exatamente. Geralmente, não fico em casa de terno e gravata. Alanna não se
moveu da frente da janela quando ele entrou no
closet. Minutos mais tarde, saiu e o coração dela se acelerou de medo.
- Não se preocupe - sua voz estava cheia de riso silencioso, por causa da
paralisia que tomara conta dela -, pode se virar sem medo.
Fazendo um gesto desafiador com a cabeça, Alanna olhou por cima

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