BenJá fazia cinco dias que eu estava na casa da minha avó. Não vou mentir se disser que não estou com saudades da Emma, mas eu não estava com muito tempo pra falar com ela. Acho que até foi bom eu vim passar uns dias aqui na casa da minha avó. Minha avó mora no interior da cidade, onde o sinal da internet pega quando quer e o sinal do celular pega com dificuldade, por isso eu resolvi unir o útil ao agradável. Já que estou em um lugar onde o sinal é ruim, vou aproveitar o lugar.
Por diversas vezes quando a noite chegava, eu olhava para as estrelas e sentia uma enorme vontade de ligar para Emma, mas eu me segurava. Não estava fugindo dela, estava apenas tentando me desligar um pouco desses meus pensamentos, mas na verdade eu estava mentindo para mim, porque eu só pensava nela, em esquecer ela e em perceber que não estava adiantando. Parece que quanto mais você tenta esquecer, mais você lembra. Acho que é porque você se preocupa tanto em esquecer a pessoa que você se prende mais a ela.
-Oi! - falou à Débora - Quer café? -falou em pé, com duas xícaras de café, uma em cada mão.
A Débora é a filha da Marlene, a mulher que cuida da minha avó. Ela tem quinze anos e somos amigos desde à infância, ela namorou o meu primo João, moleque sortudo, na boa a Débora era muito gostosa, além de ser mega simpática.
-Sim! - falei esticando o meu braço
- Cuidado! Tá super quente! - falou tocando na xícara com a ponta dos dedos.
-Você sumiu hoje à tarde. O que houve?
- Estava estudando, tenho prova de Geografia e não entendo muito bem a matéria. - falou puxando uma cadeira e sentando ao meu lado. Estávamos sentados no terraço do casarão, olhando para um matagal, coberto por um céu cheio de estrelas, completamente incomodados com os mosquitos.
- Mas você conseguiu aprender?
-Um pouco. - falou olhando fixamente para as arvores e colocando a xícara quente em seus lábios.
-Você não tem medo? - perguntei
-Medo de que? - perguntou ainda olhando fixamente.
-De ficar olhando pra mata.
- O que tem de ruim em olhar as árvores?
-Pode sair algo de lá!
- Mas você está olhando lá, assim como eu!
- Não! Eu estou olhando para o céu. - falei e naquele momento ela entrou em gargalhada, eu não entendi o motivo daquelas gargalhadas histéricas - O que foi?
- Meu Deus como tu é medroso. -falou ainda rindo
- Não sou medroso, só não curto ficar olhando pra essas árvores.
- Sabia que já mataram pessoas ai? Minha mãe diz que eram da mesma família, mas mexeram com o Zeca e o Zeca não perdoa ninguém. - falou ainda olhando fixamente - Dizem que as almas andam por ai, vagando... sem rumo.. - falou virando a cabeça e me olhando bem no fundo dos olhos. - Bu! - gritou
- Ai! - falei com os olhos arregalados, e com o coração acelerado, lógico que tive susto, uma coisa que eu não curtia era esses bagulho de alma. - que susto!
- Não acredito que você acreditou nessa bobagem.
- Mano, cala boca!
-HAHA! Medroso! - falou levantando-se.
- Pra onde é que você vai? - perguntei,
- Vou dormir!
- Não, fica aqui!
- Amanhã eu acordo cedo.
- Mas eu estou com medo de ficar aqui sozinho.
- Não posso fazer nada por você.
- Você pode sim, ficar aqui... dormir comigo..
- Não. Vou indo tchau.
- Boa noite então. - falei me levantando também, embora eu não estivesse com sono, ali eu não ficaria.
...
-Bom dia! - fala a Débora abrindo as cortinas do quarto, o barulho delas me deixava agoniado.
- Que horas são? - perguntei ainda com os olhos fechados.
- Onze e quarenta! Levanta vagabundo, o dia tá lindo, olha esse sol!
- Estou vendo! Tá queimando minha cara. - falei virando contra a janela, ainda com os olhos fechados.
- Não sabia que você conseguia ver sem abrir os olhos, que legal. Depois me ensina.
- Te ensino se você me der um beijo.
- Então esquece, eu aprendo sozinha. -falou a Débora. E por um momento o quarto ficou em silêncio, o que me fez apagar novamente. - Levanta vagabundo! falou a Débora calmamente jogando um balde de água gelado em cima de mim.
- Tá louca? -gritei enxugando o rosto.
- Eu sou louca.
CONTINUA...
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Simplesmente amor
RomanceHistória de melhores amigos, um que vive sentimentalmente e o outro que é extremamente racionalista. Porém quem sabe eles não podem aprender mais um com o outro? Blog: http://sentiescrevicats.blogspot.com.br/