Capítulo 3

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Yoko ouvia barulhos de alguns carros, ouvia alguns passarinhos em árvores, ouvia o barulho de seu sapatos e dos sapatos de Faye contra o asfalto. Sentia algumas mechas do cabelo dela na mão que prendia ao braço como apoio pra que Faye a guiasse, sentia suavemente seu cheiro de rosas, mas quando algum vento batia, ela podia sentir também o cheiro de algo como erva doce que vinha de seus cabelos sedosos.

- Por que você disse para a coordenadora que caiu? - Perguntou Faye enquanto levava Yoko para casa.

- Eu cai, Fa. - Respondeu ela.

- Isso não é completamente verdade.

Yoko suspirou.

- Minha mãe é meio super protetora. Se eu contasse para a coordenadora o que aconteceu, ela contaria a diretora, que levaria para a minha mãe, que chegaria a conclusão de que eu deveria estudar em um ambiente controlado.

- O que quer dizer com "um ambiente controlado"? - perguntou Faye.

- No começo... - Disse Yoko frustrada depois de um longo suspiro. - Nos primeiros anos escolares ela me colocou para estudar em um bom colégio perto de casa. - Suspirou novamente - Ela gostaria que eu fizesse amigos e fosse uma criança normal, mas eu não era. E por mais que eu quisesse ser... As outras crianças eram maldosas. E tudo era novo e assustador para mim. Então um dia ela resolveu que eu deveria estudar em casa. Era só eu, minha mãe - às vezes - e uma professora particular.

- Você não acha melhor? - Perguntou Faye.

- Não. - Respondeu ela com firmeza

- Sabe, Yoko!? Sem piadas maldosas. Sem bullying. Isso parece atraente, pelo menos para mim.

- Era muito quieto, Fa. Eu me sentia sozinha o tempo todo. Nas quartas-feiras minha mãe trabalhava - ainda trabalha -, e quando a professora ia embora, eu ia ao parque e me sentava perto do playground para ouvir o riso e os gritos das crianças brincando. Ouvi-las correr... Elas pareciam tão livres. E eu com mais do dobro da idade deles parecia tão presa nas minhas próprias limitações. - Disse Yoko abaixando a cabeça. Não queria que Faye sentisse pena dela, só queria que ela a entendesse.

- Eu entendo você, Yoko, mas os garotos não podem ficar impunes. Eles machucaram você hoje e isso faz a gente pensar qual é o limite da palavra brincadeira pra eles. Eu não acho que fazer uma pessoa sangrar seja algo a se considerar nesses termos. - Argumentou Faye.

- Nunca aconteceu isso antes, Fa. Não acho que vá se repetir, só me prometa que não vai contar a ninguém. Minha vida social não é tão boa. Mas é a melhor que eu posso ter.

Yoko a olhou, Faye correspondeu seu olhar. Ela se perguntou mais uma vez se Yoko era realmente cega. Era impossível que alguém que expressasse tanto com um olhar não pudesse ao menos ter tido acesso a feições uma vez na vida.

- Eu prometo, Yoko. - Disse Faye não muito convencida de si mesma. - Mas me prometa também, que se eles voltarem a te atormentar você me dirá.

Yoko deslizou sua mão pelo braço de Faye ao encontro da mão da garota. Por um momento Faye pensou que ela entrelaçaria seus dedos e isso a fez franzir o cenho. "O que Yoko estava fazendo?". Yoko pegou a mão de Faye com as duas mãos e localizou o seu dedo mindinho e entrelaçou ao dela. Isso fez a garota sorrir, e o som audível de sua risada fez Yoko sorrir também.

- Promessa de mindinho. - Disse Yoko, fingindo um ar sério.

- Mas mesmo assim, eu ainda vou assustar Michael e aquele grupinho dele. - Disse Faye.

- Michael estava junto? - Perguntou Faye.

- Sim. Ele, Amit, Yut e mais um garoto que não é da nossa sala. - Respondeu Faye, avaliando as expressões de Yoko. - Você parece surpresa.

In your eyes | Fayeyoko versionOnde histórias criam vida. Descubra agora