Capitulo 18

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Yoko foi surpreendida quando o corpo grande de Sr. Peraya a comprimiu em um abraço. As mãos pendiam no ar sem saber se deveria retribuir o ato. Faye a havia dito que eles eram bem quietos e não costumavam distribuir afeto. Seus olhos brilharam.

Sua mãe tinha feito de sua vida um inferno nos últimos dias, mas ali estava ela, envolta em um abraço com um quase estranho. Um estranho que ao contrário da pessoa que a fez, criou e educou. A aceitava.

- Vamos comer, as pizzas chegaram um pouco antes de vocês. - Disse Sr. Peraya depois que soltou Yoko lançando um olhar orgulhoso para sua filha.

Um sorriso contido ponderou nos lábios de Faye enquanto observava seu pai se dirigir à cozinha. Eles o seguiram e se acomodaram em seus lugares. Faye colocou Yoko ao seu lado. Pouco foi falado enquanto se serviam e comiam.

- Você sempre foi assim?

O tintilar de talheres parou quando a voz de Shaun cortou o silêncio na mesa.

Faye levantou os olhos do prato para Yoko, enquanto Sr. Peraya olhava seu filho com repreensão.

Yoko sorriu na direção da voz.

- Assim como? Cabelos cacheados ou cega? - Perguntou ela, a voz alegre informando a todos que não era uma pergunta incomoda.

Shaun sorriu para ela.

- Cega. - Respondeu ele.

Yoko assentiu.

- Sim, desde que nasci, o cabelo também. - Respondeu ela, voltando a comer.

Os outros a acompanharam.

- E tudo bem? - Perguntou Shaun novamente se referindo a deficiência.

Yoko engoliu e deu de ombros.

- Nem sempre. Às vezes eu fico com um pouco de raiva do mundo, sabe? Mas todo mundo fica, por um motivo ou por outro. - Respondeu ela.

Shaun assentiu em entendimento e voltou a comer, Faye acariciou a coxa de Yoko por baixo da mesa, apenas em apoio.

- Eu não sei o que eu faria se fosse cego. - Comentou Shaun baixinho.

Yoko levantou os olhos do prato e sorriu largamente para o rapaz.

- Se acostumaria. - Replicou ela.

- Seus pais já procuraram cura? - Perguntou Sr. Peraya sem jeito.

Yoko assentiu para ele.

- Quando eu era criança eles acreditavam que durante meu desenvolvimento poderiam achar uma cura, como se não fosse algo permanente. - Começou Yoko depois de terminar sua refeição. - Eu estava cansada de ouvir que era impossível. Quando cheguei à certa idade pedi para que eles parassem, minha mãe insistia em continuar pagando médicos para dizerem o óbvio: que eu era cega, e nunca veria.

- Eu sinto muito. - Disse Sr. Peraya.

- Não sinta. Se eu não fosse cega eu não estaria alheia ao mundo em uma manhã qualquer, então Faye não falaria comigo e eu não estaria aqui. - Disse Yoko dando de ombros. - E ser cega não é de todo ruim.

- Como assim? - Perguntou Shaun.

Yoko bebericou seu refrigerante.

- Você ganha muitos favores. - Respondeu sorridente.

Sr. Peraya empurrou seu prato e se recostou na cadeira.

- Como seus pais reagiram a isso? - Perguntou ele se referindo ao relacionamento das duas.

Yoko baixou as mãos para o colo e encontro a de Faye ainda pousada sobre sua coxa. Ela a pegou e entrelaçou seus dedos.

- Meu pai é fantástico. Acho que ele vê tudo de um ângulo diferente. Ele vê alguém com quem eu possa sempre contar e que vai cuidar de mim tanto quanto ele cuida. - Disse Yoko, sorrindo orgulhosa. Depois de uma pausa, suspirou - Minha mãe está em negação.

In your eyes | Fayeyoko versionOnde histórias criam vida. Descubra agora