Parte 01 - Some velvet morning;

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Tinha muitas coisas que Satoru Gojo odiava.

De cabeça, conseguia listar algumas: ouvir "não" (como se alguém conseguisse dizer não a ele), café sem açúcar, rigidez, álcool.

E Suguru estava, rapidamente, entrando na lista — da maneira mais controversa possível.

Não era só pela sua chatice — sempre com alguma reclamação: "como você é arrogante!", "Gojo, ouça a Yaga", "não, não é o momento de você usar sua Expansão de Domínio!". Ele era irritante; parecia um acidente prestes a acontecer, trágico e terrível, e você, por mais que seu corpo quisesse, não conseguia desviar o olhar.

Era exatamente por isso que tinha um prazer quase sádico em provocá-lo, em falar Suguru lentamente apenas para observar seu corpo tensionar, com uma carranca ainda pior.

Então, é. Satoru não gostava de muitas coisas. Ele sabia o que era desprezar, odiar e detestar.

Até Geto apresentar-lhe um novo tipo de raiva.




A primeira vez que sentira-se dessa forma foi algumas semanas após as aulas iniciarem.

Seu primeiro dia de aula foi horrível, afinal, ele estava acostumado a ser deixado sozinho ou ser venerado por todos ao seu redor. Por isso, quando chegou atrasado e recebeu olhares desaprovadores de seus colegas enquanto Yaga dava-lhe uma lição de moral, Satoru pensou que sua vida não podia piorar. Claro, piorou no instante que Suguru, de todas as pessoas, abriu a boca para chamá-lo de arrogante.

Claro, a convivência melhorou um pouco depois de uma semana. Suguru era irritante, difícil de se lidar, mas, no fundo, sentia que tanto ele quanto Shoko poderiam ser bons amigos seus: eram completamente diferentes de todos que tinha conhecido até ali.

Ainda assim, Shoko e Suguru tinham um vínculo um pouco diferente. Desde o primeiro dia pareciam ter se dado bem, os dois compartilhando aquele senso de humor seco. Constantemente eram vistos juntos, fumando pelo pátio. Gojo, às vezes, observava-os de longe. Em outros momentos, resolvia se aproximar, ora indo até os dois para provocá-los — principalmente a Geto —, ora apenas passando reto, com um sentimento amargo de não pertencimento que fingia não notar.

Por isso, mal conseguiu disfarçar sua surpresa quando, em uma sexta-feira preguiçosa, Shoko escorou-se na sua mesa durante o intervalo da aula, sem realmente fazer contato visual com Satoru, pois estava mais interessada em seu telefone.

— Você vai a Shibuya hoje à tarde comigo e Geto — ela avisou. — E se vocês me infernizarem, vão voltar cada um sem um dedo.

Uma ameaça vazia, claro.

Satoru piscou, estranhando o convite. Com o canto de olhos, viu Suguru sentado em sua mesa, olhando para o quadro com mais intensidade do que o necessário.

— Tá — respondeu lento. — Já que vocês querem tanto minha ilustre presença...

Ao seu lado, Suguru bufou.




Claro, logo ficou evidente o real motivo dele ter recebido o convite de Shoko: ela precisava de braços extras para carregar suas sacolas de compras.

Satoru estalou a língua, de cenho franzido, observando Shoko entrar em mais uma loja. Já tinha perdido as contas de quantas foram naquele dia.

— Ela não se cansa, não? — murmurou, dessa vez decidindo não segui-la.

you drive me wild // satosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora