Parte 05 e Extra - as the sun hits.

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 v.


Satoru gostava das tardes assim, concluiu: as tardes silenciosas, quase vazias, a calmaria antes da tempestade; os poucos — e cada vez mais raros — momentos durante o dia em que podia sentar-se com as costas apoiadas em uma árvore no campo da Escola Técnica, esticar as pernas sobre a grama gélida e relaxar.

Timidamente, a primavera se aproximava. Os dias já não eram tão frios, por mais que mantivessem aquela brisa cortante. Satoru brincou com uma folha seca; ao seu lado, Suguru estava deitado de pernas cruzadas, usando seus próprios braços como travesseiro. Seus olhos estavam fechados, mas Satoru conhecia-o suficientemente bem para saber que ele não dormia. Shoko geralmente se juntava a eles também, sempre sentada de pernas cruzadas enquanto tragava lentamente seu cigarro. Mas, naquele dia, ela estava em Shibuya com Utahime — ultimamente, elas estavam passando mais tempo juntas do que o normal.

Satoru, por baixo dos óculos, esfregou os olhos, sentindo a brisa bagunçar seus cabelos. Discretamente, olhou para baixo, observando o rosto relaxado de Suguru: seu maxilar marcado, os lábios pálidos e levemente rachados, os cílios grossos, o pequeno corte em sua bochecha direita, causado durante sua última luta...

A verdade era: cada vez mais, sentia raiva dele, mas já sabia que não era apenas raiva. Era outra coisa, algo que ele não ousava dizer em voz alta, nem mesmo em seus pensamentos. Não tinha lugar para isso, não deveria ter, mas... Observando-o, sabia que era impossível ser de outra maneira.

Satoru suspirou, sentindo-se apenas um pouco patético. Sem espaço para raiva naquele momento.

Voltou seu olhar à grama. Enrolou-a nos dedos, sem realmente fazer força para puxar. Queria estar mais em paz, mas sempre que pensava em Suguru, algo incomodava, como se uma farpa estivesse em seu dedo, mas ele não conseguia enxergar onde para tirá-la.

Colocou sua perna direita por cima da esquerda, balançando o pé levemente. Aproveitou para olhar Suguru novamente, surpreendendo-se ao perceber que ele já o encarava, de cenho franzido.

— O que foi? — falou, tentando disfarçar seu nervosismo. — Admirando minha beleza?

Suguru revirou os olhos e encarou o céu.

— Você tá pensando alto demais — reclamou. — O que houve?

— Nada, ué — respondeu, forçando um sorriso. — Pirou?

— Eu não. Você não parou quieto por um instante, toda hora se mexendo, me encarando e depois olhando o além—

De repente, Suguru ficou em silêncio. Satoru piscou e passou a mão na nuca, sem saber exatamente o que responder.

— Que houve? — foi a vez de Gojo perguntar. — Agora você quem tá pensando alto demais...

Ainda em silêncio, Suguru sentou-se, encarando o rosto de Satoru. O rapaz, que ainda tagarelava, calou-se, sem entender exatamente o que estava no olhar do seu amigo. Sentiu a palma das mãos esquentar.

Suguru aproximou-se um pouco mais. Gojo começou a sentir seu coração bater forte, causando uma pressão nos seus ouvidos. Manteve-se parado, quase estático, observando-o. Não era raro os dois se aproximarem dessa forma quando treinavam ou falavam besteira — mas por algum motivo, desta vez, parecia próximo demais.

Satoru entreabriu os lábios, tentando perguntar algo, mas não sabia o quê. Por fim, não foi necessário, pois Suguru falou, com sua voz limpa e calma, em um quase sussurro:

— Você sabe, não é?

Satoru piscou. Saber o quê?

— Não faço ideia do que você tá falando — respondeu.

Suguru espreguiçou-se e levantou, esfregando as mãos nas pernas para tirar qualquer resquício de sujeira.

— Você sabe — foi a última coisa que falou antes de começar a andar e deixar Satoru ali, plantado, mais confuso do que nunca. Gritou:

— Ei, Suguru! Está indo aonde? Do que você tá falando?!

Mas não importava, seu amigo já estava longe. Gojo bufou, revirou os olhos e soltou o corpo contra a árvore. Dessa vez, sua raiva tornou-se um incômodo ainda maior.

Desde quando Suguru falava como a porcaria do Mestre dos Magos?



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Satoru estava sem paciência.

Refletiu diversas vezes sobre o que Suguru queria dizer com "você sabe" — e ele não era burro, sabia muito bem disso; mas, não importava quantas vezes repetisse a situação na sua cabeça ou tentasse achar um contexto para aquilo: simplesmente não fazia sentido!

E então, quando cansou, Satoru decidiu parar de pensar, afinal, quanto mais pensava, mais raiva sentia de Suguru — e dessa vez era a raiva normal, nada de estômago revirado, coração acelerado e todas aquelas vontades, como a vontade de tocar, chegar mais perto... Sentiu seu rosto queimar antes que sua mente vagasse para mais longe.

Satoru bufou. Essa era sua vida agora, aparentemente. Decidiu, então, resolver as coisas do seu jeito, conforme queria — e, talvez, conforme deveria ter feito desde o início, desde a primeira vez que sentiu seu peito arder em vermelho.

Andando pelos corredores da escola, Satoru enfiou as mãos ainda mais no fundo do seu bolso. A sua frente, Suguru caminhava a passos largos e lentos, de fones de ouvido e o cabelo preso no topo da cabeça. Estava alheio a tudo ao seu redor.

Satoru encarou as costas largas — se olhares pudessem matar, Suguru teria um ataque cardíaco naquele momento.

Acelerou o passo e firmemente segurou Suguru pelo pulso. Seu amigo, surpreso, olhou para si por cima dos ombros, mas Satoru não lhe deu oportunidades para reagir. Puxou um pouco mais o rapaz pelo pulso e impulsionou seu corpo para frente, aproveitando o fato de ser alguns centímetros mais alto para empurrar Suguru para parede, prendendo-o com seu corpo. Com o impacto, o fone de ouvido voou do seu ouvido, fazendo um pequeno barulho ao bater contra a parede.

Ou, Satoru, tá maluco? — Suguru reclamou, olhando para o chão. Porém, sua expressão mudou ao ver o olhar sério de Gojo. — O que foi? A fim de uma briga?

Satoru quase não conseguiu processar o que seu amigo dizia, seu coração batia tão alto que era a única coisa que realmente conseguia escutar. Quase se sentiu enjoado, mas agora era tarde demais, e Suguru continuava falando e—

— Ah, seu idiota — Satoru falou. E então, ele beijou Suguru.

Satoru nunca tinha beijado ninguém antes. Não porque queria que seu primeiro beijo fosse especial, mas porque ainda não tinha encontrado alguém interessante o suficiente para despertar essa vontade. Beijar era estranho, mais desengonçado e molhado do que imaginou, mas era bom, tão bom, e ele não queria parar nunca.

Satoru sentiu Suguru tensionar e instintivamente, afastou um pouco mais seu corpo, dando oportunidade para o outro rapaz se afastar. Não foi o que aconteceu, e Suguru, tentativamente, segurou sua cintura, prendendo-se ainda mais entre o corpo de Satoru e a parede.

— Então você sabia — Suguru falou baixo assim que os dois se afastaram. Satoru olhou bem para o seu rosto, os lábios levemente inchados, a pele avermelhada e o olhar suave. Satoru revirou os olhos e sorriu, sentindo o corpo mole.

— Agora, sim.

E antes que pudesse falar qualquer outra coisa, Suguru sorriu e puxou-o novamente pela cintura.

Ugh, não acredito que vou ter que ver esse tipo de coisa pelos corredores... — Ao longe, Shoko reclamou. Suguru riu um pouco mais alto e aproximou seu rosto ainda mais do de Satoru, e tudo, aquela raiva, fez sentido. 

n/a: oi!

e chegamos ao fim.

muito obrigada a todos que leram e comentaram, foi uma história gostosinha de escrever.

título do capítulo é da música when the sun hits do slowdive.

you drive me wild // satosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora