Doctor Morro [Romance Gay]

Capítulo 1: As botas do Psicólogo

"O programa do Governo: Segundas Chances está resgatando milhares de pessoas, provando que todos podem mudar."

O som dos passos, que pertenciam a um salto de tamanho pequeno, ecoou pelo gélido corredor da solitária. 

Fazia muito tempo que Rafael não escutava merda nenhuma, ao menos nada além daquele comercial que repetia, repetia e repetia de novo e mais uma vez.

"Você teve a honra de ser um dos selecionados para esse Programa! Você pode ser salvo! Nós vamos te salvar!"

Proferindo aquelas palavras, o tão temido inimigo da sociedade reafirmava o comercial como se estivesse rezando, como se fosse algum tipo de mantra ao qual podia se apoiar.

"Todos merecem segundas chances. Não importa o tamanho do mal que causou, todos são capazes de mudar. Todos merecem perdão. Eu mudo. Você muda. Todos mudamos."

Mas o som de passos... Era uma bota! Que tinha um pequeno salto. Parecia que estava se aproximando da porta da solitária tornando o comercial falho, não estava mais interessado em rezar.

"Estamos aqui para te ajudar. Faremos o melhor possível, seremos nossas melhores versões por você! Mas precisamos que de o seu melhor."

Os passos pararam e uma sombra se movia pela fresta da porta de ferro. Por um instante Rafael deixou de proferir sua reza, sentindo o coração pulsando com a simples ideia de finalmente ver alguém. 

Quando a porta foi aberta, Rafael continuou sentando no chão, mas o olhar, primeiramente cegado pela luz intensa que fizeram os olhos arderem, sem obrigado a colocar sua mão algemada na frente, pode notar as reluzentes botas pretas de cano longo. O olhar foi subindo para a calça preta, com detalhes pratas em formato de cobra que cobriam as longas pernas de alguém visivelmente alto e esbelto. O resto do conjunto lhe fez franzir o cenho, aquilo era um tipo de sobretudo? 

"Você pode ser salvo, nós vamos te salvar. E então, você merece nosso perdão?"

- Senhor Pascal. - Um tom severo e masculino, foi a primeira coisa que Rafael escutou após dias! - Sou o Doutor Vega, seu Psicólogo Criminal em nome do Projeto Segundas Chances. 

Quando enfim seus olhos se acostumaram com a luz, Rafael sentiu seu pau pulsar dentro daquela maldita roupa. 

Porra, não era gay, mas quando se estava enjaulado há quase dois anos, qualquer rostinho bonito podia lhe deixar excitado. Tudo bem, nem todos os rostinhos bonitos, mas aquele em especifico... Tinha vontade de sujá-lo e fazer aqueles olhos verdes se fecharem por estar escorrendo, queria manchar aqueles óculos meia lua, soltar os longos cabelos pretos presos em um rabo de cavalo bem apertado, substituir por sua mão, agarrando as mexas com força para fazê-lo arquear as costas.

Precisava fazê-lo querer isso tanto quanto ele.

Era sua única luz depois de tanto tempo na escuridão.

Precisava tanto disso... E queria saber se o Doutor também lhe desejava! Ansiava escutá-lo mandar em si, pedir por mais, muito mais e por qualquer coisa, lhe daria tudo! Para sua luz faria qualquer coisa, desde que usasse aquelas botas pelo resto de suas vidas.

- Nossas consultas estão agendadas para todos os dias, as quinze em ponto. - Quando enfim os belos olhos verdes desgrudaram da prancheta. O ar de desdém se fez presente para aquele cachorro moribundo que estava quase abanando o rabo. - Começamos amanhã, não se atrase.

Rafael notou o sobretudo chicotear quando o Doutor deu meia volta, sem deixá-lo dizer uma palavra se quer.

A porta foi fechada e o escuro mais uma vez lhe consumir.

Então com um sorriso, o homem de cabelos sujos e oleosos, castanhos com o tronco de uma árvore, com os olhos âmbar cheios de olheiras, mas enfim brilhando, se permitiu encostar na parede gelada da solitária começando a rir, então a gargalhar.

"O programa do Governo: Segundas Chances está resgatando milhares de pessoas, provando que todos podem mudar."

O som das botas ia se distanciando e o desespero ia restando, a sensação de que a piada já não tinha mais graça foi consumindo os sentidos de Rafael Pascal, ao qual coçou a tatuagem de palhaço em seu braço, engoliu a seco e olhou para a porta como um vira-lata procurando por seu dono que nunca mais voltaria ao ser abandonado no meio da estrada.

Repetir o comercial era tudo o que lhe restava. Era tudo o que tinha... Ao menos, até as quinze em ponto de amanhã.

"Você teve a honra de ser um dos selecionados para esse Programa! Você pode ser salvo! Nós vamos te salvar!"

- Meu... Psicólogo. 

Eu definitivamente não aguentei tá? 

Queria mostrar como vai ser, para sentirem o pequeno gostinho da desgraça :D

Leu o Aviso? Então você foi avisando.

¯\_(ツ)_/¯