Capítulo 2 - "Perdida na Escuridão"

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A noite fria fazia Lily estremecer enquanto dormia naquela rua e o gato que estava fazendo companhia foi a única fonte de calor e acolhimento naquela madrugada, que estava um pouco sombria para uma criança perdida.

Enquanto dormia, começou a sonhar com seus pais como uma forma do próprio subconsciente oferecer conforto, os três estavam se divertindo enquanto riam da brincadeira de pega-pega.

Lily estava muito alegre e feliz por estar com os dois, chegando até a receber o doce que queria da loja pela mãe dela. Quando comeu, tinha gosto imaginário, já que não sabia o sabor sem ter provado na realidade, então, seu cérebro inventou um. Estava comendo vários com seus pais de uma maneira animada.

Enquanto comia, olhou para o lado e tinha o mesmo gato laranja a observando fixamente... deu um pouco de calafrio. Quando percebeu seus olhos mudarem para um tom vermelho, desviou o rosto e encarou o doce um pouco surpresa, percebendo uma mudança. Antes, estava rosa, e agora estava aos poucos ficando preto em uma textura pegajosa que dava repulsa só de olhar. Havia apodrecido em um instante. Acabou soltando imediatamente com nojo e cuspindo para fora os doces que tinha colocado na boca. Enquanto limpava a língua, olhou para a mãe e o pai dela que pareciam continuar comendo mesmo após a mudança, a expressão facial deles mudaram cada vez mais para uma raivosa e sem paciência enquanto continuavam comendo, isso começou a assustar um pouco.

As paredes, que antes eram brancas, mostraram um fundo estampado com gatos laranjas que também foram escurecendo, ficando com os olhos vermelho. Agora pareciam estar virando sombras de pessoas a encarando enquanto formavam um mesmo rosto. Lily estava confusa com o que estava acontecendo, tendo um forte sentimento de terror crescendo, o que começou como um sonho feliz e agradável estava aos poucos se tornando um pesadelo feito especialmente para si. Sentia um calafrio enquanto estava sendo observada não só pelas novas sombras na parede... mas também outra coisa que a enxergava como presa.

"Mãe...? Pai...?" - Lily hesitou enquanto os chamou, eles ainda comiam aquele doce e escorriam pelos seus lábios como uma gosma fedorenta. Seus rostos pareciam se deformar um pouco, exagerando a expressão de raiva e desprezo. Lily sentiu agonia de até apenas os encarar.

"Eu disse para se comportar! Por que temos que gastar nosso tempo em uma coisa tão inútil como te procurar?" - O pai dela falou com a expressão deformada evidente, fazendo Lily se surpreender com a agressividade repentina e recuar um pouco enquanto a figura na parede formada por sombras parecia sentir satisfação.

Os dois ficaram alterados quase como se alguém os controlasse e cada vez mais seus rostos faziam parecer uma pessoa estranha, como se estivessem mais semelhantes com o rosto formado pelas sombras das paredes. Começou a dar uma sensação sufocante de falta de ar enquanto aquele olhar parecia mais intenso... alguém estava brincando com ela... nunca tinha visto um tipo de desprezo tão cruel e pesado, aquela expressão terrível parecia estar em tudo! Paredes, teto, chão, nos pais dela... além da pressão que sentia, as palavras que falavam também a machucaram bastante em sua mente e psicológico, como se algo a tivesse batido com força, martelando seu crânio.

"Não vou atrás de uma criança inútil." - A voz de sua mãe soou distorcida e, de repente, ouviu risos cruéis daquela pessoa que não reconhecia mais nem como a própria mãe... aquilo com certeza não era ela.

A gosma preta escorria dos lábios de ambos de uma forma podre, como um veneno sujo com cheiro fétido que chegava até a respingar. Não conseguia olhar por muito tempo aquela aparência medonha. A falta de ar ficou mais forte quando encarou as sombras da parede e percebeu um sorriso. Sentiu algo começar a estrangular seu pescoço, a deixando em completo desespero.

Apesar da mãe dela ser ríspida, sempre a deu muito carinho e amor, mesmo quando se distraiu com o pai antes. Porém, agora, estava tão assustadora que parecia ter sido possuída por uma entidade maligna, junto ao seu pai que nunca fez nada de mal e apenas tinha a tratado como a pequena princesa dele.

Lily: "No Caminho para Casa"Onde histórias criam vida. Descubra agora