Capítulo 1 – 17/03/2024
Oito meses antes
O principal passatempo dela a partir daquela lúgubre noite se tornaria caçar. Consistia em rastrear o alvo escolhido após obter as informações básicas necessárias acerca da rotina dele e, depois, em vigiar o indivíduo selecionado pacientemente o máximo que pudesse em seu tempo livre, em especial durante o período em que ela não trabalhasse. Em geral estimou que levaria dois ou três finais de semana para mapear os locais frequentados por ele até que se sentisse plenamente satisfeita, o que considerava tempo razoável para pôr em prática tudo que desejava. E, finalmente, aconteceu.
Sempre com roupas escuras além da máscara, das luvas e do capuz, a mulher de estatura um tanto elevada caminhava com autoconfiança às imediações do barzinho no qual o homem que seguia estava com alguns amigos a beber tranquilamente enquanto jogavam sinuca, às proximidades da avenida Azenha. Afinal de contas, depois de tudo que descobriu a respeito da conduta violenta dele, nada poderia salvá-lo do lúgubre destino que o aguardava.
Ela não tinha a menor pressa para fazer o que pretendia após obter todas as informações que julgou necessárias acerca do comportamento dele. Afinal de contas, a noite estrelada recém surgira. Podia observar o entorno e se esconder nas sombras a fim de que não fosse vista. As pessoas ao redor se mostravam tão ocupadas em beber e em curtir o restante do domingo na companhia de seus amigos, que sequer se questionavam quem era ela ou por quais motivos estava ali.
Como o boteco ficava perto da residência em que o alvo dela morou anteriormente à notificação judicial, a única coisa que precisava fazer era segui-lo a pé assim que ele deixasse o local. Para executar o plano que tinha em mente, tudo que a mulher necessitava era vestir luvas e máscara, com a finalidade de que não deixasse quaisquer pistas à polícia, o que ela fizera ao deixar o apartamento em que morava.
Nada podia nem ia dar errado. E ela sabia perfeitamente que sairia tudo dentro dos conformes, porque tinha certeza de que nascera para fazer exatamente o que se propôs. A maioria da população podia dizer o que quisesse quando viesse a descobrir toda verdade através da imprensa, ela não se importava nem um pouco com isso.
A consciência dela estava tranquila porque, se os órgãos judiciais não cumpriam o papel que deveriam desempenhar em prol da segurança dos menos favorecidos, ela agia no intuito de realizar algo eficaz o suficiente para eliminar um mal maior da face da Terra, em especial da cidade em que agora se encontrava há mais ou menos seis meses.
Olhou para a hora em seu relógio de pulso. Passava das dez e meia da noite quando o alvo dela deixou solitariamente o boteco em direção à casa em que ele jamais deveria cogitar entrar. Porém, por brechas inadmissíveis, a lei falha de um país no qual injustiças ocorriam aos montes, especialmente nas localidades menos abastadas, permitiu que o homem em questão sentisse coragem para almejar fazer o que pretendia, ou ao menos assim ele pensava.
Entretanto, quando estava a poucos metros da residência que pertenceu a ele durante os 15 longos anos em que conviveu com sua esposa Mariana e com os dois filhos do casal, o ajudante de pedreiro Luiz Eduardo sentiu um forte golpe acertá-lo pelas costas.
Como havia bebido demais o homem cambaleou e caiu ao chão, no entanto a queda não foi o suficiente para que ela se afastasse dele, para que voltasse atrás em seus propósitos ou até mesmo para que o deixasse viver. Não. A mulher jamais permitiria que alguém tão asqueroso como ele saísse impune.
Atingiu-o com dois fortes socos no rosto – sendo um dos golpes no queixo –, que o mantiveram na mesma posição. O homem sequer gemia de dor, porque estava bêbado o bastante para se sentir capaz de reagir às agressões ou até mesmo de pedir por auxílio. Mas mesmo que ele continuasse deitado passivamente, em uma postura de clara rendição, ela não parava de castigá-lo.
Experimentava satisfação plena ao escutar o som de cada osso do rosto dele se quebrar, para que instantes mais tarde, ela pudesse segurá-lo pelo pescoço em um misto de raiva e de força, com a finalidade de arrastá-lo por alguns metros e de bater repetidas vezes a cabeça dele no meio fio até matá-lo.
Antes de fazer isso, porém, percebeu que ele abriu os olhos de maneira agonizante apenas para tentar encará-la embora o rosto dele estivesse completamente sujo de sangue, fato que a levou a retirar a máscara que ocultava sua identidade. Ela não via nenhum problema em que ele a visualizasse, porque o homem jamais olharia para outra pessoa depois dela e, portanto, não teria a oportunidade de entregá-la a ninguém.
— Meu Deus... É você... — Ele balbuciou surpreso, reconhecendo-a de imediato.
— Sim, sou eu, seu pedaço de merda. — Ela apenas respondeu com a expressão séria, antes de voltar a agredi-lo.
Luiz Eduardo fez o melhor que pôde para rolar pelo chão imundo e cheio de lixo da rua sem movimento algum no intuito de escapar dos golpes desferidos por ela, sem conseguir compreender por que era agredido de maneira tão brutal.
Pensou em gritar por ajuda, mas não conseguia sequer abrir a boca, principalmente depois de ter praticamente todos os seus dentes quebrados, o que o horrorizava. Ele sabia, então, que era o fim. Só não entendia por quais motivos uma pessoa que havia encontrado em duas ou no máximo em três ocasiões seria o último rosto que ele veria na penumbra de uma noite que, de repente, havia ficado mal iluminada e mais sombria que de costume.
A passos largos ela se afastou, deixando-o estirado como se fosse apenas um objeto sem importância, tão logo teve absoluta certeza de que ele sangraria até morrer. Havia começado a caçá-los e só pararia quando todas as pessoas ditas de bem pagassem pelos crimes cometidos, os quais a lei não os sentenciou.
Não se importava em ser presa depois de tudo, desde que fizesse o que precisava. O jogo tinha começado e nada nem ninguém a faria parar até que terminasse. Afinal de contas, os policiais da cidade não conseguiriam encontrá-la nem sequer seriam inteligentes o bastante para descobrir que ela havia sido a autora do assassinato em questão, o que muito a satisfazia, porque quem daria as cartas, em um perigoso jogo que conhecia do início ao fim, seria ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
À Flor Da Pele
General Fiction⚠️ HISTÓRIA PARA MAIORES DE DEZOITO ANOS ⚠️ Uma série de assassinatos fará com que a policial Kaplan, recém incorporada ao DHPP como inspetora, acabe imersa em um perigoso jogo de gato e rato com alguém que imagina sequer conhecer, enquanto busca pi...