Prólogo

84 34 169
                                    



Prólogo



No início de mais uma noite de clima agradável, o bar que se situava na quadra seguinte ao Palácio da Polícia em que Genevieve Kaplan trabalhava estava particularmente lotado, fato que era perfeitamente normal para uma sexta-feira enluarada. Depois de um dia exaustivo de investigações em que novamente tudo que ela obtivera tinha sido resposta alguma, a mulher ruiva de cabelos curtos, que vestia uma polo preta e um jeans desbotado, só conseguia pensar em beber algo que a fizesse se esquecer do quão fracassada se sentia.

Diversas pessoas – em sua maioria colegas dela do sexo masculino e jornalistas –, salientavam que ela não seria a mais indicada para conduzir as investigações, porque os referidos crimes cometidos ao longo dos últimos meses se tratavam de assassinatos brutais e complexos. No entanto, o delegado Adriano Prado confiava plenamente não apenas no instinto dela, como também na perspicácia de Júlio César, parceiro de Kaplan há alguns anos, tanto que os dois tinham sido promovidos juntamente aos cargos ocupados por ambos no DHPP.

Assim que adentrou o estabelecimento comercial, a policial se sentou a um banco e respirou fundo. Retirou o celular do bolso da calça ao ouvi-lo tocar e ignorou a terceira chamada consecutiva de dona Fátima, sua mãe. Não se sentia pronta para lidar com um vasto questionário no momento, até porque tinha maior facilidade ao indagar, não ao responder e, como não tinha dúvidas de que diversas coisas seriam perguntadas, não se mostrava nem um pouco disposta a enfrentar um interrogatório familiar. Em seguida leu uma mensagem de seu irmão gêmeo, George Lucas, que afirmava já estar a caminho com o objetivo de que conversassem, tal qual havia sido pedido por ela horas antes.

Tão logo guardou o telefone e pediu uma cerveja ao garçom, olhou para o lado direito ao notar alguém se aproximar de uma mesa a certa distância. Genevieve não sabia dizer por quê, mas algo na recém-chegada a deixou completamente hipnotizada e imediatamente atraída.

— Senhora... Aqui está sua bebida.

Escutou a voz um tanto irritada do garçom instantes mais tarde e se limitou a acenar com a cabeça em concordância ao segurar a latinha e o copo com alguma firmeza, embora não desviasse seus olhos verdes dos castanhos da misteriosa e imponente mulher que continuava de pé no lado oposto do bar, os braços dela ainda cruzados em frente ao peito como se apenas observasse o entorno. Mal sabia Kaplan que a pessoa em questão já fazia parte de sua vida de maneira inimaginável, mesmo que acreditasse que não se conhecessem pessoalmente, por estarem a certa distância uma da outra.

Levou o copo aos lábios após se servir e sorveu o líquido devagar. Sentiu que tinha dificuldade para engoli-lo porque, estranhamente, cogitou que estivesse a ser observada. Quando voltou seus olhos na direção em que havia olhado instantes atrás, deparou-se com a mulher corpulenta a encará-la de maneira nem um pouco discreta de cima a baixo, fato que a levou a se remexer desconfortavelmente no banco do bar.

Geralmente sabia muito bem identificar quando alguém a fitava de modo predatório, exatamente devido à profissão que exercia. Agora, no entanto, tudo que Kaplan conseguia sentir era frustração. Afinal de contas, a mulher um tanto forte que a olhava sustentava uma expressão misteriosa e indecifrável no rosto, o que a incomodava e, ao mesmo tempo, inexplicavelmente a atraía.

À Flor Da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora