Capítulo 7 - 29/04/2024 - Madrugada

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Capítulo 7 – 29/04/2024 - Madrugada


Para ela, o interessante de ter a oportunidade de trabalhar em um lugar movimentado era o fato de conseguir ouvir histórias variadas sobre diversas pessoas e, então, de poder decidir auxiliar quem realmente precisava se livrar de homens violentos. Esse se tratava do real esporte praticado por ela, gostassem disso ou não. A mulher não se preocupava tampouco se importava com o julgamento alheio quando viessem a descobri-la – e não se tratava de alguém arrogante nem prepotente; sabia que cedo ou tarde seria descoberta porque, apesar da maioria dos policiais do departamento sequer desconfiarem dela ou a apontarem como uma provável suspeita, tinha absoluta certeza de que chegaria o dia em que a inspetora Kaplan desconfiaria e, nem que quisesse, poderia fugir disso.

Entretanto, até lá, a mais alta tinha de fazer tudo que fosse preciso para tornar a vida de algumas pessoas o mais livre possível. A missão dela era essa e não poderia se eximir, não quando ela presenciou, em seu ambiente de trabalho há exatos dois dias, um homem que se dizia pai de uma menina de 17 anos praticamente arrancá-la pelos cabelos do local em que a forte mulher ministrava suas costumeiras aulas de musculação, como se o fato de a jovem estar a treinar ali trouxesse algo de nocivo à vida da filha dele. O sujeito, então, gritou, em alto e bom som, mesmo que o dono do estabelecimento tentasse de tudo para acalmá-lo, que se eles insistissem em atender menores de idade sem a permissão dos pais, levariam um processo.

Aquilo foi o bastante para que ela buscasse saber mais a respeito dele, inclusive ao ir à rua em que a família residia no intuito de conversar com alguns vizinhos sobre o comportamento do homem, o qual estava longe de ser bom, foi o que disseram.

Mas os proprietários da academia se mostravam tranquilos, porque praticar exercícios físicos não era ilegal tampouco criminoso e, como a adolescente havia comparecido junto a sua mãe para realizar a matrícula, sequer deram importância às vazias ameaças do homem ridiculamente alterado que, à fraca luz da lua da madrugada de mais uma segunda-feira, a imponente mulher seguia a uma distância segura, a fim de surpreendê-lo no momento certo.

Quando dobraram em uma rua pouco movimentada que ficava perto de um beco escuro às proximidades da residência dele, ela acelerou o passo e atravessou para o mesmo lado em que ele andava, encarando-o pelas costas com atenção crescente. Entretanto, o homem sequer imaginava quem poderia ser. Ele pensou, ao girar nos calcanhares, que se tratava de um assaltante e por esse motivo sacou o revólver que tinha em sua posse.

No entanto não foi capaz de fazer absolutamente nada, porque o violento murro que o atingiu no nariz o fez bater a cabeça com brutalidade no chão duro de cimento e, mesmo que ele se reerguesse logo depois para tentar procurar a arma que havia voado com a força do golpe, outro potente soco o acertou no queixo e o fez tombar uma vez mais.

Visivelmente perdido devido à vertigem que o acometeu, o sujeito se sentiu completamente à mercê da pessoa mascarada que impiedosamente o golpeou uma, duas, três, quatro, cinco vezes, sem se importar com o sangue que corria das feridas dele. O homem gritou em profundo desespero por duas ocasiões quando escutou o som de veículos às proximidades, no entanto não conseguiu proferir mais nada instantes depois, porque a sequência de murros era agressiva demais para que permanecesse desperto.

Ela o matou principalmente com duros golpes no rosto e na cabeça e se afastou a passos rápidos, sem se preocupar em ser vista. Embora a imprensa já noticiasse com certo sensacionalismo acerca de um assassino em série que surrava suas vítimas, como jamais cogitariam se tratar de uma mulher, ela não via nenhum problema em retirar a máscara assim que se sentou no banco da motocicleta. Também tirou as luvas totalmente sujas de sangue e, após guardar tudo em uma mochila e ligar o veículo de duas rodas, saiu noite afora sem deixar vestígios nem digitais, ao mesmo tempo em que refletia o quanto gostaria que somente uma pessoa soubesse por que ela fazia aquilo tudo.

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