Óbice de um indivíduo - Ato 1

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Às 7:30 da manhã, eu acordei. De forma sistemática e rápida, fiz minha rotina. Me preparando para ir à escola, minha mãe diz para eu ter cuidado no caminho, e eu respondo "claro que terei, Fernanda" saindo de casa. Enquanto andava pela rua, eu me perguntava o motivo de ter chamado minha mãe pelo nome. A caminho do ponto de ônibus, uma família de moradores de rua composta por um casal, uma criança e a mulher ainda estava à espera de mais um. O homem segurava um cartaz, que nele havia escrito "Por favor, me ajudem a comprar comida para meus filhos!" em minha visão, era algo completamente patético. Não consegui sentir pena deles, mas de alguma forma sentia que talvez eu pudesse futuramente estar na pele daquele homem. Por causa desse sentimento de misericórdia, decidi entregar o dinheiro que usaria para o lanche na escola exatamente R$15,00. O homem me agradeceu e eu apenas balancei a cabeça e continuei a andar até o ponto de ônibus. Algo me incomodava, a dúvida de eu não ter chamado minha mãe de mãe ainda estava em minha consciência. Esperando por fim, o ônibus chegou, só tinha uma cadeira disponível, cadeira essa que sentei. O tempo foi passando e mais pessoas entravam no ônibus que, por sua vez, já estava lotado. Até que entrou uma senhora de idade, nenhum dos que estavam sentados, incluindo eu, se levantou para ela sentar. Então, uma jovem que estava em pé se irritou e começou a fazer um barraco, dizendo que as pessoas não tinham vergonha na cara. A idosa, que quase não tinha força para se segurar em pé, disse estar tudo bem e que não precisava desta confusão. Eu observei tudo sem mexer um músculo, até que um homem se levantou e disse que a senhora poderia sentar no seu lugar, pois estava perto do seu ponto. Então, vendo isso, passei a me questionar por qual motivo não me levantei e se o que eu tinha feito era mau, assim cheguei à ideia de que mesmo se não fizermos nada, estaremos fazendo o mau. Lembro-me assim de uma frase que ouvi de minha mãe em algum momento de minha vida: "mundo jaz no Maligno" Cheguei ao meu ponto, caminhei o rosto do caminho até a escola, cheguei no horário de 12:58. Entrando em minha sala, sentei-me no canto da sala, isolado dos outros alunos. O tempo foi passando e as aulas seguiram de forma normal até o intervalo. Alguns colegas se aproximaram de minha pessoa e começaram a falar coisas como que algum jogador de futebol se separou da esposa e que ele a traia. Eu não queria participar dessa conversa e apenas fazia piadas sem graça para que eles se calassem e naturalmente se afastassem de mim. Do meu ponto de vista, essas conversas inúteis, os outros de minha idade correndo, fazendo barulho, eu, com o passar do tempo, passei a imaginá-los como primatas em minha mente. O professor de química passou uma atividade na qual falou ser necessário dar nosso máximo. Eu fiz apenas o mínimo para tirar uma nota média, fui visto como um aluno burro pelos meus colegas que achavam que dar seu máximo em algo fútil era legal. Com essa atividade, algo novo surgiu em minha mente. Até quando o necessário é realmente necessário? E essa pergunta, junto ao incômodo, ficou em minha cabeça até o final das aulas. Voltando para casa, a janta estava pronta. Minha mãe disse "Boa noite, filho" Eu queria ter respondido a chamando de mãe, mas era como se me faltasse o ar para dizer essa palavra, então apenas disse "Boa noite" comi e depois fui dormir.

O vazio de uma existênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora