Capítulo I

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A terra úmida repousava pesadamente na superfície frontal do baú mórbido de madeira polida que agora era guardião do corpo do meu marido

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A terra úmida repousava pesadamente na superfície frontal do baú mórbido de madeira polida que agora era guardião do corpo do meu marido.

Na tentativa crua de entender a morte, ou pelo menos tentar acalentar as dores que me embalavam em seu berço de impotência e desespero, eu me vi ainda mais aturdida e envenenada pela inconformidade quando, por fim, eu vi o caixão despencando vagarosamente em seu destino final.

O choro incessante causava-me soluços dolorosos e o aperto no peito parecia nunca ter fim. Ajoelhei-me no chão frio, implorando para que ele voltasse e que tudo não passasse de um pesadelo tosco.

Com a voz embargada e o rosto queimando sob as lágrimas que derramavam-se por minhas bochechas, eu sussurrei um eu te amo sincero, porque, embora eu jamais houvesse o amado de modo romântico, sempre amei o homem justo e carinhoso que ele era.

Em meio aquele caos de sentimentos torturantes, senti uma mão repousar em meu ombro, tocando-me de um jeito carinhoso, carinho este que esbanjava uma clara intenção de me transmitir conforto e alento. Ergui o rosto vagarosamente, encontrando um rapaz de olhos marejados e cabelos revoltos.

ㅡ Meu irmão partiu e agora encontrou a paz que ele não sentia há tempos, Katerine. - falou de modo cuidadoso.

ㅡ Eu s-ei. - murmurei, sem forças. ㅡ Mas dói tanto saber que não o verei m-mais.

ㅡ Eu entendo a sua dor, afinal, jamais me conformarei também. - ele sussurrou, a voz embargada pelo choro. ㅡ Estarei aqui para o quê você precisar.

ㅡ Obrigada, Benjamin.

Ele se afastou um pouco e logo um grito lamurioso fez-se presente no cemitério, um som que me escapara quando percebi que tudo havia acabado. Bruce deixava apenas as lembranças e uma falta irremediável. Seu túmulo agora era decorado por coroas de flores e lágrimas de quem guardaria um luto respeitoso.

Horas mais tarde, a carrugem que me esperava do outro lado do portão de ferro, fôra ocupada também pelo irmão do meu falecido marido e a minha dama de companhia, esta que soluçava e tentava interromper o percuso de suas lágrimas com o dorso da mão.

O choro que parecia querer me sufocar havia sido substituído por um sentimento irreconhecível que espalhava-se por minhas veias, deixando-me impenetrável e congelada dentre um mar revolto de dor e angústia. E tudo se tornara ainda menos suportável quando cheguei na casa em que vivemos por anos e fui puxada para o mundo real. Um mundo que me privaria de tê-lo ao meu lado.

O casarão parecia também chorar a perca de Bruce; O vazio aparentava ser pesado e gélido. As janelas fechadas não seriam abertas durante um tempo memorável e eu viveria o luto mais rígido.

Em silêncio, subi o lance de escadas, segurando firmemente o corrimão para não fraquejar durante o percurso. Andei pelo corredor e busquei forças para abrir a porta de madeira do quarto que fôra nosso desde a cerimônia matrimonial que nos unira. Depois de minutos de hesitação, consegui abrir a porta.

CLOSER - Versão original [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora