09 | Criaturinhas imorais

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Vivienne Barbieri

Eu estava agonizando.

Era como se eu estivesse mais consciente do que nunca de cada um dos meus membros, de cada centímetro de minha pele, porque tudo doía.

A dor era tanta que ofuscou minhas memórias quando acordei em um lugar desconhecido, e me perguntei se ainda estava sonhando — ou tendo pesadelos — quando latidos zuniram em meus ouvidos. Pisquei os olhos repetidas vezes para me acostumar com a forte iluminação, e logo entendi que estava em um quarto, embora não tivesse ideia de como tinha ido parar ali.

Era espaçoso, embora simplório. Eu estava em uma cama de casal king com lençóis cinzas de seda, e havia um ventilador de teto em cima de mim ligado aparentemente na potência máxima. Tinha um guarda-roupa embutido e a entrada do banheiro à direita e uma escrivaninha cheia de papéis e dois computadores à minha esquerda.

O único vestígio familiar que captei para identificar o dono do quarto foi o cheiro. Hortelã e nicotina. Estava impregnado na roupa de cama.

O odor doce fez com que meu corpo entrasse em estado de alerta quase que de modo imediato, e não demorei a me lembrar por completo de tudo que acontecera antes de apagar. O Niflheim. Grego. O brutamontes. E enfim... Haziel.

O que diabos tinha acontecido? E por quanto tempo?

Sentei-me subitamente, e só quando me movimentei que percebi que havia uma agulha intravenosa em meu pulso. Eu estava recebendo soro e, provavelmente, algum medicamento. Eu também vestia roupas que não eram minhas, embora fossem femininas. Se tratava de um pijama de algodão cinza de calor, simples.

O cachorro latiu de novo, e só então percebi que ele estava do outro lado do quarto, sentado e atento, com orelhas em pés, enquanto me observava. Era Odin.

Ignorei-o, embora tivesse sido difícil. Ele era ainda maior do que em minhas lembranças.

Dei-me alguns segundos para respirar fundo e manter a calma. Não adiantaria perder a maldita razão. Eu só perderia ainda mais controle sobre a situação.

Enfim tentei me colocar de pé, mas não consegui de primeira. Minhas pernas não estavam tão doloridas, mas meu abdômen parecia me matar aos poucos toda vez que eu fazia algum esforço. Odin trotou até mim quando sentei-me na cama.

— Sai, sai — murmurei, embora até minha garganta doesse. — Não gosto de animais. Sai.

Ele latiu apenas uma vez, como se pudesse me entender. Qualquer que tivesse sido a resposta, não parecia ser agradável. Talvez ele gostasse de mim tanto quanto eu o fazia em relação a ele. No fim, contudo, ele cheirou meus pés e eu grunhi, brava. Ele apenas me observou.

Levantei minha blusa apenas para me deparar com hematomas em uma mistura horrorosa de marrom com roxo espalhados pela pele. Minha cabeça também doía impiedosamente, e só quando levei os dedos até o topo que percebi que eu tinha levado pontos. Tateei pela pequena região cujo cabelo tinha sido raspado e concluí que a ferida tinha não mais que cinco centímetros.

Já estava com a respiração entrecortada pelo esforço, mas no fim consegui me colocar de pé e arranquei a agulha de meu pulso. Primeiro fui até o banheiro e arregalei os olhos quando me deparei com meu reflexo. Eu estava... tão ruim quanto me sentia.

Minha bochecha direita, embora não tão inchada, estava toda manchada por hematomas. Meu maxilar, onde o homem segurara para bater minha cabeça contra o chão, também estava com a marca de seus dedos. Meu lábio inferior estava rasgado, horrível, e meu cabelo estava embaraçado e sujo.

Não consegui me encarar por muito tempo. Simplesmente dei as costas para o maldito espelho e caminhei até a saída do quarto, mal podendo esperar por me vingar de todos os responsáveis pelo fundo do poço aonda eu tinha chegado.

MagnatasWhere stories live. Discover now