10 | Justificativas plausíveis

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Vivienne Barbieri

Minha cobertura tinha sido saqueada.

Fora Laura que me informara disso primeiro, dizendo que a polícia fora acionada e que estavam fazendo uma investigação minuciosa, uma vez que uma invasão em um condomínio não deveria ocorrer. Eles estavam levando o caso como um roubo orquestrado, o que eu sabia não ser verdade. Theodora estava em segurança.

Grego realmente estava empenhado dessa vez a vir atrás de mim, sabendo que o Niflheim estava mais preocupado com Haziel agora. Eu honestamente não sabia o que pensar sobre essa perseguição que ocorria de maneira não tão discreta. Grego sempre fora movido por seu orgulho, mas também era racional. Esperava o momento certo de agir, mas agora, parecia um pouco apavorado. O mandado da minha morte naquele círculo poderia ter acabado mal para ele de diversas formas; ele provavelmente sabia que Haziel o acusaria para o Niflheim depois. De alguma forma, ele não parecia querer minha morte somente porque eu o traíra. Se fosse apenas isso, ele teria aguardado, planejado melhor.

O pior de tudo era não saber o que eu tinha contra ele.

Mas eu... não tinha nada contra ele.

Quanto mais eu pensava sobre o assunto, sobre as circunstâncias sob as quais tudo ocorrera, mais inquieta eu ficava. A verdade era que eu tinha me metido em uma confusão maior do que eu imaginava e que nitidamente não sabia nem da metade de tudo que estava envolvido. Gringo tinha sido o único a soltar algumas informações para mim, e, de resto, o que eu sabia vinha do dôssie de meu pai, que provavelmente fora levado na invasão do dia anterior, que ocorrera horas após Haziel sair.

Já havia mais de vinte e quatro horas que Haziel sumira, e desde então, Natália estava me vigiando, embora tivesse entendido que eu não estava tão disposta a sair dali após a invasão ao meu apartamento. No momento, aquele parecia ser o lugar mais seguro para estar, para minha completa infelicidade. Mesmo que a contragosto, eu permaneceria até programar meu próximo passo.

Após acordar naquele dia, Natália não se opôs quando eu disse que queria subir para o bar. Na verdade, ela não falara absolutamente nada durante todo aquele período que fora obrigada a estar comigo. Por isso, sem nem tomar café da manhã, subi. O bar estava fechado, e as mesas, postas em cima das mesas. Sentei-me então na banqueta de frente para o extenso balcão depois de pegar o uísque mais caro da prateleira.

O primeiro copo foi o suficiente para amenizar a dor persistente de meu corpo, que não melhorava nem com os medicamentos que Haziel deixara. No segundo copo, enquanto minha garganta queimava, deixei os pensamentos preocupados de lado para ponderar o quanto tinha sentido falta do álcool em meu organismo, embora eu tivesse apenas pouco mais de quatro dias de sobriedade.

No fim, em todos aqueles quatro dias, aquele foi o único momento em que consegui relaxar verdadeiramente.

Natália tinha colocado uma cadeira no chão em uma mesa pouco atrás de mim e se sentado, ainda mantendo seu silêncio irritante. Já inebriada, não foi necessário muito tempo até que eu rompesse a quietude que havia pairado entre nós por muito tempo:

— Sabe, eu quase estou desejando que você volte a me xingar e dizer como queria que eu estivesse morta. Seria menos entediante do que essa sua mudez patética.

Ela não me respondeu, e eu provoquei um pouco mais:

— Vamos lá, não quer discutir nem um pouquinho? O mínimo que você pode fazer é me distrair um pouco já que está ajudando seu chefezinho a me manter trancada.

E quando mais silêncio se fez presente, girei a banqueta em sua direção. Desprezo transbordava dos olhos de Natália enquanto ela me encarava.

— Cansou de me culpar pela sua desgraça, foi? Até que a pirraça de criança não durou muito.

MagnatasWhere stories live. Discover now