Dois

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Sina Deinert

Assim que saio para o corredor está tudo maravilhosamente silencioso.

É o casamento da minha irmã e realmente estou feliz por ela. Porém, ainda sinto dificuldade em me manter para cima, sobretudo nesses momentos sozinha e quieta. Os últimos dois meses foram realmente um saco: minha colega de quarto se mandou e, por isso, tive de me mudar para um apartamento minúsculo. Mesmo assim, extrapolei o que achei que poderia pagar sozinha e fui despedida da empresa farmacêutica em que trabalhei por seis anos. Nas últimas semanas, fiz entrevista em nada menos que sete empresas e não tive resposta de nenhuma delas. E, agora, aqui estou eu, prestes a ficar cara a cara com meu adversário, Noah Urrea.

É difícil acreditar que houve um tempo em que eu mal podia esperar para conhecer Noah. As coisas entre minha irmã e seu namorado estavam começando a ficar sérias, e Jo queria me apresentar à família do Bailey.

No estacionamento da Feira Estadual de Minnesota, Noah saiu do seu carro, com pernas incrivelmente longas e olhos tão azuis que consegui vê-los a dois carros de distância. Ele piscou de modo lento e convencido. Em seguida, olhou diretamente nos meus olhos, apertou minha mão e deu um sorriso torto e perigoso.

Mas então, ao que tudo indica, cometi o pecado capital de ser uma garota que comprou uma porção de bolinhas de queijo. Tínhamos parado logo depois da entrada da feira para bolar um plano para o nosso dia, e eu dei uma escapulida para buscar algo para comer. Quando voltei, Noah olhou para mim, depois para minha deliciosa cestinha de queijo frito, então fez uma careta e se virou, resmungando alguma desculpa sobre precisar encontrar a competição de cerveja artesanal. Não pensei muito naquilo na hora, mas também não o vi mais pelo resto da tarde.

Daquele dia em diante, Noah foi sempre desdenhoso e irritadiço comigo. O que devo pensar? Que ele passou do sorriso à aversão em dez minutos por alguma outra razão? Evidentemente, minha opinião a respeito de Noah é a seguinte: ele pode ir se ferrar.

Vozes surgem do outro lado da porta da suíte do noivo. Ergo o punho e bato na porta. Ela se abre de maneira tão imediata que recuo com susto, prendendo o salto na bainha do vestido e quase caindo.

Noah estende as mãos e facilmente me apanha pela cintura. Enquanto ele me devolve o equilíbrio, posso observar uma leve repulsa tomar conta dele enquanto afasta as mãos e as enfia nos bolsos. Imagino que ele pegará um lenço desinfetante assim que tiver chance.

O movimento chama minha atenção para o que ele está vestindo — um terno preto, é óbvio. Seu cabelo castanho está primorosamente penteado para fora da testa. Digo a mim mesma que suas sobrancelhas grossas e escuras são um exagero, mas elas ficam ótimas em seu rosto.

Realmente não gosto dele.

Sempre soube que Noah era bonitão — não sou cega —, mas vê-lo vestido assim é confirmação demais para o meu gosto.

Ele faz o mesmo escaneamento em mim. Começa pelo meu cabelo — talvez esteja me julgando por usá-lo preso para trás de maneira tão simples —, então olha para minha maquiagem básica — provavelmente ele namora modelos de tutoriais de maquiagem do Instagram — até, por fim, examinar lenta e metodicamente meu vestido. Respiro fundo para resistir à vontade de cruzar os braços sobre meu peito.

Noah ergue o queixo.

— Suponho que isso tenha sido de graça.

E eu suponho que acertar a virilha dele com meu joelho direito seria fantástico.

— Bela cor, você não acha?

— Você está parecendo uma jujuba.

— Ah, Noah!

The unhoneymooners | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora