Era dito desde o primário.
- Nós somos figurantes, frutos da imaginação desfocada e palavras vagas do autor. Não merecemos nome, apenas precisamos agradecer o fato de existirmos, cobrar nomes seria uma desonra.
Honestamente falando, ter uma cena onde aparecia sozinha, mesmo que de costas e olhando para o seu armário era quase um milagre neste mundo de figurantes.
A maioria dos figurantes era criado da multidão. A própria palavra já poderia criar sozinha de 10 á 1000. Claro, dependendo da imagem que se formava na cabeça do autor ao escreve-la. Só aqueles segundos particulares para ela já estavam bons. Não poderia se preocupar com coisas como nomes.
Por isso, quando a menina perguntou qual era o seu nome, e, se não o tivesse, qual gostaria de ter, nossa figurante principal ficou calada.
- Eu me chamo Rose Esor. - A loira de botas sorriu, sentada na cama da figurante. - Bem, eu não sei se é esse o nome que a autora me daria, mas é um nome que eu gostaria de ter.
A outra recuou, apertando as bordas do pijama recém colocado. O cabelo marrom, que molhado parecia negro, do banho que tinha tomado ainda agora a dava um ar de frescor. E sua expressão de surpresa praticamente contrariava esse ar calmo.
- Um... Nome?
- Sim, um nome. Uma junção de sílabas capaz de mostrar toda a sua essência em apenas uma simples palavra. Esta palavra que, quando ouvida, te lembra de todas as coisas maravilhosas que essa pessoa é ou pode ser. Uma palavra vinculada a alguém, que te faz pensar nessa pessoa. Também gosto de pensar que esta palavra faz parte de sua identidade, que, sem ela, você não se sentiria inteiro.
Ouvindo as palavras e refletindo cuidadosamente, a figurante olhou para o teto de seu apartamento, como se estivesse realmente se esforçando para pensar em sua identidade. Ela parecia não estar mais surpresa com a estranha garota invadindo seu quarto e perguntando por um nome. As palavras da garota tinham tirado a sua atenção para essa parte.
Ela estava unicamente pensando em seu novo nome.
- Lilly - Falou repentinamente.
"É a primeira que fala tão rápido." pensou Rose, ainda sem falar nada. Deixaria a recém criada Lilly pensar que mesmo entre as variáveis dessa situação estranha, ela era normal.
- Então - Concluiu alargando ainda mais o sorriso de lado, que parecia não querer mais sair de seu rosto. - Só falta a personalidade.