Descobrindo-se

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Saindo um pouco mais cedo que o normal a pedido de Rose, Lilly se lamentou extremamente por não estar usando uma camada de roupas a mais quando o frio vento da manhã bateu a toda velocidade contra ela e sua bicicleta. A partir de agora, ela estava determinada a prestar atenção na mudança de estações. Já estava quase chegando o inverno não era mesmo?

   Apenas ao reparar nesse momentâneo pensamento sobre a troca de estações fez seu coração acelerar e um sorriso surgir em seu rosto. Quando foi que tivera um pensamento original assim? Até isso poderia ser considerado uma vida um pouco menos normal.

  - Está vendo, nos mal os soltamos no mundo e já temos esses sorrisos idiotas na cara - a garota de botas estalou os dedos antes de caminhar calmamente para a bicicleta estacionada no portão do colégio. 

   Embora seu tom fosse de brincadeira, Lilly se sentiu um pouco ofendida.

   - Rose... - foi a única coisa que conseguiu falar.

   O que exatamente deveria dizer? Como é que personagens deviam se comportar? Bem, personagens agiam de acordo com a sua personalidade, então era só segui-la e...

   Qual era a sua personalidade?

   Vendo o brilho desaparecer momentaneamente dos olhos de Lilly, Rose apressou o passo, passando pelo mar de pessoas que parecia estar em preto em branco. Com as mão erguidas para frente, e se jogando com toda a sua força em diração de sua recém feita companheira, Rose teve uns segundos de desespero um pouco antes de conseguir alcançar Lilly com a ponta dos dedos.

   Mais um pouquinho e ela já se tornaria uma com a multidão, retornando para seu tom em preto e branco original.

   - Lilly! - Sem fôlego, a loira agarrou o braço da companheira e sorriu pra ela. - Vamos para a biblioteca, certo? Tem um monte de gente que você tem de conhecer!

  A outra apenas assentiu, enquanto o brilho ia lentamente voltando para seus olhos.

   Várias perguntas se passavam na cabeça de Lilly, muitas delas se misturando umas com as outras num turbilhão de possíveis respostas. 

   Mas nenhuma parecia certa ser perguntada nesse momento em que era praticamente arrastada por Rose em direção há construção mediana de dois andares que ficava do lado do edifício principal do colégio, como que escorada no canto.

   Olhando para o lado, como que por um instinto estranho, seus pensamentos se desviaram para o personagem principal  que conversava com seu melhor amigo em um dos corredores. Por um momento, eles pareceram trocar um olhar e isso fez Lilly sorrir e acenar a cabeça para o mesmo.

   Sim, ela queria ter uma vida digna de um livro inteirinho que nem eles. Não que fosse querer que, como eu estou fazendo agora, algum autor escrevesse sobre ela e sua amiga Rose, as coisas que fizeram, os momentos e sorrisos que compartilharam e qualquer coisa a mais que fosse vir daqui em diante. Com certeza ela não esperaria que uma autora como eu colocasse ela como personagem principal de uma históra onde a mesma é ainda uma figurante.

    Na verdade, agora unicamente, Lilly estava pensando nas milhões de coisas que eu vou narrar para vocês: de suas aventuras que estavam a vir, dos momentos e sorrisos, das pessoas que iria conhecer. Mas não querendo que alguém a escrevesse vivendo isso. Muito pelo contrário: ela queria viver. Queria ter esses momentos divertidos, para que até nos momentos tristes ela pudesse se lembrar disso e ser capaz de dar um sorriso triste.

   Mas, além de pensar nos momentos em si, ela estava considerando uma coisa que para isso, tinha de se esforçar mais do que nunca

- - - 

   "Será que eu errei ...? " Rose pensava, talvez se preocupando demais. Mas, quando virou para Lilly assim que chegaram na porta da biblioteca, viu uma anormalidade.

   O seu brilho neste momento, já totalmente recuperado, poderia superar o dos personagens principais.


Não Mais Uma Figurante NormalOnde histórias criam vida. Descubra agora