01

67 12 2
                                    

O barulho da chuva é alto, cada gota gorda bate no telhado, no chão, na janela e é como se estivesse lutando para quebrar cada um deles

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O barulho da chuva é alto, cada gota gorda bate no telhado, no chão, na janela e é como se estivesse lutando para quebrar cada um deles.

Você odeia dias de chuva, eles são dias deprimentes e te fazem lembrar de tudo que você gostaria de esquecer.

A carta em sua mão te tira o folego, seus dedos tremem quase sem forças para segurar o pedaço de papel em suas mãos, o ar parece pesado, você respira mas o ar não chega até seu pulmão. Você não sabia no que estava se metendo até estar no meio, a carta apenas mostra isso a você mais uma vez.

O som da porta da frente batendo é o que te faz quebrar o transe, se obrigando a deixar a carta onde estava e tentar se recompor com os poucos segundos que tinha.

Os passos se aproximam da sala, e tudo em você grita para que você se esconda, seus pés não obedecem, o barulho alto da chuva faz tudo parecer mais macabro, e você logo esta de cara com ele.

"Querida, senti sua falta..." Seu marido deixa a bolsa de lado assim que te vê, indo em sua direção. Ele se move com confiança, como um predador que sabe que sua presa jamais escaparia. Você enrijece e coloca um sorriso tenso nos labios, a carta na mesa proxima a você te provoca, como se ela pudesse falar, tentando fazer com que você cometa o deslize e olha para ela.

Seu marido te envolve em um abraço apertado, ele segura sua nuca com força, você se sente um objeto em suas maos. Sem se afastar você envolve seus braços em volta dele, um suspiro tenso sai dos seus labios quando ele fala.

"Acredito que você recolheu as cartas do correio não é?" Ele pergunta com um tom calmo, a voz envolta com um doce enjoativo, te consome por dentro como veneno e te faz ficar enjoada.

"As cartas estão na mesa." Você responde baixo, em um tom sem animo. Voce sabe que ele percebeu seu comportamento estranho, mas para sua sorte ele estava de bom humor e não te questionou mais.

"Otimo, que boa esposa eu tenho." Ele se afasta de você e deixa um beijo em seus labios antes de ir em direção as cartas.

Você o observa por alguns minutos antes de limpar os labios disfarçadamente na manga da camisa. Seu corpo parece menos tenso agora que ele esta um pouco mais longe.

"Vou preparar a janta, querido." Forçando as palavras para fora você espera uma confirmaçao dele, e assim que a recebe voce quase corre em direcao a cozinha.

O barulho da chuva diminuiu, e logo o único barulho em que você se concentra é o barulho da Tv na sala, e o barulho da faca batendo contra a tábua. Você tenta manter os pensamentos o mais longe que consegue, mas se torna um pouco difícil quando o que você segura é um objeto que poderia matar.

As verduras são colocadas em uma tigela, você ainda segura a faca, parece pesada em mãos, uma olhada para ela e você pode ver a coisa brilhando. Você observa ela por longos minutos, o tempo parece parar até que ele se quebra.

"No que está pensando?" O homem atrás de você segura sua cintura, observando seus movimentos por tras.

Sua mão aperta mais a faca, os nos dos dedos brancos quando você sente todo seu corpo enrijecer e ficar em estado de alerta.

"Nada, estava prestes a te chamar." Você mente, a lingua pesa em sua boca seca, o medo te consome quando voce sente que ele move uma de suas mãos para a sua mão que segura a faca.

"Voce não mentira para mim, não é?" A voz é mais baixa agora e ressoa em seus ouvidos.

"Não...Claro que não" Sua resposta sai em seguida, mais rápida do que deveria. Ele novamente deixa seu deslize passar, uma risada é tudo que ele dá a você antes de sair e ir em direção a mesa.

Voce não olha em direção a ele.

Todas as vezes que você pega em uma faca, você se pega pensando em como seria se você fincasse ela no pescoço dele, do seu marido, o homem cujo você nem mesmo tinha certeza se se chamava David. Até onde você sabe ele poderia ter outros nomes. Observar o sangue escorrer e o rosto dele ficar branco e palido.

Você não sabe como se sentiria sobre isso. Nem sabe se gostaria de saber.

Na manhã seguinte, tudo o que você escuta são passaros cantando. Você agradece quando percebe que David não dormiu junto a você, ele provavelmente saiu assim que terminou o banho.

Ao se sentar na cama, o aperto no peito vem com tudo, o sentimento de que algo estava errado permaneceu com você desde que você leu aquela carta. A escrita a mão só confirmava de que se tratava de algo sério, o nome Las Almas, gravado em cima, você sabia que se tratava de algo ruim. Você se lembra de ouvir David discutir no telefone sobre isso.

Quando mais nova, você era muito inocente para não perceber quem era David, ele se pintou para você como um homem decente, um cara que te daria o mundo. Apenas pra te prender em uma jaula e te tratar como um mero brinquedo. Sua mãe, ela teria feito de tudo para te ajudar se soubesse quem era David, mas a pobre senhora já não tinha mais notícias de você, David fez você cortar os laços com a sua familia, você mudou de pais e nunca mais viu seus pais.

O celular era proibido em casa, a Tv só passava canais específicos, e a casa era isolada, qualquer comunicação que você tinha era monitorada, a empregada que aparecia de vez em quando nunca falou com você, apenas poucas palvras como um bom dia, ou uma despedida rápida. O segurança que ficava na porta trocou poucas palvras com você tambem, ele focou em ser profissional, respondendo as suas perguntas de maneira curta e sem muitas brechas para que você perguntasse mais.

Você percebeu que a situação estava fora de controle tarde de mais, agora tudo que você podia fazer era olhar para seu passado e culpar seu antigo eu por ser tão cega.

Você aceitou que não havia chances de sair a muito tempo. E com isso a única coisa que te restou foi cuidar da casa, perder tempo lendo livros bobos que estavam espalhados pela sala, e cozinhando coisas diferentes.

Sua rotina nunca mudou.

Isso foi até aquela tarde. A tarde em que toda sua vida muda.

A caveira na imagem anexada nesse capitulo pertence a @ Mcmorthern no Twitter.

The Deaths Haunts Me || Simon Ghost RileyOnde histórias criam vida. Descubra agora