Capítulo 03

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Como adiantei alguns capítulos no fim de semana, decidi ir atualizando algumas vezes ao longo dessa semana. Não esqueçam de comentar!!

Uma observação: essa história se passa em uma realidade onde não existe preconceito com relacionamento de pessoas do mesmo sexo (Como deveria ser em qualquer realidade).


XXX


Faye entrou mancando na cozinha de sua casa na manhã seguinte, com um imobilizador na perna e um curativo cobrindo a testa. Sua mãe, parecendo cansada, levantou-se da mesa quando ela entrou, dando uma olhada em sua filha antes de se virar para a pia. Faye suspirou e se sentou à mesa, pegando um garfo e girando-o entre os dedos.

"Sabe, mãe, minha perna está doendo muito hoje. Eu não acho que posso ir a lugar nenhum."

A Sra. Malisorn girou em torno da pia e deu um suspiro. "Talvez eu deva ligar para o seu pai."

"Não." faye disse com firmeza, ganhando um olhar de desaprovação da mãe. "Eu não vou falar com ele, de jeito nenhum."

"Isso precisa parar entre você e ele. Você não pode fazer isso. Você deveria ter um pai."

A mais jovem apenas continuou a se concentrar no movimento do garfo em sua mão, como se fosse a resposta para todos os seus problemas.

"E se eles expulsarem você?" Sua mãe disse, mudando de assunto.

"Dang não faria isso." Faye respondeu, com confiança.

"Por que não?"

"Porque nada aconteceu na escola." Faye deu à mãe um sorriso genuíno e reconfortante, para o qual a mãe revirou os olhos.

"Não sorria para mim, isso não vai te tirar disso."

"Por que não? sempre funciona." Faye disse com um olhar angelical no rosto.


XXX


Faye acomodou-se no banco ao lado da mãe, seus olhos fixos no reverendo Apsara enquanto ele discursava do púlpito à frente da igreja. Era um lugar familiar para elas, sempre ocupando as fileiras centrais, como se fundindo com a multidão. Naquele dia, porém, algo era diferente. Uma sensação incômoda de ser observada pairava no ar, como se olhares invisíveis a acompanhassem.

"Vamos agradecer hoje porque uma jovem vida foi salva por nosso Senhor. E vamos orar pelas vidas dos outros envolvidos que claramente não estão no caminho da retidão." O reverendo disse, então olhou para cada um dos adolescentes que estiveram envolvidos no incidente da noite anterior; Dara, Lux, Kaew, Chai, Naga e depois Faye. Cada um deles se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira sob o olhar de julgamento do reverendo. E lá se vai o passar despercebida, Faye pensou, coçando a testa.

Ao sinal do reverendo, o coro à sua direita ergueu-se em um só movimento, suas vozes harmoniosas se entrelaçando no cântico familiar. Faye desviou o olhar para Dara, que observava a cena com um ar pensativo. Desde a noite anterior, silêncio pairava entre elas, mas Malisorn não estava ansiosa, ela não podia ignorar a pequena parte dela que se sentiu ligeiramente abandonada por Dara. Na verdade, ela sentia o mesmo pela maioria dos outros também.

Faye ansiava por escapar daquele lugar. Inquieta, moveu-se na cadeira, buscando refúgio em seus pensamentos. Seus olhos, cansados da monotonia da cerimônia, finalmente pousaram no coro. Em meio aos rostos familiares, um par de olhos castanhos a prendeu. Olhares se cruzaram, um encontro silencioso e inesperado. Eram os olhos de Yoko Apsara, que a observavam com uma intensidade que a deixou sem fôlego.

O suéter marrom que ela usava no dia anterior havia desaparecido, substituído por um elegante vestido branco que a integrava ao coro. Uma boa escolha, Apsara, pensou Faye. Os olhos de Yoko ainda a fitavam, um olhar que a surpreendia e intrigava ao mesmo tempo. A filha do reverendo emanava uma aura de autoconfiança que a deixava perplexa. Sem dúvida, Yoko era definitivamente filha de seu pai. De repente, Yoko desviou o olhar, rompendo o silencioso duelo visual, e fixou-o em suas próprias mãos.

O coro silenciou, deixando apenas a voz de Yoko ecoando na igreja. Seus olhos, antes fixos no maestro, agora se encontravam com os de Faye em um dueto silencioso. Malisorn, em outras circunstâncias, se sentiria incomodada com essa atenção, mas a voz de Yoko era... interessante, se você apreciava aquele estilo musical. Um aperto inexplicável no peito a invadiu quando Yoko desviou o olhar por alguns instantes, mas Faye logo voltou a se concentrar na cantora.

Na sua visão periférica, percebeu o contorno de Dara se virando na cadeira para observá-la. Faye estava quase retribuindo o olhar, quando os olhos de Yoko a capturaram novamente. Ignorando a namorada, que logo retornou sua atenção para a frente, Faye se entregou à melodia suave.


XXX


Era segunda-feira de manhã e, apesar de seus melhores esforços para adiar o inevitável, Malisorn se encontrava de volta à escola. Ela se acomodou em uma pedra no gramado da frente, cercada pelo grupo habitual. Observava o mundo passar, quando uma morena, que reconheceu da aula de educação física, se aproximou e a saudou com um sorriso convidativo. Sem hesitar, Faye retribuiu o gesto, o que provocou uma tosse falsa de Dara, que se sentou ao seu lado na pedra, segurando as muletas de Faye. Kaew, Chai, Naga e Lux completavam o círculo ao redor da pedra.

"Então, como está a perna, amiga?" Lux perguntou.

"É uh, está bem." Faye encolheu os ombros.

"Eu não posso acreditar que você foi para a cadeia." Disse Chai, aplicando um pouco de base.

Mais uma vez, Malisorn encolheu os ombros.

"Então, o que você disse a eles?" Lux perguntou.

Faye observou Naga com atenção, notando que ele apenas dava um gole ocasional em sua lata de Coca-Cola. Seus olhos, fixos no nada, demonstravam um desinteresse evidente pelo que ela havia passado.

"Ah, eu acabei dizendo que estava uma boa noite para um passeio e acabamos indo para a fábrica de cimento, encontramos a Marissa, você sabe, eu tentei ajudá-la, fiquei um pouco assustada, então achei que deveria ir embora antes que alguém pensasse que eu tinha alguma coisa a ver com isso, então corri."

"Confesso, amiga, você é digna do título de Mestra Jedi da mentira", disse Lux, balançando a cabeça com admiração e incredulidade. Uma onda de risos percorreu o grupo, e Faye se deleitava com a atenção, exibindo um sorriso arrogante. Dara a observava com um sorriso meigo, mas Faye não encontrou forças para retribuí-lo.

"Caramba, essa Yoko Apsara com certeza tem estilo." Chai falou, sarcasmo escorrendo em sua voz.

Todo o grupo se virou para olhar para Yoko, que estava saindo do estacionamento, caminhando em direção à escola e cuidando da própria vida. Ela estava carregando uma caixa cheia até a borda com coisas, e Faye não podia deixar de se admirar com a força e a tenacidade da garota. A caixa parecia desafiar a gravidade, mas Yoko a carregava com leveza.

"Sim, eu usava aquele vestido na quarta série." Dara acrescentou.

"É com os quietos que você tem que tomar cuidado, eu aposto que a Yokozinha tem um lado safado." Lux disse sugestivamente, fazendo todo mundo rir, exceto Dara que parecia pessoalmente ofendida com o comentário, por algum motivo.

Lux continuou: "Um tapa no visual e ela ficaria linda."

Yoko se aproximava, e quando a distância permitiu, Dara ergueu a voz:

"Belo suéter." Ela disse para a garota, uma falsa doçura escorrendo de sua voz.

Yoko parou de andar; claramente surpresa que alguém estivesse falando com ela.

"Obrigada", disse ela com um sorriso tímido. A doçura em sua voz, Faye percebeu, era inegavelmente genuína. Isso fez com que Malisorn a encarasse e Yoko retribuísse o olhar. Faye podia ouvir Lux reprimindo as risadas com dificuldade, e então Yoko se afastou do grupo. Assim que ela sumiu de vista, todos caíram na gargalhada, exceto Dara, que ainda observava Yoko com curiosidade.



A Walk to Remember - FayeyokoOnde histórias criam vida. Descubra agora