Não sei se é certo dizer que o mundo está mais fodido do que nunca, ou eu que estou. Só sei que naquele momento eu e o Paulo corríamos para salvar nossas vidas, pensando mais naquela noite do que no resto das nossas vidas.
Entramos correndo em uma loja de móveis e trancamos a porta com um pedaço de madeira, mas aquelas coisas lá foram já tinham nos alcançado e já faziam um barulho enorme do lado de fora.
Eu tropeçava em quase tudo, porque a minha maldita lanterna resolveu falhar logo depois de colocar a madeira na porta, sorte a minha que Paulo ao ouvir o desastre iluminou o meu caminho até ele e consertou a minha lanterna - as pilhas tinham acabado!
Nós sabíamos que era questão de minutos até aquela horda adentrar a loja, então tínhamos pouco tempo e poucas opções da onde nos esconder. Sim, esconder! Porque tentar lutar contra aqueles mortos-vivos seria uma missão suicida e nenhum dos dois estava com vontade de morrer aquela noite.
O que me fez lembrar que antes do mundo ser tomado pelos zumbis, nossas vidas estavam encaminhadas. Tínhamos recém comprado uma casa e estávamos com o casamento marcado. Casamento esse que nunca aconteceu, porque mais da metade dos nossos convidados estavam mortos ou querendo um pedaço da gente. Aliás, como será que está minha mãe lá em São Paulo? Ela se mudou para casa da minha tia antes disso tudo acontecer. Não gosto nem de pensar no que aconteceu com elas, mas espero que elas estejam bem, seguras.
Ops! Me perdi nos pensamentos, onde eu estava? Ah sim, procurar um lugar para nos esconder. Olhei para uma mesa antiga (e muito bonita diga-se de passagem), dessas que possuem um "esconderijo" no meio, como se fosse um armário, não sei se me fiz entender. Tipo a mesa que o presidente dos Estados Unidos tem ou tinha (sei lá) na sala dele, para se esconder em caso de atentados à Casa Branca.
- Amor, o que você acha da gente deixar nossas mochilas em um canto e nos escondermos ali dentro? - perguntei ao Paulo.
- Ótima idéia! - respondeu.
Escondemos nossas coisas em uma gaveta chaveada e corremos para nos esconder dentro da mesa. Minutos depois foi possível ouvir a horda entrando aos montes pela loja. Eu só me dei conta do tanto de zumbis que havia atrás da gente, quando a mesa começou a balançar.
Um fato importante que esqueci de mencionar antes: os zumbis tem muita dificuldade para enxergar, mas por algum motivo (desconhecido para mim), eles ouvem muito bem e são rápidos (por isso a gente estava correndo, entende?).
A cada balançada meu coração pulava e as lágrimas escorriam, eu já estava vivendo naquele inferno a pouco mais de 2 anos, e nunca me acostumei. Não tem como, quem se acostuma a viver assim, quando a sua sentença de morte está a um muro de distância, ou nesse caso a uma parede grossa de madeira? Eu sabia que se não fosse pelo Paulo, eu já seria um deles há muito tempo. Por isso, toda vez que a gente se encontrava em uma situação dessas, eu tinha 99% de certeza que era a minha hora, que meu tempo sã ao lado do meu amor havia acabado.
Então Paulo pegou uma das minhas mãos trêmulas e a beijou, enquanto a sua outra mão enxugava as minhas lágrimas, naquele momento pensei que tudo iria ficar bem, que nós iríamos ficar bem. Até que meu pensamento foi interrompido com a mesa caindo para frente e aquele barulho dos corpos caindo uns sob os outros em cima dela.
Mesmo não conseguindo enxergar a feição de Paulo, eu sabia que ele também estava com medo, pois sua mão apertou a minha com força e assim ficou por uns minutos até percebemos que a mesa não se desmontaria e que agora sim estávamos seguros de verdade, mas não tínhamos como sair, porque a porta agora estava no chão e as nossas costas estavam nela.
Não restava mais nada agora, além de esperar o dia amanhecer e aquelas coisas irem embora, adormeci nos ombros de Paulo pensando que aquele descanso era merecido, pelo dia de hoje e também pelo dia que será amanhã.
Afinal, o que mais poderia se fazer dentro daquela mesa, meio à escuridão?
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Apocalipse Zumbi: Minha História.
AdventureEssa história é narrada em primeira pessoa em um mundo condenado pelos seres humanos e dominado pelos zumbis. Quer sobreviver? Siga o meu conselho: CORRA! (This story is told in first person in a world doomed by humans and dominated by zombies. Want...